Olimpíada

Professora de Planaltina é destaque na Olimpíada de Língua Portuguesa

Mayra Almeida e os alunos do 5º ano venceram a categoria Poema. Esta é a primeira vez que a rede pública de ensino do DF alcança esse destaque

Arthur Vieira*
postado em 15/12/2021 19:44 / atualizado em 17/12/2021 23:02
 (crédito: Arquivo Pessoal)
(crédito: Arquivo Pessoal)

A professora Mayara Almeida e a turma de 5º ano da Escola Classe Monjolo, de Planaltina, são vencedores da 7ª Olímpíada de Língua Portuguesa, na categoria Poema 5ª ano. A conquista foi um marco importante para a rede pública de ensino. Desde 2008, nenhum docente tinha sido selecionado nessa categoria. A competição reconhece o trabalho de educadores e estudantes no ensino da leitura e da escrita no cenário nacional.

A professora Mayara começou a ensinar na Escola Classe Monjolo este ano e teve que participar da Olimpíada de Língua Portuguesa, pois a competição faz parte do projeto pedagógico da escola há algum tempo. Ela conta que, no início, teve receio de que não daria certo, principalmente, por conta do ensino remoto, uma vez que boa parte da turma nem tinha acesso à internet. Mas aceitou o desafio. Ela montou uma força-tarefa para conseguir celulares, computadores e uma rede de internet para os alunos e, assim, tocou o projeto ao longo do ano. Foram realizadas 47 oficinas com as turmas do 5º ano para escrever os poemas, todas de forma on-line. “Os estudantes e os pais ficaram muito envolvidos. Todas as ações foram filmadas de forma muito natural e conseguimos fazer um trabalho bem legal”, disse.

Este ano a Olimpíada trouxe como tema “O lugar onde moro”. O desafio da professora Mayara foi conseguir fazer os alunos se aproximarem e se identificarem com o tema, pois os alunos moram na zona rural e não conheciam os pontos turísticos de Planaltina ou de Brasília e não tinha como fazer passeios por conta da pandemia. Ela lançou mão do programa Parque Educador. “ Visitamos Planaltina e Brasília de forma virtual”, disse.

À medida que as aulas passavam, a vontade dos alunos ia crescendo cada vez mais, e Mayara sempre enfatiza o fato de como houve um grande progresso nesse período, e do quão importante é essa conquista tanto para ela quanto para a escola em si: “É inacreditável saber que conquistei esse prêmio e que minha escola está ganhando notoriedade, e que meus alunos serão eternizados no cenário nacional. O que fica é uma sensação de superação”, admite.

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. (foto: Arquivo Pessoal)

As aulas duravam de quatro a cinco horas, uma rotina que a professora confessa ser cansativa. Mesmo assim, eles se empolgavam e ficavam estimulados por conta da premiação, que é um leitor digital e um tablet para os estudos; e como sua metodologia envolvia uma linguagem que se aproximava das crianças, o estímulo ficava cada vez maior ao longo do tempo. Mesmo ao fim do processo, quando Mayara enviou seu relato de Prática, os alunos continuaram escrevendo, mostrando como eles se aproximaram da escrita. “Eu vejo ali possíveis futuros escritores, sim”, afirma. Uma de suas alunas, inclusive, teve sua poesia adaptada para um curta-metragem que ganhou notoriedade no Distrito Federal, chamado Na cor da pele.

A Olimpíada é uma iniciativa do Itaú Social e é coordenada pelo Cenpec. A competição reconhece os trabalhos de turmas do 5º ano ao 3º ano do ensino médio das escolas públicas de todo o país. As produções são divididas nas seguintes categorias:

  • Poema - 5º ano
  • Memórias Literárias - 6º e 7º anos
  • Crônica - 8º e 9º anos
  • Documentário - 1º e 2º anos do Ensino Médio
  • Artigo de Opinião - 3º ano do Ensino Médio

A edição da Olimpíada este ano teve algumas mudanças em relação às anteriores. Nas etapas semifinais de cada categoria, por exemplo, além das atividades formativas e culturais terem sido realizadas no formato remoto, elas contaram com a participação dos professores e de toda a turma, enquanto nas anteriores apenas um representante da turma e o professor(a) participavam. Por conta disso, a Olimpíada obteve uma participação recorde na etapa, tendo mais 2.370 estudantes e mais de 200 professores. O evento ainda fez uma medida de inclusão nas inscrições para escolas com nível socioeconômico baixo, para oferecer mais oportunidades aos estudantes e docentes destas escolas de usufruírem do evento.

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. (foto: Arquivo Pessoal)

Essa etapa é uma das mais importantes de todo o evento, é onde a Olimpíada chega ao estágio nacional e promove o encontro de escolas de vários cantos do país. Os Encontros de Semifinalistas, como são chamados os períodos em que as turmas de cada categoria se encontram, duram quatro dias e foram realizados entre os dias 13 de outubro e 12 de novembro. Nesses encontros, tanto síncronos quanto assíncronos, os estudantes fizeram diversas atividades de fomento à leitura e à escrita, tais como: leituras conjuntas, debates, rodas de histórias e momentos de produção individual ou em grupo, dentre algumas outras. Além delas, os Encontros contaram com palestras de grandes nomes da literatura brasileira, como Ailton Krenak, Carol Bensimon, Jarid Arraes e João Wanderley Geraldi.

Cláudia Petri, coordenadora de Implementação Regional do Itaú Social, mostra que as mudanças foram significativas para o programa. Essas trouxeram muita luz para o trabalho do professor, principalmente na implementação do Relato de Prática, que foi algo implementado este ano na Olimpíada. “A Olimpíada vai muito além do prêmio em si, ela serve também como um complemento à formação dos alunos e dos professores”, conta.

Ela ainda reforça o cooperativismo e a participação das turmas como um todo como essenciais na edição da Olimpíada deste ano. Petri considera, inclusive, como um “concurso não só competitivo, mas sim formativo”. Ela revelou que, na próxima edição, a Olimpíada contará também com cursos e programas que auxiliarão na formação como um todo dos professores que participarem dos programas, como uma forma também de manter o caráter educacional desta iniciativa em todos os aspectos, sendo de fato uma política pública em favor da educação.

Tereza Ruiz, integrante da equipe do Programa Escrevendo o Futuro, conta que a proposta pedagógica desses encontros a distância foi um “convite ao convívio sensível com a leitura, a escrita e o outro. Além de oferecer um ambiente virtual organizado, funcional, intuitivo e bonito, contemplando também a dimensão estética, que é importante para uma experiência afetiva”. Ela ainda relatou ter visto os estudantes se identificarem e se emocionarem nos momentos de trocas de histórias e experiências, o que diz bastante sobre os benefícios que um evento como este pode proporcionar aos alunos e professores destas escolas, e o quão importante é ter este convívio e esta experiência.

 

*Estagiária sob supervisão de Ana Sá

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