Em meio ao movimento que cobra a revisão das notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020 nas redes sociais, o estudante Lucas Felpi, 19 anos, identificou 32 redações nota 1.000, quatro acima das 28 oficialmente anunciadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Vídeo e prints obtidos foram compartilhados com o Eu, Estudante e mostram o nome de 32 estudantes junto à indicação da nota máxima. Procurado, o Inep reforçou que, ao todo, 28 pessoas tiveram nota 1.000 na redação e que as pessoas que gabaritaram a avaliação estão espalhadas por quatro regiões: Centro-Oeste (com 2 notas máximas), Nordeste (12), Norte (3) e Sudeste (11).
No entanto, a autarquia não comentou a alegação do estudante de que existiriam mais redações nota 1.000 do que foi apresentado.
Estudante encontrou quatro redações além do oficial
Lucas Felpi, é estudante de ciência da computação e ciências políticas na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. Desde 2019, ele se juntou a outros estudantes e reúne os textos nota 1.000 para construir um material gratuito on-line, a Cartilha Redação a Mil.
A ideia surgiu após o Enem 2018, quando o jovem conquistou nota máxima na redação. Atualmente, ele também produz conteúdos sobre educação para as redes sociais. E foi para formar uma nova cartilha com as redações nota 1.000 do Enem 2020 que o estudante chegou aos 32 nomes.
“A maioria delas eu tenho comprovação por print e por vídeo da pessoa acessando a nota. Algumas delas, inclusive, liguei ao vivo para poder pedir para a pessoa abrir a nota. Algumas delas ainda só tem print e estou pedindo para poder também ter vídeo para ficar cada vez mais forte”, destaca. Ele foi procurado por mais candidatos, mas ainda não foi possível confirmar a autenticidade das notas.
“Então, o número pode ser bem maior que 32 e eu acho que tem algo errado no sistema que está contabilizando essas notas 1.000, tem algo que estão deixando passar e não estão conseguindo perceber o erro”, observa. Além disso, ele ressalta que o Enem 2019 também apresentou erros na correção.
Baseado na experiência, Lucas considera que edição teve poucas notas 1.000
Ainda assim, ele destaca que o número está abaixo das outras edições do Enem, pois "normalmente você tem em torno de 50 ou 60 alunos nota 1.000 todo ano, e 28 número muito baixo''. Para mim, reflete primeiro a pandemia e os efeitos dela nas igualdade social do treinamento e da preparação dos alunos para a prova”.
Lucas também observa que a dificuldade do tema e da terminologia do tema, principalmente a palavra estigma, que também causou muita confusão. Por essa razão, acredita que muitos candidatos fugiram do tema central. Além disso, ressalta o alto número de faltas, o que certamente teria impactado no número de gabaritos na redação.
Confira a íntegra do posicionamento do Inep:
“Ao todo, 28 pessoas tiveram nota mil na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Nesta edição, os participantes dissertaram sobre “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira” (versão impressa) e sobre "O desafio de reduzir as desigualdades entre as regiões do Brasil" (versão digital). No Exame Nacional do Ensino Médio para adultos privados de liberdade e jovens sob medida socioeducativa que inclua privação de liberdade (Enem PPL) e na reaplicação, o tema foi "A falta de empatia nas relações sociais no Brasil". Entre as provas do Enem 2020, a redação teve a maior média geral, com 588,74 pontos.
Quatro regiões do Brasil possuem representantes na lista dos melhores avaliados: Centro-Oeste (2), Nordeste (12), Norte (3) e Sudeste (11). Esses inscritos têm entre 15 e 25 anos. João Pessoa (PB) e Maceió (AL) possuem dois participantes cada entre os que alcançaram a pontuação total. Já Aracaju (SE), Cajazeiras (PB), Fortaleza (CE), Imperatriz (MA), Macaúbas (BA), Natal (RN), Paulo Afonso (BA) e Recife (PE) tiveram uma redação com nota máxima cada.
No Sudeste, a cidade do Rio de Janeiro (RJ) conta com quatro participantes na lista e Niterói (RJ), com dois. Na região, as demais cidades representadas são Campinas (SP), Conselheiro Lafaiete (MG), Maricá (RJ), São Paulo (SP) e Vitória (ES) com uma redação nota mil cada. O Norte teve notas máximas nas cidades paraenses de Belém e Castanhal, além de Manaus (AM). No Centro-Oeste, dois participantes de Brasília (DF) alcançaram mil pontos.
