Carreira

Primeiro trimestre é o melhor período para buscar vagas de estágio

Segundo o Ciee, há mais de 60 mil oportunidades abertas no país. Para especialistas, boa preparação e busca por capacitação auxiliam na conquista de uma vaga

Isabela Oliveira*
postado em 14/03/2021 14:42 / atualizado em 14/03/2021 14:45
 (crédito: Reprodução)
(crédito: Reprodução)

O primeiro trimestre do ano é o melhor período para buscar vagas de estágio. De acordo com o Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee), mais de 60 mil oportunidades estão abertas no país, provenientes do período sazonal: quando os contratos chegam ao fim ou o aluno encerra o curso superior.

Além disso, a campanha de vacinação e a retomada da economia vão exigir das empresas um reforço no quadro de funcionários. Para Elenilson Arara, supervisor do Ciee em Brasília, o cenário é positivo com o início da imunização contra a covid-19: instituições que fecharam ou reduziram o quadro começam a se estruturar e a precisar de novos colaboradores. “A gente percebe que o estágio será crucial para que as empresas tenham uma força de trabalho para retomar as atividades”, afirma.

"Consegui minha chance"

"Sou muito grata por ter entrado em uma vaga que mostra que as coisas estão mudando. Estou num ambiente que é muito inclusivo" Fernanda Oliveira, estudante de engenharia química e estagiária ingressante num programa exclusivo para negros
"Sou muito grata por ter entrado em uma vaga que mostra que as coisas estão mudando. Estou num ambiente que é muito inclusivo" Fernanda Oliveira, estudante de engenharia química e estagiária ingressante num programa exclusivo para negros (foto: Arquivo Pessoal)

Nem todo mundo em busca de uma vaga consegue fazer o “match” de cara com uma empresa e se sentir grato por fazer parte de um time. Fernanda Oliveira, 23 anos, colocou como meta conquistar uma vaga de estágio e conseguiu. A estudante de engenharia química da Universidade de Brasília (UnB) e, atualmente, estagiária do time de Gente da Ambev, havia participado de um processo seletivo da companhia em 2019, mas, infelizmente, não recebeu o tão sonhado sim.

Ela resolveu tentar mais uma vez, pelo Representa, um processo seletivo da empresa exclusivo para universitários negros. Um ponto positivo e inclusivo da seleção é que a língua inglesa, muito comum como pré-requisito em processos de seleção, não foi solicitada. “Sou muito grata por ter entrado em uma vaga que mostra que as coisas estão mudando. Estou num ambiente que é muito inclusivo e se importa em fazer a diferença. Não é só um discurso, de fato, existem práticas”, celebra.

Durante todas as etapas de seleção, recebeu apoio da Ambev, que enviava conteúdos aos candidatos ou fazia lives com os inscritos no programa para tirar dúvidas e também auxiliar na preparação. Além de estudar sobre a companhia para se preparar melhor no quesito técnico, Fernanda buscou se conhecer melhor para poder compartilhar conquistas e impactos causados na vida universitária.

“O autoconhecimento é fundamental em qualquer etapa de seleção; é importante entender quem você é e onde você quer chegar. Isso me ajudou muito a conseguir falar quem eu sou e o que eu fiz”, pontua. E boa parte da bagagem de Fernanda começou no Movimento Empresa Júnior (MEJ). Na UnB, ela ingressou na CSTQ, a empresa júnior (EJ) de engenharia química.

Posteriormente, participou como membro da Federação das Empresas Juniores do DF, a Concentro, que dá suporte às empresas juniores, onde permaneceu de 2019 a 2020.

As EJs são formadas por universidades e desenvolvem serviços com um preço abaixo do mercado tradicional e dão oportunidade aos estudantes de ingressarem no mercado de forma voluntária.

“No MEJ, eu me descobri muito. É um espaço que dá muita autonomia. Então, eu tive oportunidades de gerenciar eventos e realizei projetos dentro da minha área. O movimento conseguiu me dar uma experiência profissional que talvez outras oportunidades não teriam me dado. São essas as histórias que eu contei para conseguir o estágio”, compartilha.

Fernanda deixa uma mensagem para quem, assim como ela, deseja dar um check na lista de metas para 2021 e conseguir um estágio. “Acho que um aprendizado muito grande que eu tive é ter voz. Você tem algo a contribuir em todo ambiente, tudo depende do seu esforço. Se você tem um objetivo, se desenvolva, corra atrás dele e mostre, de fato, quem você é”, aconselha.

