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Profissões do futuro: quais são e como impactam o mercado de trabalho

Inteligência artificiall, dados, engenharia e computação em nuvem, marketing, vendas são algumas dessas carreiras novas

Laura Jovchelovitch Noleto*
postado em 25/10/2021 19:17 / atualizado em 25/10/2021 19:17
 (crédito: Zo Guimarães)
(crédito: Zo Guimarães)

Com a digitalização do mundo, cada vez mais surgem profissões ligadas à tecnologia. O Fórum Econômico Mundial previu que até 2020 as profissões do futuro cresceriam 51% e projeta que elas apresentarão 6,1 milhões de oportunidades de emprego em todo o mundo. Entre essas profissões, estão aquelas ligadas a dados, inteligência artificial, engenharia e computação em nuvem, marketing, vendas e produção de conteúdo.

Jacqueline Resch, 64 anos, consultora e sócia-diretora da Resch RH, é formada em psicologia pela PUC-Rio e tem um MBA em Gestão pelo Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPEAD). Ela explica que as profissões do futuro não são sinônimos de profissões novas, às vezes são profissões que já existiam antes, mas que lidam com temas novos.

Wellington Machado: tecnologia está envolvida em todas as profissões do futuro
Wellington Machado: tecnologia está envolvida em todas as profissões do futuro (foto: Arquivo pessoal)

Segundo Wellington Machado, 34 anos, CEO e fundador da Quantum, a tecnologia está envolvida em todas as profissões do futuro. Para ele, essa mudança no mercado de trabalho está mais atrelada ao formato de trabalho do que às profissões em si. Ele afirma que sempre surgiram profissões novas, mas a partir de agora as relações de trabalho serão diferentes, ligadas ao empreendedorismo. "A empresa vai ser algo muito mais vivo e dinâmico do que a gente conhece hoje", afirma. Outra característica do futuro das empresas e dos trabalhadores é o uso de APIs, as interfaces de programação de aplicações. Ele também acredita que uma tendência do futuro é conectar pessoas com expertises diferentes. Outra mudança do mercado de trabalho, segundo Jacqueline Resch, é que muitos profissionais não querem mais trabalhar em empresas que não têm flexibilidade. "Esse sistema híbrido virou uma vantagem competitiva na guerra de talentos".

No entanto, apesar de as profissões do futuro e a tecnologia serem inseparáveis, existem algumas que exigem habilidades da área de ciências humanas e sociais. Uma delas é o designer de conversas. De acordo com Jacqueline Resch, essa é uma profissão bastante nova. O profissional dessa área precisa ser uma pessoa criativa e analítica, além de conhecer sobre experiência com o consumidor para pensar e otimizar a experiência do cliente. Ele deve trabalhar para que o consumidor não abandone a conversa. Também precisa estar inserido no mundo da tecnologia. A conversa acontece por meio de um programa de computador que simula uma conversa humana, mas o usuário tem que ter a sensação de estar conversando com uma pessoa. Por isso, também é importante ter conhecimento de redação.

Universidade Federal de Goiás investe em inteligência artificial

Robô autônomo da Synkar, criado no Centro de Inteligência Artificial da UFC: em operações no Brasil e no Canadá
Robô autônomo da Synkar, criado no Centro de Inteligência Artificial da UFC: em operações no Brasil e no Canadá (foto: Synkar)

Na área de exatas, a Inteligência Artificial se destaca como uma das profissões do futuro. O curso de IA, que antes existia apenas na pós-graduação, foi criado no bacharelado em 2019 na Universidade Federal de Goiás (UFG). Anderson Soares, 37 anos, é o coordenador do Curso de Graduação e do Centro de IA da UFG. Ele diz que, a cada ano que passa, a demanda por profissionais da área fica mais crítica. A iniciativa de criar um bacharelado veio da percepção de que existem muitas vagas no mercado para serem preenchidas e poucos profissionais qualificados.