Dos participantes que obtiveram pontuação máxima, 25 realizaram a versão impressa do exame. Outros 2 fizeram o Enem Digital e um participou da reaplicação. No total, foram corrigidos 2.723.583 textos. Ao todo, 87.567 participantes zeraram a nota. Nesses casos, deixar a redação em branco foi o motivo que mais acarretou em nota zero (1,12%), seguido pelos critérios de fuga ao tema (0,93%) e cópia do texto motivador (0,46%), respectivamente.
Dos 28 estudantes com nota mil nesta edição do Enem, 20 (71,4%) são mulheres. O bom desempenho das participantes foi particularmente predominante no Sudeste, com 10 dos 11 textos melhores avaliados, sendo 6 do estado do Rio de Janeiro.
Segue abaixo nota de esclarecimento divulgada nesta terça-feira, 6 de abril de 2021, sobre a verificação das folhas de redação do Enem 2020.
Nota de esclarecimento | Verificação das folhas de redação do Enem 2020
Em respeito a todos os participantes do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020 e reforçando seu compromisso com a integridade e seriedade do exame, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) esclarece que solicitou ao Consórcio Cesgranrio-FGV, contratado para operacionalização do exame, nova averiguação de 100% das imagens de redações do Enem 2020 e reitera que não há inconsistências nas notas disponibilizadas na Página do Participante. Durante todo o feriado e fim de semana recentes, entre 1º e 4 de abril, foram feitas novas verificações e, após análise realizada em toda a base de imagens de redações, confrontando o nome do participante com os códigos de barra impressos nas folhas de redação, não foram identificadas inconsistências e as notas apresentadas na Página do Participante correspondem à realidade da nota atribuída pelos corretores dos textos.
A folha de redação do Enem é personalizada e possui um código de barras atribuído individualmente a cada participante. Também são impressas nela outras informações pessoais vinculadas ao participante, como nome completo, número de inscrição no exame, CPF e data de nascimento. A partir disso, a Fundação Getulio Vargas (FGV), membro do consórcio aplicador responsável por operacionalizar as correções das redações do Enem, revisou a totalidade das imagens digitalizadas pela operação reversa do Consórcio Cesgranrio-FGV, contratado para operacionalização do Enem. A verificação ocorreu da seguinte forma:
1. Importação da imagem na aplicação do robô de verificação;
2. Identificação e separação da folha de redação de cada participante;
3. Leitura do número de inscrição, presente no código de barras impresso em cada folha, realizada por meio do reconhecimento óptico de código de barras (BCR);
4. Identificação do nome do participante impresso na folha de redação, realizada por meio do reconhecimento óptico de caracteres (OCR);
5. Execução de pesquisa de dados do participante na base oficial de inscritos, a partir da inscrição obtida com o resultado da leitura do código de barras;
6. Comparação do nome obtido a partir de pesquisa realizada na base de inscritos, com o nome existente na folha de redação.
Dessa forma, a verificação realizada pela FGV em toda a base de imagens de redações, confrontando o nome do participante extraído a partir da leitura dos códigos de barra com o nome impresso na folha de redação, não apresentou inconsistências. Novas amostras das reclamações em redes sociais e veículos de imprensa também foram verificadas em casos pontuais e não foi identificada qualquer divergência.
O Inep aproveita para reforçar que o processo de correção das redações do Enem é acompanhado em todas as suas etapas e segue rigorosamente os critérios estabelecidos pelo Instituto. Os textos dos participantes, transcritos na folha de redação, podem passar por até quatro correções para o cálculo da média final. Os corretores de redação são selecionados em um processo rigoroso e capacitados pelo consórcio aplicador. Destaca-se que os profissionais selecionados para o processo de correção atendem critérios de formação inicial (graduação em Letras e Linguística) e continuada (exigência mínima de mestrado para as funções de supervisores e subcoordenadores), além da experiência comprovada em coordenação de correção de produção textual em avaliação educacional, exames ou concursos.”
*Estagiário sob a supervisão da editora Ana Sá