"Na luta por uma vaga"

"Eu tento pegar matérias optativas no curso que eu vejo que vão contribuir na minha carreira profissional e com um estágio" Eduardo Assis, estudante de ciência da computação e candidato a programas de estágio
"Eu tento pegar matérias optativas no curso que eu vejo que vão contribuir na minha carreira profissional e com um estágio" Eduardo Assis, estudante de ciência da computação e candidato a programas de estágio (foto: Arquivo Pessoal)

Eduardo Assis, 22, é estudante do 6º semestre de ciência da computação na UnB e está à procura de estágio há oito meses para adquirir a primeira experiência profissional e começar uma rede de contatos, o famoso networking. Participou de alguns processos seletivos, como os do Ciee e o da Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap), mas não teve sucesso.

Apesar disso, ele continua focado em três aspectos que considera essenciais para se destacar em um processo seletivo: proatividade, estar aberto para receber feedbacks e fazer o que gosta. “Sendo uma coisa que você goste e tenha curiosidade, fica bem mais fácil de se empenhar e procurar soluções”, acredita Eduardo.

Quando se prepara para alguma seleção, o jovem estuda sobre a empresa, procura saber como foram os processos seletivos anteriores, o que a organização espera do profissional e quais competências eles procuram. Após a pesquisa, ele seleciona as habilidades que precisa melhorar e trabalha em cima delas. Uma das estratégias dele é escolher disciplinas opcionais na grade curricular da faculdade

“Eu tento pegar matérias optativas no curso que eu vejo que vão contribuir na minha carreira profissional e com um estágio, como matérias de programação, desenvolvimento de aplicativo e web”, conta. Porém a principal barreira do estudante, apesar de o estágio ser um processo que não exige experiência prévia, é ter alguma atividade prática para agregar o currículo.

“Na UnB, as aulas obrigatórias são voltadas para a parte teórica e para os fundamentos. Apesar de não ser a proposta do curso, seria interessante se a gente visse tecnologias que são utilizadas no ambiente profissional. Se eu quiser aprendê-las, tenho que estudá-las por fora”, explica.

Chance de ganhar experiência

"Se a gente quisesse um estagiário com experiência, a gente estaria contratando funcionário. O programa de estágio é uma oportunidade de aprendizado" Mariane Guerra, vice-presidente de RH
"Se a gente quisesse um estagiário com experiência, a gente estaria contratando funcionário. O programa de estágio é uma oportunidade de aprendizado" Mariane Guerra, vice-presidente de RH (foto: Silvia Zamboni/Divulgacao)

O presidente da Associação Brasileira de Estágios (Abres), Carlos Henrique Mencaci, observa que, normalmente, os jovens não têm experiência profissional e o estágio serve para isso. Há ainda legislação específica para proteger o jov
em. “A lei existe porque grande parte dos jovens não têm experiência quando está buscando um estágio”, argumenta.

Para Mariane Guerra, vice-presidente de recursos humanos da ADP na América Latina, o fato do estudante não ter experiência profissional não o prejudica. “Se a gente quisesse um estagiário com experiência, a gente estaria contratando funcionário. O programa de estágio é uma oportunidade de aprendizado”, observa. A ADP é uma empresa global que oferece soluções em folha de pagamento e RH.

E, caso o aluno tenha tido uma experiência fora da área de estudo, ela também é válida. Carlos Henrique explica que, mesmo que o trabalho não tenha agregado no aspecto técnico, ele vai ensinar competências comportamentais. “Toda experiência é válida, mesmo que não seja na área em que você está buscando estágio, pois traz experiências comportamentais, como empatia e trabalho em equipe”, explica.

Como se destacar

Apesar de o estágio não exigir experiência, a capacitação é necessária, e é o que falta muitas vezes. Carlos Henrique Mencaci pondera que os maiores desafios do aluno que busca uma vaga são os cursos extracurriculares. Mas esse problema foi facilmente sanado durante a pandemia. Diversos sites e empresas passaram a ofertar cursos de forma gratuita na internet. E os benefícios a longo prazo desse investimento pessoal podem levar o aluno longe.

“A pessoa pensa que não muda nada assistir a um curso, mas, lá na frente, vai se diferenciar por ser uma pessoa que busca conhecimento de forma incessante. O estágio é um projeto de carreira para ir estudando e adquirindo experiências em várias áreas. Aquele conhecimento vai te levar para outro estágio e, talvez, para um emprego. O jovem tem que fazer a sua busca, ser persistente”, aconselha o presidente da Abres.
Além de ser útil para a carreira, Mariane Guerra acredita que o interesse do aluno em fazer outros cursos, até mesmo em áreas que sejam distintas do curso de graduação, demonstra preocupação com a jornada no mercado. “É uma iniciativa importante, porque o estudante demonstra curiosidade intelectual e preocupação com o futuro: ao mesmo tempo, aprende coisas úteis para o estágio e usa o tempo livre para investir na formação da carreira”, observa.


