Embora os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) de 2022, divulgados nesta terça-feira (5/12), apontem que o Brasil manteve desempenho estável, entidades ligadas a educação brasileira ressaltam que os índices ainda estão baixos e que é preciso avançar para garantir qualidade. Segundo a Todos pela Educação (organização não governamental e sem fins lucrativos), os impactos da pandemia de covid-19 "neutralizaram" uma possível melhoria do país na avaliação internacional.
"Após melhorias importantes durante as edições dos anos 2000, em particular considerando que nesse período o Brasil ainda estava finalizando um processo de universalização de acesso (o que dificulta a melhoria de médias de proficiência), o Brasil está com resultados estagnados no Pisa há 10 anos. O agravante: estamos estagnados em patamares absolutamente baixos. Mesmo que uma possível melhoria nos dados de 2022 estivessem 'encomendados', os patamares brasileiros são inaceitáveis", frisa a organização.
No entanto, a ONG também elencou alguns avanços que vinham sendo conquistados: a expansão da jornada escolar, maior foco na alfabetização, instituição da base nacional comum curricular e fortalecimento do Fundeb . De acordo com a organização, é necessário adotar um projeto educação nacional com visão a longo prazo, a fim de obter melhor desempenho no próximo Pisa, que será realizado em 2025.
"Ainda que a pandemia possa ter influenciado negativamente o resultado de 2022, o coordenador do Pisa, Andreas Schleicher, enfatiza que, no mundo todo, a busca pelas 'causas' dos resultados precisa ir muito além da pandemia. Caso do Brasil. E aí há muito trabalho a ser feito. No centro da estratégia, dois investimentos estruturais que possuem grande efeito sistêmico: primeira infância e formação inicial de professores", destaca a organização.
Segundo o relatório, 73% dos alunos não alcançaram patamar mínimo de aprendizagem em matemática, 50% não conseguiram em leitura e 55% em ciências — índices menores que a média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A edição de 2022 do Pisa é o primeiro estudo em grande escala com dados sobre como a pandemia afetou o desempenho de estudantes ao redor do mundo. A última rodada da avaliação internacional foi realizada em 2018.
A superintendente do Itaú Social, Patricia Mota Guedes, observou que o Brasil foi o país onde as escolas passaram mais tempo fechadas por causa da covid-19, contabilizando 279 dias. "Mesmo nesse cenário, o país apresentou notas bem próximas do que foi registrado no pré-pandemia, o que pode ser atribuído ao empenho de determinados professores e da comunidade escolar. No momento, o desafio é confirmar a tendência de crescimento na aprendizagem e, como alternativa para essa proposta, está a implementação do Sistema Nacional de Educação, que integrará as políticas e ações educacionais da União, Estados, Municípios e Distrito Federal", afirma a especialista.
Fatores socioeconômicos
Em coletiva de imprensa, nesta terça-feira (5/12), o diretor de educação da OCDE, Andreas Schleicher, citou que há "brechas socioeconômicas" na educação brasileira. "O Brasil é um país onde claramente é visível que as escolas em locais mais pobres têm menos professores e recursos materiais. Atrair professores para esses lugares é muito importante", diz. Nesse sentido, a coordenadora do Observatório de Pesquisas em Educação e Cultura da Fundação Itaú, Esmeralda Macana, lembra que os resultados do Pisa revelam as desigualdades presentes no país.
"Mesmo que não haja uma correlação causal direta entre a aprendizagem e a desigualdade de renda no mundo, observamos que o Brasil é um dos países com maior desigualdade de renda e com baixa proficiência em matemática. E dentro do Brasil, as desigualdades entre grupos de renda persistem, como podemos notar que os estudantes de alto nível socioeconômico superam em 77 pontos o desempenho dos estudantes mais vulneráveis", conta a coordenadora.