MEC lança relatório sobre escuta das adolescências nas escolas

Pesquisa realizada em 21 mil escolas em todo o país traz dados inéditos sobre as percepções dos estudantes em relação à estrutura atual de ensino e sobre práticas que podem fortalecer a vida escolar

Yandra Martins*
postado em 09/09/2025 20:16 / atualizado em 10/09/2025 16:02
Apresentação do Relatório nacional da semana da escuta das adolescências nas escolas. -  (crédito: Divulgação/Maysa Correa Itaú Social)
Apresentação do Relatório nacional da semana da escuta das adolescências nas escolas. - (crédito: Divulgação/Maysa Correa Itaú Social)

O Ministério da Educação lançou nesta terça-feira (9/9), em Brasília, o Relatório Nacional da Semana da Escuta das Adolescências nas Escolas. O documento reúne dados de 2,3 milhões de estudantes do 6º ao 9º anos do ensino fundamental sobre suas percepções com relação à aprendizagem, ao clima, à convivência, à inovação e à participação no ambiente escolar, além da estrutura atual de ensino e das práticas que podem fortalecer a conexão da escola com a vida cotidiana, a valorização das relações humanas e a inspiração para o futuro da educação.

A pesquisa revela que os adolescentes brasileiros veem a escola como acolhedora, mas só 31% dos mais velhos sentem liberdade para se expressar. Outros dados significativos mostram que  67% dos estudantes de 6º e 7º anos afirmam que a escola apoia seu desenvolvimento intelectual e pessoal, enquanto 28% consideram a contribuição parcial e 4% discordam. Entre os alunos de 8º e 9º anos, a percepção é menos positiva, com 59% concordando, 33% avaliando como “mais ou menos” e 8% discordando. 

No quesito “acolhimento e pertencimento”, 66% dos mais jovens sentem-se acolhidos pela escola, contra 27% que veem a experiência como parcial e 7% que discordam. Já entre os mais velhos, apenas 54% sentem-se amparados; 33% consideram “mais ou menos” e 13% discordam. Essa percepção é reforçada por dados adicionais: 75% dos estudantes de 6º e 7º anos confiam em, pelo menos, um adulto na escola, mas apenas 58% sentem-se verdadeiramente acolhidos por esses adultos. Entre os de 8º e 9º anos, o percentual de acolhimento cai para 45%.

Outras dimensões apontam ainda que 48% dos jovens priorizam disciplinas tradicionais e 31% valorizam o bem-estar. Os dados revelam que 48% dos estudantes mais novos e 38% dos mais velhos consideram que as disciplinas tradicionais ajudariam em seu desenvolvimento para a vida. O estudo evidencia, também, as diferenças significativas entre estudantes em relação às formas de aprender que mais favorecem o seu desenvolvimento. A interação além da escola é a mais valorizada, sobretudo, entre os mais velhos: 45% dos alunos de 8º e 9º anos destacaram visitas, passeios e trabalhos externos, contra 39% dos de 6º e 7º anos; já a interação com a comunidade aparece com 13% em ambos os grupos. As trocas e os debates se sobressaem entre os mais novos, com 35% optando por trabalhos em grupo e 30% por rodas de conversa, enquanto, nos anos finais, esses índices caem para 30% e 20%, respectivamente. 

O que a escola representa para estudantes
O que a escola representa para estudantes (foto: Divulgação/Itaú Social)

A iniciativa do Ministério da Educação (MEC), em parceria com Itaú Social, Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e com a União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), busca entender, sob a perspectiva dos estudantes entre o 6° e o 9° anos do ensino fundamental, o que seria a escola ideal para os jovens. Segundo Patrícia Mota Guedes, superintendente do Itaú Social, a pesquisa revela que “adolescentes querem uma escola acolhedora e envolvente, que verdadeiramente reconheça toda a potência desta fase do desenvolvimento humano.”, afirma Mota.

