SAÚDE MENTAL

Pandemia: empresas devem dar suporte à saúde mental de colaboradores

Para especialistas, momentos de incerteza criados pelo tempo atual pode causar grandes danos ao trabalhador. Profissinais de RH têm missão de oferecer ajudar para funcionário

Vitória Silva*
postado em 04/04/2021 14:55 / atualizado em 04/04/2021 15:11
"Os estudos da felicidade mostraram para as organizações que só uma pessoa feliz tem todas as qualidades que atendem às novas demandas do mercado" Solange Castro, professora de lideranças - (crédito: Arquivo Pessoal)

A professora de lideranças do Ibmec Solange Castro explica que a preocupação em promover o bem-estar e a felicidade no ambiente de trabalho é uma pauta antiga e ainda recorrente na área dos recursos humanos.

A novidade de hoje é que o perfil do trabalhador está em mudança. A nova geração que está ingressando no mercado de trabalho não se submete mais aos modelos antigos de gestão e está em busca de serviços que tragam de fato realização e propósito em vez de apenas um salário.

“São pessoas mais exigentes, que não tem necessariamente esse papo de honrar e ‘vestir a camisa’ da firma... No passado, a empresa escolhia o trabalhador, hoje é o trabalhador que escolhe a empresa. E essa empresa tem que rever a forma como ela se relaciona com ele.”

As organizações que não se adaptarem tendem a perder talentos e ter alta rotatividade e índices grandes de insatisfação. Renata Rivetti concorda que a mudança no ambiente de trabalho é movida pelas novas gerações. “Os mais jovens estão ingressando no mercado de trabalho buscando uma carreira com propósito e significado em empresas socialmente responsáveis e sustentáveis”, diz.

“Aqui vale citar que também já existem pesquisas que mostram que muitas empresas já estão mais preocupadas em construir um ambiente corporativo que retenha seus talentos em vez de incentivá-los a ir embora”, observa Renata.

Uma pesquisa recente da consultoria de recrutamento WeSeek, feita com cerca de 1 mil colaboradores de RH, mostrou que 60% desses profissionais de recursos humanos estão bastante preocupados com a saúde emocional e o bem-estar dos colaboradores neste momento.

Além disso, Solange Castro declara que a modernização e a competição do mercado exigem um trabalhador engajado e ativo, características que somente um colaborador satisfeito com seu ambiente de trabalho terá. “Os estudos da felicidade mostraram para as organizações que só uma pessoa feliz tem todas as qualidades que atendem às novas demandas do mercado”, comenta.

Preocupação em alta

60%
Quantidade de profissionais de RH que estão preocupados com a saúde emocional e o bem-estudar dos colaboradores durante a pandemia

Fonte: WeSeek

Saúde mental em alerta

Levando em consideração o cenário pandêmico e a ampliação no número de casos de depressão e ansiedade no ambiente corporativo, Carla Furtado afirma que essa é a principal razão que fomenta a urgência para a aplicação deste novo gestor nas empresas. “Temos essa urgência por conta da escalada de transtornos mentais e comportamentais que a experiência dos RHs tradicionais não consegue solucionar”, pontua.

A expert em Felicidade Interna Bruta (FIB) pelo Schumacher College (Inglaterra) e pelo Gross National Happiness Centre (Butão) explica também que o gestor da felicidade precisa ter um olhar sistêmico para tudo aquilo que pode impactar a força de trabalho.

Trabalhar em casa pode até causar certo estresse, mas o mesmo é verdade para deslocamentos até o escritório e a vivência na empresa. Então, o home office não é a causa do aumento dos transtornos psicológicos entre os trabalhadores, mas, sim, o momento delicado e de incerteza que o mundo inteiro está enfrentando. É o que afirma Renata Rivetti, fundadora e diretora da Reconnect - Happiness At Work, empresa que trabalha o tema felicidade e oferece a certificação em chief happiness officer.

“O que tem agravado a infelicidade dos profissionais ao redor do mundo é o momento de incerteza, estresse e ansiedade pelo qual estamos passando com a pandemia, não o home office em si. O cenário atual traz muita insegurança, ansiedade e altos índices de burnout (ou esgotamento profissional), e isso acaba sendo um gatilho para que as pessoas procurem mais satisfação e felicidade em sua carreira”, pontua.

Para ajudar pessoas a florescer

"Acredito que o papel do CHO é fundamental, uma vez que ele é o responsável por fomentar o desenvolvimento de uma cultura centrada no bem-estar das pessoas, com foco no engajamento e na performance organizacional" Christine Ribeiro Gili, gestora executiva da felicidade num tribunal
"Acredito que o papel do CHO é fundamental, uma vez que ele é o responsável por fomentar o desenvolvimento de uma cultura centrada no bem-estar das pessoas, com foco no engajamento e na performance organizacional" Christine Ribeiro Gili, gestora executiva da felicidade num tribunal (foto: Arquivo Pessoal)

Christine Ribeiro Gili, 49 anos, é coordenadora de saúde e qualidade de vida do Tribunal Regional do Trabalho de Mato Grosso (TRT-MT) e, agora, também é uma gestora da felicidade. “Acredito que o papel do CHO é fundamental, uma vez que ele é o responsável por fomentar o desenvolvimento de uma cultura centrada no bem-estar das pessoas, com foco no engajamento e na performance organizacional”, opina.

Em 2019, ela e uma psicóloga do tribunal fizeram a certificação em felicidade interna bruta do Instituto Feliciência. Em seguida, elas iniciaram a implantação do Florescer, o programa de felicidade do TRT-MT. Pouco depois, Christine se certificou como CHO para ampliar ainda mais as ações do projeto já existente.

“Assumi a gerência de implementação do programa, que foi inserido no portfólio de projetos estratégicos do tribunal e achei importante investir na certificação de CHO para exercer esse papel de gestora da felicidade”, explica. A equipe abraçou a causa e as ações do projeto vêm impactando a forma de trabalho.

“As demandas são sempre muito altas. Então, às vezes estamos tão preocupados com os resultados que esquecemos de olhar para as pessoas. O tribunal já tinha alguns programas voltados para a saúde e qualidade de vida, mas o Florescer veio sistematizar todas essas ações e, mais do que isso, despertar nas pessoas a atenção para ações que aparentemente não têm nenhuma relação com bem-estar, mas que, com um olhar cuidadoso, é possível verificar que, sim, contribuem para florescimento das pessoas”, afirma.

Mesmo atuando em home office, Christine não enfrentou barreiras para promover a felicidade no tribunal, pelo contrário: ela afirma nunca ter estado tão atuante como agora. “Nesse período, o Florescer foi superdemandado e ocupou um papel de protagonismo no protocolo de crise, assim como na elaboração do processo de retomada ao formato presencial, que levou em consideração a experiência dos servidores e magistrados nesse processo”, explica.


*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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