Eleições na UnB

Último debate antes das eleições da UnB será nesta segunda-feira (24)

Conversa entre candidatos à Reitoria será mediada pela jornalista do Correio Ana Paula Lisboa. Comunidade acadêmica votará on-line na terça e na quarta

Mateus Salomão*
postado em 23/08/2020 06:00 / atualizado em 23/08/2020 17:49
Último debate entre candidatos será na segunda-feira (24), às 14h, com mediação da jornalista do Correio Ana Paula Lisboa -  (crédito: Consulta UnB/Ana Paula Lisboa)
Último debate entre candidatos será na segunda-feira (24), às 14h, com mediação da jornalista do Correio Ana Paula Lisboa - (crédito: Consulta UnB/Ana Paula Lisboa)

Esta semana, a comunidade acadêmica da Universidade de Brasília (UnB) decidirá os rumos da gestão da instituição. Entre terça e quarta-feira (25 e 26), mais de 52 mil pessoas, entre alunos, professores e funcionários, estarão aptas a votar, pela internet, na eleição para reitor e vice-reitor. Um dia antes, na segunda-feira (24), às 14h, ocorre o quarto e último debate entre as chapas, com mediação da jornalista do Correio e ex-aluna da UnB Ana Paula Lisboa, subeditora do Eu, Estudante.


Será a chance final para os eleitores definirem suas escolhas para o mandato entre 2020 e 2024. A discussão será remota e transmitida nos canais UnB TV e TV Comunitária e no YouTube da Consulta UnB e será compartilhada ao vivo também no site Eu, Estudante. Esta é uma eleição atípica. Desde a redemocratização do país, em 1985, as consultas à comunidade acadêmica eram presenciais. Os debates em anfiteatros ou no Ceubinho lotados deram lugar às conversas mediadas por telas. Do mesmo modo, as longas filas para registrar o voto foram substituídas por métodos virtuais.


É com esse desafio imposto pela covid-19 que os candidatos das quatro chapas terão a última oportunidade de convencer eleitores antes da votação. Márcia Abrahão (Instituto de Geociências), reitora, e Enrique Huelva (Instituto de Letras), vice-reitor, concorrem à reeleição pela chapa 86 — Somar. Eles disputam com outras três duplas. A chapa 81 — Unifica UnB – Seja Plural é formada por Virgílio Arraes (Departamento de História e ex-presidente da ADUnb) e Suélia Fleury (Faculdade do Gama, engenharias).


O próximo par de oponentes é da chapa 83 — Tempo de Florescer UnB, de Fátima Sousa (Departamento de Saúde Coletiva e ex-candidata ao GDF) e Elmira Simeão (Faculdade de Ciência da Informação). Por fim, está a chapa 89 — UnB Pode Muito Mais, de Jaime Santana (diretor do Instituto de Ciências Biológicas) e Gilberto Lacerda (Faculdade de Educação).

Engajamento


Professor do câmpus Planaltina da universidade e membro da Comissão Organizadora da Consulta (COC/UnB), Rafael Villas Bôas vê com bons olhos os números que a lista final de votantes alcançou. Ao todo, dos 53.641 que têm o direito a voto, 52.077 estão aptos a votar. “Assim, mais de 95% dos integrantes da comunidade acadêmica da universidade poderão participar do pleito”, comemora. Havia receio de que, pelo fato de o uso de e-mail institucional ser obrigatório, a participação fosse baixa, em especial entre estudantes. Jornalista, mestre e doutor pela UnB, Rafael Villas Bôas se surpreendeu positivamente com os números.


Artur Nogueira é membro discente da COC e afirma estar confiante com o fato de mais de 90% da comunidade acadêmica estar apta a votar. “Isso é um sinal muito bom de que as pessoas estão engajadas e dispostas a participar”, diz. “O engajamento dos estudantes sempre é muito alto. Os grupos dos centros acadêmicos neste período foram tomados pela disputa das ideias, isso é muito bom para que a UnB consiga escolher a melhor chapa nessa consulta”, afirma o membro do DCE.

Segurança


De acordo com o professor Rafael Villas Bôas, “o sistema Helios Voting, que será utilizado nas eleições, é seguro”. Ele afirma que, além da possibilidade de auditoria, o programa foi utilizado em outros momentos pela própria universidade. A respeito de simulações, ele esclarece que nenhuma demanda formal foi apresentada à comissão para apreciação.


