Notas abaixo do esperado

Enem 2020: inscritos consideram que há erro na correção da redação

Estudantes têm se mobilizado por meio das redes sociais após se surpreenderem com os resultados disponibilizados pelo inep nesta segunda-feira (29/3)

Mateus Salomão*
postado em 30/03/2021 20:42 / atualizado em 31/03/2021 20:04
 (crédito: Nguyen Dang Hoang Nhu/Unsplash)
(crédito: Nguyen Dang Hoang Nhu/Unsplash)

Inscritos na edição de 2020 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) consideram que houve falha na correção das redações. Na visão dos estudantes, os resultados foram abaixo do que esperavam e não condizem com o histórico de preparação para a prova.

Estudante do 1° semestre de letras da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Lorena Levy Gonzaga, 19 anos, está inconformada com a nota que recebeu. Com a dificuldade de acessar a página do participante, somente teve acesso aos resultados às 9h desta terça-feira (30/3), mas se surpreendeu com o que encontrou.

Tendo participado de outras duas edições do Enem, uma no primeiro ano do ensino médio e outra no 3° ano, já havia garantido notas 800 e 940. Na edição do Enem 2020, no entanto, a nota foi de 720.

Moradora de Manaus (AM), Lorena participou da reaplicação do exame em 23 e 24 de fevereiro, devido a decisão da Justiça proibir a aplicação no estado nas datas anteriormente marcadas. “Quando eu olhei, eu fiquei confiante porque é um tema que eu já trabalhei na minha escolas e cursinhos”, comenta sobre o tema Empatia nas relações sociais.

Estudante de letras, Lorena Levy lembra do histórico de boas notas nas outras edições
Estudante de letras, Lorena Levy lembra do histórico de boas notas nas outras edições (foto: Arquivo pessoal)

 

 

“Eu sei que eu tenho técnica muito mais hoje do que quando fiz minha primeira redação do Enem”, defende. Lorena considera que o contexto de pandemia atrapalhou seu desempenho, mas pelo menos de 800 a 840 deveria ter tirado. “O mínimo que o Inep tem que fazer é dar a nota que cada um merece”, pontua.

Estudante lembra de erro na correção do Enem 2019

De Cuiabá (MT), Rafaela Arruda de Paula, 18, lembra que a correção na última edição também apresentou erros. “Tenho convicção que eu tenha me saído bem”, pontua a jovem que prestou o Enem para tentar uma vaga em uma universidade pública.

“Foi um tema que eu já tinha conhecimento pois eu sou ansiosa, sofri depressão , tinha o conhecimento necessário e senti que estava no caminho certo, consegui desenvolver muito bem e foi um tema da atualidade muito importante e necessário”, destaca.

A estudante Rafaela Arruda lembra que a correção das provas do Enem 2019 apresentou erro
A estudante Rafaela Arruda lembra que a correção das provas do Enem 2019 apresentou erro (foto: Arquivo pessoal)

 


Ela observa que o desempenho ao trabalhar com o texto desta ano foi bem melhor que em relação aos anos anteriores, já que não sentiu dificuldade no tema. Portanto, questiona a nota de 420.

“Possivelmente algum erro aconteceu, ainda mais levando em conta que os sistemas de correção não tiveram alterações”, pontua a jovem que administra uma página no Instagram, @revisaodaredacao_enem, onde mobiliza inscritos com a mesma reclamação.

Estudante mudou de cidade para se preparar

Moradora de Patos de Minas (MG), Anna Franzon, 17, tirou 720, mas imaginava que merecia algo em torno de 880 e 920 com o texto que desenvolveu sobre o estigma associado à doenças mentais na sociedade brasileira. “Eu achei o tema ótimo, estava super preparada, inclusive poucos meses antes eu havia redigido uma redação com uma temática muito parecida”, afirma.

