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Tecnologia está cada vez mais presente na sala de aula

As ferramentas tecnológicas passaram a ser uma realidade nas escolas. Educadores apostam que elas serão usadas mesmo após a pandemia

Thays Martins
postado em 24/10/2021 06:11 / atualizado em 25/10/2021 15:34
Lucas Machado:
Lucas Machado: "A escola precisa adaptar a instrução para o momento atual, que é diferente do que era no passado" - (crédito: Fundação Lemann/Divulgação)

Por quase dois anos, os estudantes se depararam com uma nova realidade: o ensino mediado por tecnologias. Os desafios foram gigantes. Com a volta das aulas presenciais, todos os conhecimentos adquiridos neste período ficaram de herança para serem incorporados como ferramenta para o aprendizado.

Pelo menos 73% dos educadores dizem que, após a pandemia, utilizarão mais tecnologia no ensino que antes, segundo pesquisa feita pelo Datafolha, encomendada pela Fundação Lemann. De acordo com Lucas Machado Rocha, gerente de inovação da Fundação Lemann, isso só mostra como não há como escapar do mundo digital. “É um momento de virada, muitas redes utilizaram a tecnologia durante o fechamento das escolas, mas ainda não é um modelo ideal.”

Renata Capovilla, Google Innovators e fundadora da Íntegra Educacional, ressalta que, neste momento de volta, as escolas passam por adaptação. “A tecnologia é inserida na base em muitas competências, então, veio para ficar”, afirma.

Para ela, um dos principais aprendizados tem sido preparar os professores para desafios. “A gente não pode deixar para se preparar só quando houver a necessidade. A formação do professor precisa ocorrer durante toda a vida acadêmica dele. Um legado que a pandemia deixou é que os educadores podem continuar se preparando mesmo estando no presencial. O professor compreendeu que a tecnologia é uma aliada se usada da maneira correta”, ressalta.

Esse jeito certo de usar, segundo ela, passa pelo conhecimento das ferramentas e o entendimento de que a tecnologia é o meio, mas nunca o fim. “O professor tem que pensar no que ele quer atingir, nos objetivos. Aí, ele vai pensar em estratégias a serem utilizadas. Sempre pensar em como o aluno pode ser protagonista desse uso”, analisa.

Para Sônia Barreira, diretora pedagógica da Bahema Educação, o pós-pandemia é formado por diferentes pontos de chegada em relação a tecnologias, mas como muitas iniciativas que só puderam ser experimentadas devido ao momento. “Essas experimentações começaram a ser testadas porque o engajamento não estava fácil. É uma porta que se abriu e que vai tornar mais fácil”, completa.

De acordo com Wendel Freire, doutor em educação pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e autor dos livros Educação midiática e tecnologia e educação: as mídias na prática docente, os desafios que existiam no presencial continuaram a existir no virtual e voltam neste momento. “O retorno não pode ser um mero híbrido, mas uma ressignificação do presencial. A grande questão é como engajar os alunos”, salienta.

Para isso, ele diz que as soluções precisam ser pensadas não só pelos gestores, mas, sim, com quem convive diariamente com os estudantes. “As ferramentas utilizadas precisam ser decididas com a equipe que está próxima, porque os gestores decidem sem estar no chão da escola. Os professores, certamente, aprenderam como chamar a atenção para as aulas.”

A linha tênue


A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que crianças de até 4 anos só devem ficar até uma hora em frente às telas. Portanto, é preciso equilíbrio. “A internet pode ser usada em todas as faixas etárias e não será prejudicial, desde que o professor tenha consciência do que está usando. Eu preciso conhecer muito sobre essa ferramenta. Não é só escolher e dar para o aluno”, explica Renata Capovilla.

De acordo com Sônia Barreira, é necessário saber os limites desse uso. “A intoxicação das crianças é promovida pelas próprias famílias. Se a tela está na hora da alimentação, está errado. O problema não é a tela em si, mas o que ela traz para a criança. As tecnologias não devem desaparecer, mas ser usadas com muita consciência”, destaca.

Formação plena


Neste mundo tão conectado, é necessário que as crianças sejam ensinadas sobre como utilizar essas ferramentas de forma saudável. “A escola precisa adaptar a instrução para o momento atual, que é diferente do que era no passado”, afirma Lucas.

Para Sônia, o colégio deve fazer o papel de instruir os alunos para viver no mundo atual. "O currículo tem que ser bem pensado de acordo com as idades, trabalhar com fake news. A escola precisa ter consciência de que mundo eles farão parte e prepará-los para essa realidade."

Wendel salienta que o caminho para uma educação midiática é longo e necessário. "A gente tem essa ideia de que eles dominam a tecnologia, mas eles precisam aprender a fazer o uso reflexivo. Precisa ser trabalhado criticamente os meios de comunicação e as ferramentas digitais", afirma.

  • A intoxicação das crianças é promovida pelas próprias famílias. Se a tela está na hora da alimentação, está errado
    A intoxicação das crianças é promovida pelas próprias famílias. Se a tela está na hora da alimentação, está errado" Sônia Barreira, diretora pedagógica da Bahema Educação Foto: Bahema Educação/Divulgação
  • O retorno não pode ser um mero híbrido, mas uma ressignificação do presencial. A grande questão é como engajar os alunos
    O retorno não pode ser um mero híbrido, mas uma ressignificação do presencial. A grande questão é como engajar os alunos" Wendel Freire, doutor em educação pela Universidade Federal Fluminense Foto: Arquivo Pessoal

Desigualdades

Um dos desafios é a grande desigualdade no país. Menos da metade das escolas brasileiras tem internet considerada adequada pelos profissionais. Com a pandemia, essas diferenças ficaram ainda mais evidentes. "Se a gente não atacar o problema da conectividade, esses benefícios só vão servir a alguns estudantes", destaca Lucas Machado Rocha. Apesar disso, ele vê avanços alcançados durante a pandemia, como a aprovação de leis e debates dentro das instituições políticas. Para combater essas desigualdades, o gerente de inovação da Fundação Lemann ressalta a importância de não tratar todos como se fossem iguais. "É preciso fazer um diagnóstico e elaborar estratégias para os diferentes tipos de aluno."

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