ESCOLHA A ESCOLA DO SEU FILHO

É importante saber o estilo de ensino desenvolvido no colégio

Adotadas para orientar as ações de uma escola, as metodologias definirão como a criança e o adolescente serão ensinados. Elas vão desde a forma mais criativa até a mais rígida

Talita de Souza
postado em 24/10/2021 06:04 / atualizado em 26/10/2021 11:13
 (crédito: Editoria de Arte)
(crédito: Editoria de Arte)

Na hora de escolher uma escola, é importante saber que o estilo de ensino desenvolvido ali é norteado por uma linha pedagógica — pensamentos teóricos criados por especialistas educacionais que são seguidos por instituições de ensino de acordo com o objetivo de cada uma delas.

O assunto pode parecer estranho, já que no Brasil é comum observar um único estilo de ensino. Isso se dá porque, no país, duas linhas foram difundidas massivamente: a construtivista e a tradicional. “Normalmente, nas séries iniciais, as escolas optam pelas linhas construtivistas. Elas são mais interacionais, valorizam a autonomia, para atrair a criança e colorir mais o ensino”, resume Eugênio Cunha, psicopedagogo e doutor em educação.

É por esse motivo que as salas dessas séries são dispostas com letras do alfabeto nas paredes e outros desenhos. A própria criança, estimulada pelo professor, começa a associar o conhecimento e a aprender. “As linhas montessoriana e Waldorf se enquadram nas construtivistas, porque ambas também estimulam, só que de maneira maior, a autonomia da criança.”

Já o método tradicional é visto nos últimos anos do ensino fundamental e, principalmente, no ensino médio. “Essa linha é conteudista, ou seja, o conteúdo vai à frente. Ela se baseia na memorização, em guardar as fórmulas e as respostas dos problemas. Ela foi adotada porque os últimos anos de ensino preparam para vestibulares, então, é importante que o aluno não se afaste da formação que a sociedade espera que ele tenha”, diz Eugênio.

Há ainda outra linha adotada por algumas escolas brasileiras que querem oferecer aos pais um ensino disciplinador. É a comportamentalista. “Baseada no Behaviorismo, da psicologia comportamental, que também desaguou na educação, essa linha visa mudar os comportamentos e, a partir disso, estabelecer um novo modo de agir no aluno”, define Eugênio. “Escolas que adotam essa linha são muito rígidas, com muita ordem, exigem disciplinas e mudam o comportamento do aluno pela nota ou por sanções. Não que isso seja ruim, mas é uma forma de agir.”

Oposta à comportamentalista, a linha freiriana, baseada no ensino de Paulo Freire, vê riqueza no comportamento e nas vivências dos estudantes. “O aluno traz conhecimento, capital cultural e vida social para a escola. A linha freiriana afirma que não se pode desprezar isso. Pelo contrário, é possível utilizar as experiências para o ensino formal”, afirma. Na prática, o aluno é instigado pelos professores a aplicar o ensino no cotidiano dela. “Esse princípio pode ser utilizado em qualquer época do ensino e em qualquer lugar.”

Eugênio Cunha afirma que, apesar de distintas, não é a definição das metodologias que determinará a efetividade do ensino e, sim, o perfil do aluno. “O que eu acho mais importante para saber qual é a escola ideal do seu filho são as características do próprio, os gostos e os ideais. A escola tem que ter essa conexão com os propósitos e os sonhos da criança”, afirma Eugênio. Outro ponto importante é se há uma conexão entre colégio e família. “Muitos não facilitam o contato com a direção e a coordenação. É importante estabelecer a parceria, porque é junto que se constrói a formação do aluno.”

Raio-X das linhas pedagógicas

Construtivista
» O construtivismo foi inspirado pelos pensamentos do psicólogo Jean Piaget (1896-1980) e afirma que a curiosidade levará o aluno a encontrar as respostas a partir dos próprios conhecimentos, da interação com o ambiente em que está e com outras pessoas. Emilia Ferrero, seguidora de Piaget, aplicou o método para a aprendizagem da leitura e da escrita e concluiu que a criança pode se alfabetizar sozinha, basta que o ambiente em que ela esteja ofereça o estímulo para ter contato com letras e textos. Na prática, o aluno é provocado por atividades, desenhos e ligações de letras do alfabeto pelo professor, que é apenas um mediador.

Montessoriana
» Parte da linha construtivista, a montessoriana também estimula os alunos a descobrirem a realidade e a aprenderem pela prática e pela observação. O método desenvolvido pela educadora italiana Maria Montessori, no século 20, reúne atividades motoras e sensoriais, não apenas teóricas, no aprendizado. As salas de aula são compostas por até 20 alunos, e as crianças devem escolher a atividade a ser feita. Apesar da liberdade, para avançar no ensino, a linha define módulos obrigatórios para garantir o conhecimento e ir para as próximas fases dos estudos.


Waldorf
» Diferente das outras linhas, as turmas não são definidas em séries, mas em ciclos de sete em sete anos, com início na idade 0 (recém-nascido) até os 21 anos de idade. A proposta do filósofo austríaco Rudolf Steiner, ao criar a linha, em 1919, é de que a imaginação seja estimulada, a criança tenha liberdade no aprendizado e a família seja participante ativa. Um tutor fixo deve avaliar as crianças por cada etapa; ele as avaliará por meio de anotações em cada aula. No primeiro ciclo, de 0 a 7 anos, a linha busca o desenvolvimento integral da primeira infância, principalmente com uso de trabalhos manuais e corporais. Brinquedos são protagonistas. Apenas a partir do segundo ciclo a alfabetização é iniciada.

Freiriana
» Bom senso, humildade, respeito, tolerância e curiosidade são princípios da linha inspirada nos pensamentos do educador e patrono da educação brasileira Paulo Freire. Nela, o aluno é protagonista e deve ser ouvido pelo professor para que o ensino seja customizado, de alguma forma, para facilitar a aprendizagem. As experiências dos alunos antes da escola são valorizadas e utilizadas no processo de ensino. Além disso, mais do que memorização e conteúdo, a educação, na visão de Freire, deve ser uma forma de libertar o aluno para transformá-lo em uma pessoa melhor que, consequentemente, mudará o mundo.


Tradicional
» Uma das mais difundidas do Brasil, prevê um estilo de ensino em que alunos se formem intelectual e moralmente pela escola, que é vista como o canal oficial de transmissão de conhecimento. Na sala de aula das escolas que adotam este método, a hierarquia é importante e deve ser seguida, sendo o professor a autoridade máxima. É conhecida por ser conteudista, com a disposição de diversos conhecimentos, os quais os alunos devem apreender e memorizar para conseguir sucesso nas avaliações — e nos vestibulares —, principal modelo de medição de aprendizado utilizado pelas instituições que adotam a linha.

Comportamentalista
» A linha foi resultado do movimento comportamentalista, fundado pelo psicólogo John B. Watson. O principal objetivo é substituir comportamentos entendidos como prejudiciais para alunos e a sociedade por novas formas de agir, dessa vez positivas. Para isso, é comum o uso de regras rígidas, manutenção da ordem e punições. Parecido com a linha tradicional, professores, no modelo comportamentalista, são os protagonistas e detentores do conhecimento, e criam recompensas para que os alunos avancem no ensino.

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