Telespectadores da apresentação em Brasília
Telespectadores da apresentação em Brasília (foto: Divulgação/Maysa Correa)

A Escuta

Para realizar a pesquisa, foram utilizadas ferramentas adequadas a crianças da faixa etária correspondente à idade escolar durante os anos finais do ensino fundamental, a exemplo de questionários, que continham 13 perguntas, e dinâmicas coletivas. Esses instrumentos abordaram aspectos como perfil dos estudantes, a compreensão deles a respeito da escola atual, conteúdos para desenvolvimento pessoal, atividades essenciais para o futuro, formas de aprendizagem, convivência, participação e atividades extracurriculares. 

A pesquisa contou com o engajamento de mais de 2,3 milhões de estudantes ao redor do país, o que representa 24% dos quase 10 milhões que estão matriculados nessa fase final do ensino básico e público, segundo o censo escolar de 2023. Os resultados enfatizam que as múltiplas experiências vividas na adolescência no Brasil não se enquadram em um único modelo de escola, portanto, a política do Programa Escola das Adolescências, iniciativa do MEC, visa criar condições para aumentar o pertencimento de adolescentes nas práticas escolares, ao dar visibilidade para as expectativas e percepções de estudantes em relação à escola. 

No período de escuta, 4,4 mil dos cerca de 5,6 mil municípios do país tiveram adesão à iniciativa, o que demonstra o caráter democrático dessa mobilização, que tem potencial de promover avanços na redução das desigualdades intraescolares. A maior proporção de participação na escuta ocorreu na região Nordeste, com 30% de engajamento entre estudantes. Em seguida, aparecem as regiões Centro-Oeste, Sul e Norte, com taxas de participações de 28%, 26% e 24%, respectivamente.

Distribuição da participação de estudantes na Semana da Escuta das Adolescências nas Escolas por região do Brasil
Distribuição da participação de estudantes na Semana da Escuta das Adolescências nas Escolas por região do Brasil (foto: Divulgação Itaú Social)

Durante a transmissão do Ministério da Educação realizada nesta terça-feira (09/09), no Seminário Nacional dos Anos Finais, João Robson (17), estudante do Espírito Santo, revela um pouco acerca de sua trajetória nessa fase escolar. Ele pontua a dificuldade nos anos de ensino fundamental, no qual, aos 14 anos, estava iniciando o 6° ano, atrasado em relação aos colegas. Segundo o estudante: “Não é nossa escolha ficar atrasado na escola”. Com isso, ele conclui a importância de programas que elevem a autoestima dos jovens no período estudantil e escutem as verdadeiras necessidades de cada um.

Divulgação da pesquisa

Ao longo da transmissão, também falou a representante adjunta da UNICEF no Brasil, Layla Saad, que afirmou o compromisso da instituição em “promover trajetórias felizes e engajadoras nos anos finais do ensino fundamental e garantir o direito à aprendizagem.” 

Para alcançar o expressivo número de respostas de estudantes e adesão das instituições na iniciativa, o conjunto responsável pela semana da escuta utilizou diversas estratégias de comunicação e divulgação do projeto. Foram realizadas, por exemplo, oficinas de escuta com estudantes e docentes dos anos finais do ensino fundamental. O que foi essencial para assegurar que as atividades, a linguagem e as perguntas propostas fossem pertinentes e atendessem às diversas necessidades dos adolescentes.

Também foram criados materiais informativos sobre a mobilização, que apresentaram o cronograma e detalharam as estratégias adotadas. Entre os conteúdos, peças para redes sociais, cartazes e apresentações de slides cumpriram o objetivo de circulação do programa, além de guias de mobilização específicos para redes e para escolas, juntamente com materiais de apoio para auxiliar as equipes no processo de escuta.  

Exemplos de card de divulgação
Exemplos de card de divulgação (foto: Divulgação/Itaú Social)


 

 *Estagiária sob a supervisão de Ana Sá

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