Ele avalia que, devido ao processo de digitalização, a importância da Inteligência Artificial é crescente. "Eu diria que IA depende muito de dados, quanto mais digital as pessoas forem, maior a dependência de IA", afirma Anderson Soares. Ele revela que as redes sociais, por exemplo, só funcionam por IA. A Inteligência Artificial analisa as preferências e hábitos dos usuários e tenta oferecer conteúdos mais relevantes para eles: "Esse é um exemplo em que usar a IA não é uma opção, é um pré-requisito". O professor reforça que pessoas são necessárias para executar esses trabalhos, por isso, a formação de profissionais é essencial.

O curso da UFG conta com duas turmas e, segundo o coordenador, 90% dos alunos participam de projetos com empresas privadas durante a formação. Segundo o professor Anderson, o curso dá contato precoce com a área, e é notável o apetite das empresas de trabalharem com esses alunos. Para Anderson Soares, esses são sintomas claros de que o curso tem sido uma experiência exitosa. 

Prestígio da medicina

Heloisy Pereira Rodrigues
Heloisy Pereira Rodrigues (foto: Arquivo Pessoal)

Heloisy Pereira Rodrigues, 21 anos, está no terceiro semestre da graduação em Inteligência Artificial na UFG. Ela conta que entrou por acaso. Quando estava na colação de grau da irmã, o reitor falou que eles iam criar o curso de graduação em IA. Na época, ela estava matriculada em um cursinho pré-vestibular, estudando para passar em medicina. Perto do período das inscrições para o Sistema de Seleção Unificada (SISU), ela não tinha nota para o curso que queria. Foi, então, que a mãe dela lembrou da fala do reitor, e Heloisy decidiu pesquisar sobre Inteligência Artificial. Nas pesquisas, viu que a IA estava entre as profissões que seriam mais bem remuneradas no futuro. Como sempre gostou de matemática, resolveu entrar no curso e não se arrependeu.

Segundo ela, a matriz curricular da graduação em inteligência artificial não força os alunos a ficarem só na teoria, eles têm contato com a prática desde o início. Heloisy confirma a informação de que a maior parte da turma está trabalhando em parceria com empresas e com bolsa remunerada desde o primeiro semestre. Atualmente, existem 18 projetos em andamento com empresas que contrataram os alunos das duas turmas. Ela diz que os professores formam uma mentalidade empreendedora nos alunos, ensinando-os sobre gestão e negócios: "Saber não só a parte técnica, mas, sim, do mundo que está ao seu redor, pensar em soluções para a vida das pessoas".

Ela conta que, antes, era leiga na área de tecnologia: "Muita gente não sabe o que é Inteligência Artificial, eu mesma, antes do curso, não sabia". Com o passar do tempo, percebeu o potencial do mercado. "Tecnologia daqui pra frente sempre vai ser isso, mercado sempre vai ter", afirma. Ela e os amigos até brincam que, no futuro, a IA vai ser um curso tão procurado e com tanto prestígio quanto o de Medicina. 

Educação do futuro

Wellington Machado, CEO e fundador da Quantum
Wellington Machado, CEO e fundador da Quantum (foto: Comunicação CEIA)

Wellington Machado, CEO e fundador da Quantum, conta que leu um estudo sobre a geração Z, conhecida como geração fone de ouvido, que mostrava que esses meninos e meninas tinham dificuldades de expressar emoções.

Isso foi um indicativo de que era importante desenvolver as habilidades interpessoais e socioemocionais nas crianças, como empatia, persistência, trabalho em equipe e resolução de problemas. A ideia dele e do sócio Rafael era fazer isso por meio do empreendedorismo e da tecnologia.

Para que as crianças se mantenham interessadas nos estudos, ele identifica que elas precisam ser ativas em sala de aula. "Todo nosso programa é baseado em metodologias ativas. O aprendizado é baseado em projetos, sala de aula invertida e gamificação. O aluno vira protagonista", afirma. O objetivo da Quantum é desenvolver crianças e jovens de 7 a 12 anos para as habilidades do futuro. Por meio de aulas híbridas,a Quantum une a educação gamificada a atividades práticas e on-line.

