Por Gabriela Braz
O Centro de Ensino Fundamental 4 de Ceilândia foi selecionado para a final das Olimpíadas Brasileiras de Cartografia (Obrac) e representará a região Centro-Oeste no ano de 2025. A competição é voltada a alunos do 9º ano do fundamental ao ensino médio e trata de estudos cartográficos, mapas e conhecimentos socioculturais.
Com desafios envolventes, o projeto persuade os estudantes e os estimula em várias áreas de conhecimento, como geografia, matemática e história. Os jovens de Brasília são da 9ª série e, junto à professora Vanessa Lopes, educadora responsável pelo projeto, embarcam em uma grande aventura para disputar o pódio no Rio de Janeiro dos dias 17 a 22 de novembro.
A docente Vanessa Lopes, professora de geografia e chefe da equipe, foi incentivada por um amigo da área a se inscrever na olimpíada, e dado o seu interesse por cartografia e amor à sua disciplina, selecionou alunos destaque para realizar a competição que duraria o ano todo. “Os alunos poderem fazer uma viagem com tudo pago foi a minha maior motivação”, menciona a professora Vanessa Lopes.
O trabalho em equipe os levará às praias do Rio de Janeiro, com a possibilidade de voltarem premiados para a capital, a viagem será uma oportunidade de adquirirem conhecimento por cursos realizados pela própria Olimpíada enquanto aproveitam a cidade, a cultura e as atividades. Será uma troca de experiência marcante entre pessoas de outras regiões que também chegaram à final.
Um ano de aprendizado
Após o convite da professora, os alunos Maysa Anahi, Israel Thyago, Davi Souza e Uriel Lima se reuniram a fim de compreender o processo de classificação e entregar os requisitos necessários para chegar à final. A olimpíada está na 6ª edição, com o tema “Por uma Educação Antirracista”, que desenvolve debates acerca das relações entre África e Brasil, racismo ambiental e questões étnicas.
Ela dividida por etapas, que exigem conhecimento em diferentes matérias, criatividade e um trabalho conjunto dos integrantes do grupo. A primeira etapa conteve uma prova avaliativa com 30 questões separadas por nível fácil, médio e difícil, uma fase classificatória em que os alunos deveriam tirar acima de sete para evoluírem ao próximo período. Os próprios estudantes resolveram as questões teóricas enquanto a educadora mediava suas respostas. Havia questões de matemática, com contas de escala e bastante teoria envolvendo educação antirracista.
A segunda parte trabalha o conhecimento espacial. A tarefa consistia na criação de um mapa digital com vídeo dos jovens aplicando seus aprendizados sobre cartografia e a elaboração de um jogo antirracista. A equipe de Ceilândia teve a ideia de montar um mapa evidenciando o racismo ambiental nas cidades, então usaram como base a pesquisa sobre as regiões do DF com maior número de alagamentos e descobriram a falta de infraestrutura em locais de grande número de pessoas negras e não brancas.
O processo de construir o mapa foi desafiador. A pedagoga comenta a dificuldade de encontrar estudos sobre racismo ambiental em Brasília: “Foi desbravador e, após a finalização, pretendemos publicar nossas pesquisas”.
Com o auxílio da Universidade de Brasília (UnB), conseguiram computadores, pesquisas e dados orientados por professor de geografia da própria universidade. Aproveitaram a oportunidade para conhecer o local de graduação de muitos estudantes, produziram relatórios e construíram a ideia do jogo para conclusão da segunda etapa. Essa etapa selecionou os finalistas, e a equipe do CEF 4 de Ceilândia venceu todos os grupos competidores da região Centro-Oeste, garantindo a oportunidade de lutar pelo primeiro lugar.
O caça tesouro foi o jogo de educação antirracista projetado pelos alunos. A brincadeira criada foi um mapa dentro da escola para estudantes do 6 e 7 anos, do fundamental, e, com diversão, os jovens aplicaram conhecimento e puderam ensinar a outros colegas.
A atividade consistia em caminhar em pontos estratégicos da escola, possíveis de observar pelo mapa, e responder a perguntas. Agumas exigiam ferramentas como o Google Maps, que indicariam em que local estaria o grande tesouro: um enorme balde de doces para alegrar as crianças. As perguntas eram relacionadas ao tema da olimpíada. “É muito importante uma olimpíada grande como essa abordar um tema desses (Por uma Educação Antirracista) para criar consciência aos jovens sobre o racismo existente na sociedade”, conclui Maysa Anahii sobre a criação do jogo.
A última etapa os leva para o Rio de Janeiro com viagem, hospedagem e alimentação custeadas, ao lado de quatro equipes de cada uma das regiões do Brasil que alcançaram a primeira colocação regional. Durante esta etapa, as equipes realizarão visitas técnicas a instituições relacionadas ao tema da Obrac, minicursos e aulas na universidade.
As equipes participarão, no Rio de Janeiro, de uma prova prática, a corrida de orientação, e haverá um curso preparatório com treinamento na UFF/Niterói. A nota da prova da corrida será somada à média anterior e a equipe vencedora será aquela com a maior pontuação. Os estudantes e professores serão premiados com medalhas e as escolas, com troféus. Também receberão certificados e menções honrosas, além de experiências enriquecedoras que estimulam o aprendizado. Os oito primeiros colocados de cada escola pública também ganharam bolsa de iniciação científica júnior.
Incentivo ao estudo
A olimpíada interdisciplinar fortalece o vínculo entre professor e aluno enquanto promove o estudo em diferentes áreas. “Muito além da escola, das quatro paredes, a olimpíada abriu os horizontes deles, só de visitarem a UnB falaram sobre estudar na universidade após se formarem”, comenta a professora sobre a importância do incentivo aos estudos por meio de olimpíadas e projetos.
Com os estudos de cartografia, o grupo aprendeu a usar dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o QGIS, um aplicativo para produção de mapas e a forma de conduzir um relatório. Muito além da cartografia, o campeonato educacional impulsionou a criatividade dos jovens, deixando-os livres para pensar, discutir e criar os mapas e jogos, ampliando seus saberes e por meio do trabalho em grupo, promovendo momentos de amizades e conversas.
Motivação dos jovens
A finalização na cidade maravilhosa, o Rio de Janeiro, foi a motivação inicial do grupo para começar o trabalho em março. Porém, os estudantes se aventuraram no mundo da cartografia e descobriram gostos e interesses novos. A visita à UnB foi um momento importante, que gerou expectativas para os estudos. “Descobri o que era bacharelado (ou bacharel), uma palavra que eu achava bonita, mas não sabia o significado. Agora, quero fazer pós-graduação, doutorado, mestrado, tudo!”, afirma Maysa Anahi.
O estudante Uriel Lima também conta como a olimpíada de cartografia ampliou a visão dos outros alunos e as dos próprios participantes, ao enxergarem a variedade de competições realizada no campo educacional. A equipe do DF comenta o desejo de fazer outras olimpíadas futuramente, relacionadas a conteúdos de matemática e de história.
No entanto, relatam os desafios de participar da competição sendo de uma escola pública, questões estruturais e a falta de desenvolvimento tecnológico na instituição afetaram algumas atividades que necessitavam utilizar computadores. A professora Vanessa Lopes desabafa: “Queremos ser profissionais inseridos na era digital, mas, por exemplo, nossa sala de informática está desatualizada, e isso dificultou a realização de uma das provas práticas”.
Agora, na reta final, a educadora prepara apostilas com questões de cartografia e mais uma saída de campo à UnB com o intuito de relembrar programas e conteúdos e os vencedores de Ceilândia se organizam com expectativas altas para disputar o pódio.