A Comissão Organizadora da Consulta é integrada por nove membros, três da ADUnB (Associação dos Docentes da Universidade de Brasília), três do Diretório Central dos Estudantes Honestino Guimarães (DCE) e três do Sindicato dos Trabalhadores da Fundação Universidade de Brasília (Sintfub). Não há hierarquia no colegiado e os nove têm o mesmo poder.

Ponto de tensão


O resultado da consulta à comunidade acadêmica apura a opinião da maioria. Depois, uma nova consulta ocorre no Consuni (Conselho Universitário) e, em geral, se inscrevem as três chapas mais votadas, respeitando o resultado da eleição. Após homologação, a lista tríplice é enviada ao governo federal. No fim, a indicação de quem ocupará o posto de reitor é feita pelo Ministério da Educação (MEC). Esse é um ponto de preocupação para a universidade.


Tradicionalmente, o Executivo costumava respeitar a decisão do pleito, mas isso mudou com o presidente atual. “Esse é um dos focos de tensão, pois nem sempre o Bolsonaro segue a listagem enviada com o primeiro, o segundo e o terceiro colocado”, comenta Rafael Villas Bôas. Na sexta-feira (21/8), o presidente da República anunciou que a reitora da Universidade Federal do Semi-Árido (Ufersa) será a terceira colocada. Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), existe o temor de que a chapa que ficou em terceiro na eleição feita em julho seja escolhida pelo presidente.


Como votar?

Para participar do pleito, marcado para ocorrer entre terça-feira e quarta-feira, é necessário ter o nome na lista de votantes cadastrados, divulgada na última semana. Confira a relação completa, organizada em ordem alfabética e por categoria (técnicos, docentes e discentes) no link.


Só participam da consulta aqueles com cadastro institucional regularizado e com e-mail institucional ativo. O acesso ao correio eletrônico institucional é importante, pois será por lá que o estudante ou trabalhador da UnB receberá o link que dá acesso à votação. Confira mais detalhes sobre as eleições no site.

 

  • Filas para votar nas eleições da UnB de 2016: neste ano, nada de movimentação, pois todo o processo será eletrônico
    Filas para votar nas eleições da UnB de 2016: neste ano, nada de movimentação, pois todo o processo será eletrônico Marcelo Ferreira/CB
  • Jaime Santana e Gilberto Lacerda formam a chapa 89
    Jaime Santana e Gilberto Lacerda formam a chapa 89 Consulta UnB/Reprodução
  • Os candidatos à reeleição para os cargos de reitora e vice-reitor, respectivamente, Márcia Abrahão e Enrique Huelva, membros da chapa 86
    Os candidatos à reeleição para os cargos de reitora e vice-reitor, respectivamente, Márcia Abrahão e Enrique Huelva, membros da chapa 86 Consulta UnB/Reprodução
  • Fátima Sousa e Elmira Simeão, integrantes da chapa 83
    Fátima Sousa e Elmira Simeão, integrantes da chapa 83 Consulta UnB/Reprodução
  • À esquerda, o candidato a reitor da UnB Virgílio Arraes e, à direita, a candidata a vice-reitora Suélia Fleury, membros da chapa 81
    À esquerda, o candidato a reitor da UnB Virgílio Arraes e, à direita, a candidata a vice-reitora Suélia Fleury, membros da chapa 81 Consulta UnB/Reprodução


Conheça as chapas participantes da disputa à Reitoria da Universidade de Brasília

81 — Unifica UnB – Seja Plural


A chapa é “centrada em propostas e avaliação da gestão”, como define o professor do Departamento de História e candidato a reitor Virgílio Arraes. A candidata à vice-reitora é a professora de engenharias do Gama Suélia Fleury. Eles afirmam que, no decorrer da campanha, se surpreenderam com o contato com a comunidade acadêmica. “Descobri que a gente está realmente em sintonia com o que a universidade deseja”, afirma Suélia. “Se a gente ganhar, a gente vai governar para todos”, completa.


Os candidatos, que afirmam terem sido vítimas de ataques nas redes sociais, dizem esperar um debate, na segunda-feira, em que as chapas foquem a avaliação das propostas. Virgílio Arraes deseja abordar o pós-pandemia, a gestão dos vários câmpus e a contribuição da UnB para o desenvolvimento do DF e do Entorno. O candidato diz estar preocupado com os eleitores que não conseguirão votar por não terem conhecimento sobre plataformas eletrônicas. Ele chegou a propor uma urna física no Hospital Universitário de Brasília (HUB) para aqueles que não conseguiram regularizar o cadastro.