As crianças e os jovens aprendem sobre empreendedorismo, tecnologia, habilidades socioemocionais e o grupo de conhecimentos chamado STEAM (Ciências, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática). Entre os cursos oferecidos estão as áreas de robótica, programação, desenvolvimento de games e carreiras digitais. São mais de 150 professores e 3 mil alunos registrados em 43 cidades em 15 estados brasileiros. Para saber mais acesse: https://quantumeduc.com/.

Quem está por trás das conversas com robôs

Louise compara o trabalho do designer de conversas ao de um roteirista
Louise compara o trabalho do designer de conversas ao de um roteirista (foto: Marcius Viana)

Louise Zeni, 31 anos, é formada em tecnologia em comunicação institucional pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Nascida em Curitiba, ela se mudou para o Rio de Janeiro para estudar teatro. Ela avalia que o fato de estudar dramaturgia desde 2015 ajudou muito na sua vida profissional. Quando se mudou para o Rio, fez entrevista para a Joco, empresa de jornadas do conhecimento que usa chatbots com propósito educacional. Ela fez a entrevista, porque a empresa estava procurando alguém que fosse da área de comunicação, e ela já tinha trabalhado com mídia impressa e assessoria de imprensa. Louise passou na entrevista e começou a trabalhar como designer conversacional.

Segundo Louise Zeni, o grande diferencial da Joco é que a empresa acredita na educação por meio da tecnologia como complemento à educação tradicional. Em 2021, a Joco desenvolveu, pela primeira vez, um chatbot em vídeo para a Training Box, uma plataforma conversacional em forma de jogo. Louise explica que, na conversa da Training Box, o usuário interage com os vídeos e descobre quando acerta e quando erra as respostas; como se fosse um quiz. Por isso, a plataforma é educacional e de entretenimento.

O foco da Training Box é a melhoria da saúde mental e do desempenho profissional. Ela foi desenvolvida com a consultoria de um psicólogo, nutricionistas e um future designer. O roteiro foi feito pela Louise Zeni e pelo Bruno Pereti, que também é designer de conversas. Os conteúdos sobre sociabilidade e saúde mental e física são abordados em 15 etapas, cada uma com cerca de cinco minutos de duração. Eles são apresentados em linguagem coloquial pela jornalista Carol Barcellos, que passou por desafios extremos, como uma maratona no deserto e uma corrida no Polo Norte. A experiência do usuário é guiada e personalizada. No final, ele recebe sugestões de conteúdos extras, como materiais de leitura, vídeos e podcasts, para se aprofundar nos assuntos aprendidos na jornada da Training Box.

Por trabalhar com conversas pré-arquitetadas, Louise compara o trabalho do designer de conversas ao de um roteirista: "O chatbot fala, mas nem sempre o usuário vai dar a resposta esperada, por isso você tem que estar preparado para diferentes respostas. "O papel do designer de conversas é criar esse fluxo conversacional, caminhos para onde a conversa pode ir". Ela também observa que é importante trabalhar com arquitetura da informação, saber hierarquizar as informações priorizando a necessidade do usuário.

Além disso, Louise afirma que os designers de conversas devem usar uma linguagem simples e evitar termos técnicos. Dessa forma, eles facilitam o entendimento do usuário. Ela conta que a linguagem também deve ser "inclusiva, sem gênero, amigável e respeitosa". Para Louise, um dos principais desafios da profissão é ser conciso. Ela observa que existem várias formas de dizer a mesma coisa. "Independentemente da plataforma usada, o que o designer de conversas faz é pensar no que ele vai falar e como ele vai falar", afirma. É importante pensar na intenção da fala e no significado das palavras antes de escrever para que a mensagem cumpra o objetivo desejado. Para quem quer entrar para área, a dica de Louise é procurar comunidades na internet e fazer cursos.

Confira as carreiras emergentes

O estudo Jobs of Tomorrow: Mapping Opportunity in the New Economy, do Fórum Econômico Mundial, publicado em 22 de janeiro de 2020, listou profissões emergentes divididas em sete áreas: economia de cuidados, inteligência artificial e dados, engenharia e computação em nuvem, economia verde, pessoas e cultura, desenvolvimento de produto e marketing e conteúdo. O estudo previu que nos três anos seguintes a junção dessas profissões geraria 6,1 milhões de oportunidades de emprego. A metodologia utilizada para o estudo foi quantitativa e baseada em ciência de dados. A coleta dos dados foi possível graças a tecnologias de ponta que ofereceram previsões novas sobre o futuro do mercado de trabalho. Saiba quais são as profissões identificadas pelo estudo na lista abaixo.