Lei de estágio

O estagiário não está nas organizações para tirar xerox ou trazer café. Criada em 2008, a Lei nº 11.788 define que esses estudantes estão nas companhias para ganhar experiência e aprender. A legislação prevê alguns direitos, como férias de 30 dias quando o estágio tiver duração igual ou superior a um ano, pagamento de bolsa e auxílio-transporte no caso de estágio não-obrigatório. Para conferir a legislação completa, acesse: bit.ly/Leiestagio.

Recomendações para estagiários

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Está procurando uma vaga de estágio ou se preparando para um processo seletivo? Confira as dicas que o presidente do Núcleo Brasileiro de Estágios, Seme Arone, e a especialista em recursos humanos Mariane Guerra prepararam. Confira:


1. Elabore um currículo com informações básicas: contato, objetivo profissional, cursos, idiomas e onde estuda. As experiências serão poucas ou nenhuma. Você deve se destacar pelos projetos curtos.


2. Antes de qualquer processo seletivo, escreva 10 possíveis perguntas que o recrutador pode fazer e ensaie no espelho para ficar treinado e adquirir confiança.


3. Procure vagas desde o primeiro semestre da faculdade, não deixe para o último minuto.


4. Caso vá fazer um processo seletivo presencial, chegue cedo, leve o currículo e olhe nos olhos do entrevistador.

5. O recrutador perguntou se você sabe sobre determinado assunto, e a resposta é não? Seja sincero e demonstre o interesse de aprender rápido.


6. Invista em trabalho voluntário para exercitar o espírito de equipe. Quando trabalhamos em prol de um objetivo comum você exercita a colaboratividade, uma habilidade muito requisitada nas empresas.

7. O jovem antes da entrevista deve conhecer muito bem a empresa, o mercado e estudar o que sai nas mídias sociais.

8. Demonstre atitude em processos e repertório. Conte suas histórias de vida, visão de mundo e como acha que vai impactar na sociedade. É importante fazer reflexões.


Websérie: Diário de Carreira

A empresa de câmbio Travelex Confidence lançou a websérie Diário de Carreira, com dicas e sugestões para quem quer começar a vida profissional. O objetivo é aproximar a empresa do público jovem, por isso, são os próprios estagiários que protagonizam os vídeos. Ao todo, são cinco vídeos contando os principais desafios dos jovens no início da carreira e como superá-los. No episódio piloto, a estagiária de comunicação e RH Vitória Maciel dá dicas sobre como construir um portfólio. Para assistir, acesse: bit.ly/WebserieEstagio.

Erros mais comuns

Elenilson Arara é supervisor do Ciee em Brasília
Elenilson Arara é supervisor do Ciee em Brasília (foto: Ciee/Divulgação)

Erros de português no currículo e ir para uma entrevista sem ao menos ler sobre o empregador são apenas alguns dos deslizes que devem ser evitados durante a participação em um processo seletivo. Confira as dicas do supervisor do Ciee em Brasilia, Elenilson Arara, para acertar ao conferir os erros mais comuns:


Buscar oportunidades para as quais você não tem perfil

Existem vagas para todas as áreas e todos os segmentos. Se você entra numa vaga com a qual não combina, a chance de ficar no estágio e construir experiência é baixa, por isso, busque uma oportunidade que seja mais aderente ao seu perfil.

Aceitar vagas somente pelo valor da bolsa

O estudante não deve aceitar uma vaga somente pela bolsa-auxílio. É preciso balancear. Você precisa do dinheiro? Vai aperfeiçoar a profissão no estágio que paga mais ou menos? A oportunidade precisa contribuir na área de atuação escolhida.

Demonstrar despreparo

Não é porque é uma vaga de estágio que o aluno não deva se preparar para a entrevista. Uma boa preparação inclui verificar a política e a estrutura da empresa, o que exige para estar adequado à cultura, pesquisar e preparar currículo.

PALAVRA DE ESPECIALISTA »

Estagiário precisa de LinkedIn?

“O LinkedIn serve para achar pessoas e dá muito trabalho. Você não vai achar muitas vagas de estágio. Os recrutadores conseguem ver onde a pessoa trabalhou e as habilidades, por isso, a rede social serve para as pessoas mais experientes. É mais efetivo ir em diferentes agentes de integração e se cadastrar.

Mas, quando você usa o LinkedIn para achar pessoas, aí é legal, porque você pode usá-lo para fazer busca de gestores de determinada empresa e perguntar como você pode se candidatar para um estágio. A rede social profissional é um apoio e serve como estratégia para conhecer mais as pessoas que trabalham na empresa e a própria empresa.”

Carlos Henrique Mencaci, presidente da Associação Brasileira de Estágios (Abres)

 

*Estagiária sob a supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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