“Eu me preparei muito pra redação, tive todo o apoio possível para essa prova. Meus professores são excelentes. Eu mudei de cidade para focar melhor no pré-vestibular e acabei recebendo uma nota inferior à que eu tinha recebido no ano passado, quando não tinha a menor noção do tanto de erro que eu cometia na escrita”, ressalta.

Jair Felix,18, de Abreu e Lima (PE), garantiu somente 600 pontos. Segundo ele, o Inep deveria reconsiderar as redações e provas dos alunos em razão do cenário da pandemia. “Sinceramente espero que o Inep possa fazer algo pelos estudantes ou dar uma explicação que é o mínimo, até porque muitos precisam dessa nota para entrar em programas do governo para se ter um ensino superior”, afirma

 

O inscrito Jair Felix considera que, somado ao contexto de pandemia, que já prejudicou estudantes, o Inep deve considerar revisar a correção
O inscrito Jair Felix considera que, somado ao contexto de pandemia, que já prejudicou estudantes, o Inep deve considerar revisar a correção (foto: Arquivo pessoal)

 

 

"Após um ano de estudo caótico e conturbado e sem renda para entrar em um curso preparatório, estudei para a avaliação em casa", destaca Amanda Madalena Matos Barbosa, 18 anos. "No dia da redação me adaptei ao tema, estruturei o texto de forma atenciosa, inseri citações e o que pudesse me agregar na redação. Mesmo com a nota, eu a contradigo. Acredito que não só eu, como outros estudantes obtiveram bom desempenho e não foram reconhecidos e avaliados de forma correta".

 

Apesar do ano difícil para os estudos, Amanda Madalena considera que o texto que desenvolveu merecia nota maior
Apesar do ano difícil para os estudos, Amanda Madalena considera que o texto que desenvolveu merecia nota maior (foto: Arquivo pessoal)

 

A jovem atingiu somente 380 na avaliação. "Quando saiu a minha nota procurei investigar mais sobre o que havia ocorrido, se o problema realmente seria com a minha redação ou as de demais estudantes. Li e reli diversos relatos de injustiças cometidas pelo Inep em sua correção", pondera a jovem de Campo Grande (MS), que cursa o 1° semestre de curso de investigação e pericia criminal.


Critério de correção está baseado em cinco aspectos

O Inep foi procurado para comentar a situação exposta pelos estudantes, mas não retornou o contato. O espaço segue aberto para futuras manifestações.

  • Confira os temas das redações deste ano:
  • Edição impressa (17 e 24 de janeiro): o estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira;
  • Edição digital (31 de janeiro e 7 de fevereiro): o desafio de reduzir as desigualdades entre as regiões
  • do Brasil;
  • Prova para pessoas privadas de liberdade ou reaplicação (23 e 24 de fevereiro): a falta de empatia nas relações sociais no Brasil;

Segundo a Cartilha de Redação, a prova de redação exige que o inscrito produza um texto em prosa, do tipo dissertativo-argumentativo, sobre um tema de ordem social, científica, cultural ou política. Confira as competências avaliadas:

  • Competência 1: demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa;
  • Competência 2: compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa;
  • Competência 3: selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista;
  • Competência 4: demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação;
  • Competência 5: elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos.

O cálculo da nota da redação ocorre com base na avaliação de cinco competências, que podem ir de nota zero a 200, somando um valor que vai de zero a 1.000. Diferentemente da prova objetiva, na redação, a nota final se dará pelo somatório das competências avaliadas.

Cada redação é corrigida por dois corretores independentes e a nota final do participante será a média aritmética das notas totais atribuídas pelos dois corretores. Caso haja discrepância entre dois corretores a redação será corrigida por um terceiro corretor.

Caso não haja discrepância entre o terceiro corretor e os outros dois corretores, a nota final do participante será a média aritmética entre as duas notas totais que mais se aproximarem. Caso haja discrepância com relação a ambas as notas anteriores, a redação será corrigida por uma banca composta por três corretores, que atribuirá a nota final do participante, sendo descartadas as notas anteriores.

 

*Estagiário sob a supervisão da editora Ana Sá

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