Polêmica

Enem: estudante identifica mais redações nota 1.000 que anúncio oficial

Em meio ao movimento que pede revisão das notas do Enem, Lucas Felpi, produtor de conteúdos educacionais nas redes sociais, identificou um total de 32 redações nota máxima

Mateus Salomão*
postado em 08/04/2021 14:15 / atualizado em 08/04/2021 15:00
 (crédito: Roberta Pinheiro)
(crédito: Roberta Pinheiro)

 Em meio ao movimento que cobra a revisão das notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020 nas redes sociais, o estudante Lucas Felpi, 19 anos, identificou 32 redações nota 1.000, quatro acima das 28 oficialmente anunciadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Vídeo e prints obtidos foram compartilhados com o Eu, Estudante e mostram o nome de 32 estudantes junto à indicação da nota máxima. Procurado, o Inep reforçou que, ao todo, 28 pessoas tiveram nota 1.000 na redação e que as pessoas que gabaritaram a avaliação estão espalhadas por quatro regiões: Centro-Oeste (com 2 notas máximas), Nordeste (12), Norte (3) e Sudeste (11).

No entanto, a autarquia não comentou a alegação do estudante de que existiriam mais redações nota 1.000 do que foi apresentado.

 

Estudante encontrou quatro redações além do oficial

Lucas Felpi, é estudante de ciência da computação e ciências políticas na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. Desde 2019, ele se juntou a outros estudantes e reúne os textos nota 1.000 para construir um material gratuito on-line, a Cartilha Redação a Mil.


A ideia surgiu após o Enem 2018, quando o jovem conquistou nota máxima na redação. Atualmente, ele também produz conteúdos sobre educação para as redes sociais. E foi para formar uma nova cartilha com as redações nota 1.000  do Enem 2020 que o estudante chegou aos 32 nomes.

 

“A maioria delas eu tenho comprovação por print e por vídeo da pessoa acessando a nota. Algumas delas, inclusive, liguei ao vivo para poder pedir para a pessoa abrir a nota. Algumas delas ainda só tem print e estou pedindo para poder também ter vídeo para ficar cada vez mais forte”, destaca. Ele foi procurado por mais candidatos, mas ainda não foi possível confirmar a autenticidade das notas.


“Então, o número pode ser bem maior que 32 e eu acho que tem algo errado no sistema que está contabilizando essas notas 1.000, tem algo que estão deixando passar e não estão conseguindo perceber o erro”, observa. Além disso, ele ressalta que o Enem 2019 também apresentou erros na correção.

 

Lucas Felpi, é estudante de ciência da computação e ciências políticas na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos.
Lucas Felpi, é estudante de ciência da computação e ciências políticas na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. (foto: Arquivo Pessoal)

 

Baseado na experiência, Lucas considera que edição teve poucas notas 1.000

Ainda assim, ele destaca que o número está abaixo das outras edições do Enem, pois "normalmente você tem em torno de 50 ou 60 alunos nota 1.000 todo ano, e 28 número muito baixo''. Para mim, reflete primeiro a pandemia e os efeitos dela nas igualdade social do treinamento e da preparação dos alunos para a prova”.

Lucas também observa que a dificuldade do tema e da terminologia do tema, principalmente a palavra estigma, que também causou muita confusão. Por essa razão, acredita que muitos candidatos fugiram do tema central. Além disso, ressalta o alto número de faltas, o que certamente teria impactado no número de gabaritos na redação.

 


Confira a íntegra do posicionamento do Inep:

“Ao todo, 28 pessoas tiveram nota mil na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Nesta edição, os participantes dissertaram sobre “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira” (versão impressa) e sobre "O desafio de reduzir as desigualdades entre as regiões do Brasil" (versão digital). No Exame Nacional do Ensino Médio para adultos privados de liberdade e jovens sob medida socioeducativa que inclua privação de liberdade (Enem PPL) e na reaplicação, o tema foi "A falta de empatia nas relações sociais no Brasil". Entre as provas do Enem 2020, a redação teve a maior média geral, com 588,74 pontos.

Quatro regiões do Brasil possuem representantes na lista dos melhores avaliados: Centro-Oeste (2), Nordeste (12), Norte (3) e Sudeste (11). Esses inscritos têm entre 15 e 25 anos. João Pessoa (PB) e Maceió (AL) possuem dois participantes cada entre os que alcançaram a pontuação total. Já Aracaju (SE), Cajazeiras (PB), Fortaleza (CE), Imperatriz (MA), Macaúbas (BA), Natal (RN), Paulo Afonso (BA) e Recife (PE) tiveram uma redação com nota máxima cada.

