Aos 17 anos, Lanay Kubitschek já carrega no nome a força da história — e na vida, o peso da resistência. Única filha, neta e sobrinha da família, nasceu em Aparecida de Goiânia e viu a infância se transformar com a mudança para o Recanto das Emas, no Distrito Federal. Foi lá que, após a morte do pai vítima da covid-19, ela encontrou a dor do luto, mas também a motivação para transformar uma realidade e a de outras meninas.
Apesar de tantos desafios, Lanay nunca desistiu de ser quem é. E, com apoio dos movimentos sociais, tem se tornado uma jovem cada vez mais consciente, ativa e comprometida com o futuro que deseja para si e para os outros.
A trajetória de Lanay se parece com a de muitas meninas da periferia de Brasília. Famílias com menos recursos, mas com a educação como esperança de mudança. Em 2018, a família se mudou para o Recanto das Emas após o pai de Lanay receber uma promoção. Menos de dois anos depois, ele morreu de covid-19, se tornando a 36ª vítima do Distrito Federal.
“Aquilo foi um choque para a gente. Nunca chorei tanto. Foi o meu primeiro luto, mas eu não sabia que seria tão doloroso”, lembra
Mesmo com todas as dificuldades, a família seguiu em frente. Hoje, Lanay diz sentir orgulho do que tem construído — e sente imensa gratidão pela mãe, que foi seu maior alicerce. “Tenho muito orgulho da minha mãe por ser uma mulher incrível. Ela não desistiu. É uma mulher que admiro, me inspiro e quero ser ao menos 1% do que ela se tornou. Tenho um amor incondicional por ela”, diz, emocionada.
Estudante do Instituto Federal de Brasília (IFB), Lanay se engaja em vários projetos e iniciativas voltadas para meninas, como o Elas na Escola, criado pelo coletivo Elas no Poder, além de fazer parte da comunidade da Campus Party Você partiu meu coração e do projeto científico Meninas na Ciência.
Com uma mente ativa e vontade de fazer mais, em novembro de 2023, ela entrou para o grêmio estudantil e, atualmente, é diretora de Comunicação da União dos Estudantes Secundaristas do Distrito Federal (UESDF).
“Minha mãe sempre esteve ao meu lado, me incentivando e aconselhando. O que sempre escutei dela foi: ‘Se você gosta, é o que importa. Só vai! Mas cuidado’”, conta.
O movimento estudantil, segundo Lanay, é parte essencial da formação. Ela acredita que é necessário lutar por melhorias na educação, mas também entender o que está por trás das mobilizações. “Acredito que os estudantes deveriam primeiro entender como funciona o movimento estudantil antes de adentrá-lo. Ali, podem existir ideias com as quais você concorde ou não. Ter uma visão geral, e principalmente histórica, sobre isso trabalha o senso crítico”
Além do ativismo, Lanay também se dedica aos estudos para o Programa de Avaliação Seriada (PAS), da Universidade de Brasília (UnB), onde pretende cursar design. “Tenho estudado muito, ainda mais com o apoio dos professores da minha instituição. Eles têm me incentivado a seguir meus sonhos, meus objetivos e metas.”
O que move Lanay é o mesmo que motiva tantos outros jovens da periferia: o desejo por transformação e qualidade de vida. Ela quer conquistar seu espaço — e dar à mãe o descanso merecido. “Quero olhar para a minha mãe e vê-la descansando, viajando, sem ter que se preocupar comigo ou com meus irmãos. Ela batalhou. Meus sonhos também não ficam de fora. Quero trabalhar com o que amo, com o que gosto e me dá prazer. Quero viver disso: de coisas que eu amo.”
Além da mãe, outra figura inspira Lanay todos os dias: Elza Soares. Ela conheceu a artista apenas após a notícia de sua morte, mas, desde então, passou a mergulhar na obra e história de Elza. “Elza foi uma mulher muito batalhadora. Suas músicas retratam muitas coisas que acontecem até hoje. São duras verdades, infelizmente, mas mostram realidades do Brasil e do mundo. Para mim, ela é uma guerreira eterna.”
Para outras meninas negras, Lanay deixa um recado de acolhimento e potência: “Sejam mais compreensivas com vocês mesmas. Acreditem na sua beleza. Não se sobrecarreguem. Vocês têm o direito de ocupar qualquer lugar que quiserem — não importa o que digam ou pensem.”
E para a Lanay do futuro, ela escreve com carinho e orgulho: “Independente da resposta, saiba que eu te amo. Sou grata por tudo, principalmente pela nossa resistência. Você é incrível — e também inspira muitas pessoas. Já te falaram isso. Você sabe. Então, não desista dos nossos sonhos.”
