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Lacunas de habilidades: O que não está funcionando no ensino superior?

Conheça cinco ações objetivas que ajudarão a construir uma força de trabalho resiliente com o apoio da academia

Correio Braziliense
postado em 26/06/2025 15:49
Ebrahim Matthews, Vice-Presidente Internacional de Ensino Superior da Pearson -  (crédito: Divulgação)
Ebrahim Matthews, Vice-Presidente Internacional de Ensino Superior da Pearson - (crédito: Divulgação)

Por Ebrahim Matthews,Vice-Presidente Internacional de Ensino Superior da Pearson

Duas mudanças sísmicas têm moldado como ensinamos e aprendemos atualmente. A IA e o declínio da população em idade ativa – gerado pela menor taxa de natalidade e envelhecimento da população – impactam profundamente um sistema educacional construído na primeira revolução industrial. Hoje, boa parte da força de trabalho não acompanha o ritmo de aprendizado necessário para acompanhar as profundas mudanças em curso.

Esses grandes “sismos” impõe um cenário de alta complexidade para quem se propõe a preparar pessoas a adquirir habilidades necessárias que trarão resiliência hoje e no futuro. No relatório Perdidosna transição: corrigindo a lacuna de habilidades, lançado pela Pearson durante a Reunião Anual do Fórum Econômico Mundial 2025, alertamos sobre um potencial "abismo de habilidades" global entre as necessidades dos empregadores e as capacidades dos funcionários, e pontuamos mudanças fundamentais na abordagem de aprendizagem e desenvolvimento de habilidades.

Mas como faremos isso? Por muito tempo, o nosso futuro profissional era fundamentalmente traçado no ensino superior. Porém, a maior reformulação atual não está acontecendo no câmpus. Estamos cada vez mais servindo a um mundo onde os empregadores e o próprio trabalho são a nova universidade. Para muitas pessoas, esse lugar de aprender é, principalmente, o próprio local de trabalho ou no dia a dia como empreendedor.

Não há nada de errado nisso. Porém não podemos ignorar que há cerca de 235 milhões de alunos no ensino superior ao redor do mundo, segundo o dado mais recente da ONU. Pessoas que dedicam anos para alcançar conhecimentos altamente específicos e necessários para a sociedade. As instituições de ensino superior, mesmo na recente modalidade a distância, também oferecem um momento único na jornada de aprendizado que envolve troca, intercâmbio de ideias e networking.

Imaginem,agora, se nossa força universitária estivesse em melhor sinergia com o mercado de trabalho? O que estamos deixando de ganhar quando elas não dialogam, complementam e caminham juntas para superar os imensos gaps de habilidades (já mapeados) para o trabalho e para avida contemporânea?

São muitas provocações incômodas, mas que precisamos nos fazer deforma coletiva e integrada: educadores, alunos, empregadores,gestores públicos e privados. Lá fora, a IA generativa e outras disrupções tecnológicas seguem em curso. Por isso, partimos do princípio que “aprender a aprender” é que maior capacidade a ser desenvolvida. Ou seja, a habilidade de adquirir novos conhecimentos passa a ser uma premissa comportamental básica para o nosso futuro e que pode – e deve – guiar o aprendizado no ensino superior.

Podemos citar cinco ações bastante objetivas que nos ajudarão a construir uma força de trabalho resiliente com o apoio da academia. A primeira é apoiar educadores com um currículo preparado para o futuro, que conversa com as necessidades da indústria e da economia. A segunda é usar a tecnologia para capacitar educadores e personalizar a aprendizagem.  A terceira é aplicar especificamente a IA para prever as necessidades da força de trabalho e orientar decisões em políticas para educação e capacitação. A quarta é incentivar as instituições a investir no desenvolvimento de habilidades. Por fim,a quinta é construir uma cultura de aprendizagem ao longo da vida por meio de parcerias e colaboração.

As carreiras não são mais uma trajetória única e linear, mas jornadas dinâmicas com muitos pontos de virada e rotas alternativas.É hora de redesenhar os caminhos de qualificação, tornando-os mais responsivos à evolução do mundo do trabalho. Sem as intervenções certas para acelerar o desenvolvimento de habilidades, lacunas atuais correm o risco de se tornar um abismo de habilidades. Acredito num ensino superior que, tal qual grandes empregadores, é capaz decontribuir para fecharmos as lacunas de habilidades e talentos que atingem todos os mercados e economias atuais – sem exceção e possibilidade de retorno.

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