Cotas

Estudante parda aprovada na UFES tem matrícula negada

Aprovada no curso de engenharia da computação, Livian Malfará teve a matrícula negada por não ser considerada parda

Correio Braziliense
postado em 11/03/2024 18:58
Livian teve a matrícula na universidade negada -  (crédito: Arquivo Pessoal)
Livian teve a matrícula na universidade negada - (crédito: Arquivo Pessoal)
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Livian Malfará de Mesquita Dias, 18 anos, teve a matrícula negada por não ser considerada parda pela banca de heteroidentificação da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). A estudante aprovada no curso de engenharia da computação conta que sua matrícula foi totalmente descartada pela instituição de ensino. “Antes eu estava em quarto lugar de quatro vagas pelo sistema de cotas, e minha matrícula foi totalmente descartada. Apenas me indeferiram, e eu perdi a minha vaga”, diz .

Filha de pai preto e de mãe com uma família mestiça, conta que o processo realizado pela UFES apenas pedia para que os candidatos enviassem algumas fotos, dissessem seus nomes, como se identificavam racialmente e quais características físicas os faziam chegar nessa conclusão. “Eu fiz um teste de DNA para saber a ancestralidade e nele consta que eu tenho uma porcentagem africana. Então, esse foi um dos documentos que eu enviei para poder fazer o recurso inclusive, para recorrer com o indeferimento deles, mas eles ignoraram isso totalmente”, enfatiza.

Livian viajou de Ribeirão Preto (SP) para Vitória (ES), com todos os custos pagos por um parente próximo. Além de participar do processo de heteroidentificação, a jovem planejava também procurar um lugar para morar durante seus anos de graduação. Sem contato com o pai e criada apenas pela sua mãe, a jovem lamenta as consequências deixadas pela viagem desperdiçada. “Me senti muito constrangida no dia, não teria condições de fazer a viagem se não fosse pela ajuda de um parente meu. Perdi meu emprego, era uma renda que era necessária para a família, que seria muito útil aqui em casa e acabei tendo que me demitir para poder viajar”.

A candidata denuncia a falta de atitude da UFES após recorrer ao resultado da avaliação. A universidade pediu para que a estudante realizasse outro teste presencial, o que não seria possível devido aos custos de outra viagem. Após ter explicado sua situação por meio de um e-mail, não teve mais respostas ou proposta de auxílio. “A prova será em outro estado, não tenho como ir de novo, me avisaram muito em cima da hora”, diz .

Depois de perder sua vaga na universidade pública, a estudante entrou para a universidade privada Unaerp (Universidade de Ribeirão Preto) pelo ProUni (Programa Universidade para Todos), também pelo sistema de cotas. Livian diz ter se inscrito no programa, como uma forma de garantir sua vaga em alguma instituição, enquanto ainda estava na lista de espera da UFES. Diferentemente de sua última experiência, a avaliação de heteroidentificação realizada pela UNAERP  também considera fatores familiares e genéticos. “Desta vez enviei fotos minhas, foto da minha mãe, foto do meu pai e fotos da minha infância também. Passei por esse processo e fui aprovada na faculdade particular pelo Prouni “, detalha.

Atualmente, a família procura a melhor maneira de prosseguir com o caso além de divulgar o ocorrido como possível. Após a repercussão da situação em diversos portais de notícia, a garota relata ainda estar sofrendo ataques gratuitos pela internet. “Vejo muitos comentários maldosos em que dizem que eu não sou parda, que só entrei por cotas para tentar entrar de uma maneira mais fácil na faculdade, que eu não estudei o suficiente…Mesmo assim, a faculdade não se pronuncia, não vai atrás de corrigir esse erro”, desabafa. Até a publicação desta matéria, o Correio Braziliense não conseguiu entrar em contato com a Universidade.

 


 

 

 

 

 

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