83 — Tempo de Florescer UnB


“Uma campanha alegre, feminista, feminina, cheia de flores.” É assim que a professora de saúde coletiva e ex-candidata ao GDF pelo PSol Fátima Sousa define sua caminhada rumo à Reitoria da UnB. À vice-reitoria, concorre a professora de ciência da informação Elmira Simeão. Fátima comenta que, apesar contexto de crise, a dupla quer semear bons sentimentos. “Nossa campanha tem sido para cima, vamos ter esperança.” Para o último debate, a candidata espera um diálogo à altura da cátedra dos candidatos. “Espero um debate respeitoso, democrático, propositivo em que ganhemos todos nós. Que a Universidade de Brasília saia maior nessa consulta”, afirma.


Fátima espera que tenha espaço tanto no próximo debate quanto na gestão de quem ganhar o pleito a garantia de que as pessoas estejam em primeiro lugar. Segundo ela, as crises econômicas não podem ter como reflexo demissão de servidores nem fim de bolsas de estudantes. “Eu acho que as medidas principais são essas: colocar as pessoas em primeiro lugar, cuidar das pessoas, cuidar da saúde mental, assegurar que nosso retorno, seja feito de forma segura…”, afirma a professora sobre as medidas caso vença as eleições. Um pleito on-line é atípico, mas Fátima pondera que os processos informacionais se intensificam agora. “A expectativa é de que todos votem em defesa da nossa autonomia, da nossa democracia interna da UnB”, pontua.

86 — Somar


A chapa da reitora da UnB, Márcia Abrahão, e do vice-reitor, Enrique Huelva, tenta a reeleição. Para Márcia, uma campanha totalmente virtual é inédita, mas ela percebe que conseguiu mobilizar muitas pessoas no mundo on-line. “Faltou o contato, faltou abraçar”, lamenta. Como está na gestão da universidade, Márcia afirma que o debate servirá não só para apresentar propostas, mas também para prestar contas. Ela espera que o encontro de segunda-feira seja respeitoso e franco, apesar das diferenças. “Nós (as quatro chapas) temos visões muito diferentes em como conduzir a universidade”, compara. Márcia lamenta o fato de o espaço de comentários no YouTube ficar fechado durante o debate.


A chapa dela votou a favor de manter o chat aberto: “Somos bem democráticos.” A singularidade do contexto de eleição atual deixa a reitora apreensiva. Contudo, ela diz ter confiança na Comissão Organizadora da Consulta (COC). A reitora espera que o apoio que viu entre servidores e nas redes sociais também se expresse na votação. “A primeira coisa que nós queremos é garantir que este momento desafiador passe com o mínimo de perdas”, afirma Márcia, sobre as ações caso seja eleita. Ela também promete continuar a investir em inclusão digital, na capacitação de servidores e professores para as plataformas on-line e na preparação da universidade para o retorno presencial.

89 — UnB Pode Muito Mais


“É uma campanha diferente e difícil essa por mídias sociais”, pontua o candidato à reitoria Jaime Santana, diretor do Instituto de Ciências Biológicas, que concorre ao lado de Gilberto Lacerda, da Educação. O candidato a reitor diz estar apreensivo com a possibilidade de muitos eleitores enfrentarem dificuldades com a qualidade da internet e a falta de um treinamento para votar já que não houve simulação de votos. “Na universidade tem muita gente que não está incluída digitalmente.” Jaime espera um último debate de alto nível sem acusações, como ele afirma ter ocorrido no terceiro. “Nós estamos em uma escola e uma escola tem que ter pensamentos. A gente precisa trocar ideias.”


Ele espera ter a oportunidade de falar sobre a divulgação científica e a defesa da universidade autônoma. O professor acredita ser necessário conversar com a sociedade sobre o que é feito na universidade e despertar paixão pela ciência e pela educação. “É uma obrigação nossa reverter para a sociedade aquilo que estamos fazendo porque a sociedade nos paga para isso”, reflete. Caso eleito, deseja fazer parcerias com o GDF, lançar editais de fomento à pesquisa, além de equipar os alunos digitalmente. Ele espera vencer, mas a vitória não é o mais importante. “Independentemente do resultado, no outro dia, a gente segue trabalhando para a nossa instituição da mesma forma. Não importa quem votou aqui e quem votou ali, a instituição é superior a tudo isso.”


*Estagiário sob supervisão de Ana Sá

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