No Sudeste, a cidade do Rio de Janeiro (RJ) conta com quatro participantes na lista e Niterói (RJ), com dois. Na região, as demais cidades representadas são Campinas (SP), Conselheiro Lafaiete (MG), Maricá (RJ), São Paulo (SP) e Vitória (ES) com uma redação nota mil cada. O Norte teve notas máximas nas cidades paraenses de Belém e Castanhal, além de Manaus (AM). No Centro-Oeste, dois participantes de Brasília (DF) alcançaram mil pontos.

Dos participantes que obtiveram pontuação máxima, 25 realizaram a versão impressa do exame. Outros 2 fizeram o Enem Digital e um participou da reaplicação. No total, foram corrigidos 2.723.583 textos. Ao todo, 87.567 participantes zeraram a nota. Nesses casos, deixar a redação em branco foi o motivo que mais acarretou em nota zero (1,12%), seguido pelos critérios de fuga ao tema (0,93%) e cópia do texto motivador (0,46%), respectivamente.

Dos 28 estudantes com nota mil nesta edição do Enem, 20 (71,4%) são mulheres. O bom desempenho das participantes foi particularmente predominante no Sudeste, com 10 dos 11 textos melhores avaliados, sendo 6 do estado do Rio de Janeiro.

Segue abaixo nota de esclarecimento divulgada nesta terça-feira, 6 de abril de 2021, sobre a verificação das folhas de redação do Enem 2020.

Nota de esclarecimento | Verificação das folhas de redação do Enem 2020

Em respeito a todos os participantes do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020 e reforçando seu compromisso com a integridade e seriedade do exame, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) esclarece que solicitou ao Consórcio Cesgranrio-FGV, contratado para operacionalização do exame, nova averiguação de 100% das imagens de redações do Enem 2020 e reitera que não há inconsistências nas notas disponibilizadas na Página do Participante. Durante todo o feriado e fim de semana recentes, entre 1º e 4 de abril, foram feitas novas verificações e, após análise realizada em toda a base de imagens de redações, confrontando o nome do participante com os códigos de barra impressos nas folhas de redação, não foram identificadas inconsistências e as notas apresentadas na Página do Participante correspondem à realidade da nota atribuída pelos corretores dos textos.

A folha de redação do Enem é personalizada e possui um código de barras atribuído individualmente a cada participante. Também são impressas nela outras informações pessoais vinculadas ao participante, como nome completo, número de inscrição no exame, CPF e data de nascimento. A partir disso, a Fundação Getulio Vargas (FGV), membro do consórcio aplicador responsável por operacionalizar as correções das redações do Enem, revisou a totalidade das imagens digitalizadas pela operação reversa do Consórcio Cesgranrio-FGV, contratado para operacionalização do Enem. A verificação ocorreu da seguinte forma:

1. Importação da imagem na aplicação do robô de verificação;
2. Identificação e separação da folha de redação de cada participante;
3. Leitura do número de inscrição, presente no código de barras impresso em cada folha, realizada por meio do reconhecimento óptico de código de barras (BCR);
4. Identificação do nome do participante impresso na folha de redação, realizada por meio do reconhecimento óptico de caracteres (OCR);
5. Execução de pesquisa de dados do participante na base oficial de inscritos, a partir da inscrição obtida com o resultado da leitura do código de barras;
6. Comparação do nome obtido a partir de pesquisa realizada na base de inscritos, com o nome existente na folha de redação.

Dessa forma, a verificação realizada pela FGV em toda a base de imagens de redações, confrontando o nome do participante extraído a partir da leitura dos códigos de barra com o nome impresso na folha de redação, não apresentou inconsistências. Novas amostras das reclamações em redes sociais e veículos de imprensa também foram verificadas em casos pontuais e não foi identificada qualquer divergência.

O Inep aproveita para reforçar que o processo de correção das redações do Enem é acompanhado em todas as suas etapas e segue rigorosamente os critérios estabelecidos pelo Instituto. Os textos dos participantes, transcritos na folha de redação, podem passar por até quatro correções para o cálculo da média final. Os corretores de redação são selecionados em um processo rigoroso e capacitados pelo consórcio aplicador. Destaca-se que os profissionais selecionados para o processo de correção atendem critérios de formação inicial (graduação em Letras e Linguística) e continuada (exigência mínima de mestrado para as funções de supervisores e subcoordenadores), além da experiência comprovada em coordenação de correção de produção textual em avaliação educacional, exames ou concursos.”

 

*Estagiário sob a supervisão da editora Ana Sá

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