SUSTENTABILIDADE

Com projeto para PcD, alunos de Brazlândia avançam no Desafio Liga Jovem

Do Centro de Ensino Médio 02 de Brazlândia, equipe produz objetos para deficientes visuais com impressora 3D a partir da reutilização de garrafas pet

Correio Braziliense
postado em 08/10/2024 17:29 / atualizado em 09/10/2024 14:41
Da esquerda para a direita, Karen Elen Nunes de Almeida (professora de projeto de vida), Ana Clara, Gabriel Francisco Fernandes Vieira e Ana Maria dos Santos
 -  (crédito: Kayo Magalhães)
Da esquerda para a direita, Karen Elen Nunes de Almeida (professora de projeto de vida), Ana Clara, Gabriel Francisco Fernandes Vieira e Ana Maria dos Santos - (crédito: Kayo Magalhães)

Victor Rogério*

Um grupo de alunos do 3º ano do Centro de Ensino Médio (CEM) 02 de Brazlândia ganhou visibilidade com um projeto que reutiliza garrafas pet para a produção de objetos que visam auxiliar pessoas com deficiência visual. Os objetos são confeccionados a partir de uma impressora 3D do próprio colégio. Inovadora, a ideia fez com que os jovens fossem aprovados na etapa local e, agora, classificados para a etapa regional do Desafio Liga Jovem, uma competição que reúne ideias criativas do corpo estudantil com o objetivo de transformar a sociedade. A segunda fase teve início nesta terça-feira (8/10).

A iniciativa surgiu após a professora da disciplina projeto de vida, Karen Elen Nunes de Almeida, observar a dificuldade de uma estudante com deficiência visual que não conseguia ter acesso a uma educação adaptada à sua condição. "A Débora é uma estudante muito inteligente e esforçada. Ano passado, eu dei aula para ela de projeto de vida. Ela estava no 1º ano do ensino médio, e um dia eu ia fazer uma dinâmica e pensei: 'Como posso adaptar isso para ela?'. Daí, eu adaptei o jogo em alto-relevo a partir do material EVA”, esclarece.

Assim que saiu o Desafio Liga Jovem, a professora Karen e o estudante Gabriel Francisco Fernandes, 17 anos, viram, na competição, o impulso necessário para colocar a mão na massa e abraçaram a oportunidade. "O Gabriel, que é meu aluno do 3º ano, me convidou para ser orientadora e disse que queria trabalhar com impressão 3D, só que não tínhamos uma ideia específica de como trabalhar. Foi, então, que eu pensei nessa minha situação com a Débora e sugeri ao Gabriel: 'Que tal trabalharmos impressão 3D para melhorarmos a experiência educacional de estudantes com deficiência visual?'. O Gabriel aceitou a ideia e fomos ajustando e desenvolvendo o projeto. Depois, chamamos o Cauã e a Ana para fazerem parte da equipe”, completa a educadora.

Tecnologia: uma aliada da sustentabilidade

Abecedário em braille idealizado virtualmente
Abecedário em braille idealizado virtualmente (foto: Arquivo pessoal.)

Embora ainda em fase de testes, o projeto dos estudantes já conta com alguns protótipos. Entre os modelos, destaca-se um mapa em alto relevo da escola, pensado para que a estudante com deficiência visual pudesse se deslocar sem dificuldades pelo colégio. Paralelamente, os alunos também desenvolveram um abecedário e um calendário táteis para que os estudantes com baixa capacidade visual possam planejar seus estudos do mês e facilitar o processo de aprendizagem. Dessa forma, o foco é que esses objetos funcionem como uma forma de ampliar a educação aos alunos com baixa capacidade visual.

O processo de produção ocorre por meio de impressão 3D, um recurso tecnológico que permite transformar modelos digitais em objetos físicos. Segundo Gabriel Francisco, a confecção ocorre da seguinte forma: a garrafa pet é transformada em uma linha. Na sequência, a linha é colocada dentro de uma pistola de cola quente com o bico adaptado. Assim, a linha feita a partir da garrafa pet é transformada pelo bico da pistola nas dimensões de 0.75mm, ideais para o padrão aceito pela impressora. O tempo de produção vai depender do tamanho da peça a ser feita.

Ainda de acordo com Gabriel, a expectativa é que o abecedário leve em torno de 1h30 a 2h de produção, já que o plano é fazê-lo nas dimensões de 20x15cm. “Então, primeiro a gente cria um modelo tridimensional do objeto desejado. Isso pode ser feito utilizando softwares de modelagem 3D. O modelo criado é convertido em um formato compatível com a impressora 3D. Esse arquivo contém as informações sobre as formas e dimensões do objeto. Depois, a impressora é carregada com o filamento de garrafa pet, que será derretido e depositado em camadas sucessivas para formar o objeto”, explica a professora.

Abecedário em braille produzido pelos alunos na impressora 3D
Abecedário em braille produzido pelos alunos na impressora 3D (foto: Arquivo pessoal)

Expectivativas para o desafio

Orientados pela professora, os estudantes do grupo apelidado de Estrela do Amanhã, nome que simboliza a ideia de um futuro promissor, estão animados com a classificação para a segunda etapa do Desafio Liga Jovem, em 8 e 9 de outubro. A competição nacional é uma iniciativa do Sebrae por meio do Instituto Ideias de Futuro e tem como foco introduzir os estudantes à atividade empreendedora. “Além do impacto nos participantes, os projetos apresentados pelos estudantes são de grande potência e inspiração. Eles trazem perspectivas reais de melhorias para as mais diversas áreas e ficam par a par com muitas startups em um grau mais avançado de maturação. Dão um show!”, afirma Elaine Novetti, gestora do torneio.

Os vencedores da etapa regional receberão como prêmio um smartphone e ainda participarão da etapa final que consistirá em uma missão para São Paulo, de 25 a 30 de novembro, onde os participantes terão uma agenda em espaços de inovação e empreendedorismo, realizando a final no evento Case – Conferência de Startups. As equipes vencedoras da etapa final serão premiadas com um notebook e uma viagem internacional a um centro tecnológico (a ser definido), previsto para ser realizada no primeiro semestre de 2025.

De acordo com Jaciara Cruz, fundadora do Instituto Ideias de Futuro, a segunda edição do desafio obteve um salto de 44 mil inscritos em comparação a primeira edição. Durante as inscrições, foram realizadas palestras e oficinas para mais de 68 mil estudantes de todos os estados brasileiros. Nas atividades da virada empreendedora, o desafio contou com mais de 73 mil certificados de participação emitidos. Nas 100 bancas estaduais on-line, 600 grupos formados por cerca de 3 mil estudantes e orientadores tiveram a oportunidade de apresentar seus projetos para jurados especialistas do mercado. 

Expectativas

Mesmo com a possibilidade de vencer o campeonato, esse não é o principal objetivo dos alunos. Para eles, o mais importante, acima de qualquer premiação, é conseguir levar o potencial do projeto adiante, para que cada vez mais estudantes PcD possam ser devidamente incluídos no ambiente escolar com autonomia e acessibilidade. “A gente fez pensando mais em ajudar outras pessoas. É um pouco complicado de fazer, mas, no fim, tudo isso vai valer a pena. Ganhando ou perdendo, vai ser bom para a gente, para as nossas escolas e para qualquer outro lugar que queira usar a nossa ideia”, afirma Ana Clara, 17 anos, uma das integrantes do grupo.

Com o início do desafio nesta terça (8/10), os alunos estão ansiosos e, ainda assim, com a confiança lá em cima. De acordo com a professora, o evento é uma ótima oportunidade para promover a inclusão social. “Vejo [o desafio] com grande importância, já que a gente tem essa oportunidade de associar a sustentabilidade, a tecnologia e o empreendedorismo justamente para mostrar novas maneiras de experiências educacionais”. Dessa forma, para além da tecnologia e do empreendedorismo, o desafio possui, sobretudo, uma função social, já que estimula a capacidade criativa dos alunos de buscarem soluções que promovam a conscientização e a dignidade humana, plantando, assim, as sementes do futuro. 

*Estagiário sob supervisão de Marina Rodrigues

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