Economia de cuidados:

  • Transcritores de relatórios médicos
  • Auxiliar terapêutico físico
  • Terapeutas de radiação
  • Treinadores de atletas
  • Preparadores de equipamentos médicos
  • Cuidadores de laboratórios animais
  • Assistentes veterinários
  • Fisiologistas de exercícios
  • Trabalhadores de recreação
  • Ajudantes de cuidado pessoal
  • Terapeutas respiratórios
  • Assistentes médicos
  • Instrutores aeróbicos
  • Treinadores fitness
  • Técnicos de segurança e de saúde ocupacional
  • Cuidadores de idosos
  • Trabalhadores de apoio na área de saúde


Inteligência Artificial e dados:

  • Especialista em Inteligência Artificial
  • Cientista de dados
  • Engenheiro de dados
  • Desenvolvedor de grandes dados
  • Analista de dados
  • Especialista analitico
  • Consultor de dados
  • Analista de insights
  • Desenvolvedor de inteligencia de negocios
  • Consultor analitico


Engenharia e computação em nuvem:

  • Engenheiro de confiabilidade de sites
  • Desenvolvedor Python
  • Engenheiro full stack
  • Desenvolvedor Javascript
  • Desenvolvedor back end
  • Engenheiro Frontend
  • Desenvolvedor de software .NET
  • Engenheiro de plataforma
  • Especialista em desenvolvimento
  • Engenheiro de nuvem
  • Engenheiro de DevOps
  • Consultor de nuvem
  • Gerente de DevOps
  • Analista de tecnologia


Economia verde:

  • Técnicos de sistemas de geração de gás metano
  • Técnicos de serviços de turbina eólica
  • Especialistas em marketing ambiental
  • Técnicos de processamento de biocombustíveis
  • Gerentes de instalação de energia solar
  • Especialistas em recursos hídricos
  • Gerentes de projetos de energia eólica
  • Oficiais-chefes de sustentabilidade
  • Coletores de materiais recicláveis
  • Especialistas em sustentabilidade
  • Instaladores de células fotovoltaicas
  • Engenheiros de reciclagem e de água
  • Especialistas em prevenção e inspetores de incêndios florestais
  • Engenheiros de células de combustíveis
  • Operadores de reatores de energia nuclear


Pessoas e cultura:

  • Recrutador de tecnologia de informação
  • Parceiros de recursos humanos
  • Especialista em aquisição de talentos
  • Parceiro de negócios
  • Parceiro de negócios para recursos humanos


Desenvolvimento de produtos:

  • Proprietário de produtos
  • Testador de garantia de qualidade
  • Coach ágil
  • Engenheiro de qualidade de software
  • Analista de produtos
  • Engenheiro de garantia de qualidade
  • SCRUM master
  • Gerente de produto digital
  • Gerente de entregas (delivery lead)


Vendas, marketing e conteúdo

  • Assistente de social media
  • Growth Hacker
  • Especialista em sucesso do cliente
  • Coordenador de social media
  • Gerente de crescimento
  • Representante de desenvolvimento de vendas
  • Especialista em marketing digital
  • Representante de vendas
  • Representante de desenvolvimento empresarial
  • Especialista em consumidor
  • Especialista em conteúdo
  • Produtor de conteúdo
  • Escritor de conteúdo
  • Especialista em parcerias
  • Especialista digital
  • CCO - chefe de comércio
  • Especialista em e-commerce
  • Head Of Partnerships
  • Gerente de comércio
  • Líder digital
  • Executivo de conta empresarial
  • Consultor de marketing digital
  • Especialista em desenvolvimento empresarial
  • Gerente de marketing digital
  • Líder de estratégia em vendas
  • Copywriter criativo
  • Líder de marketing
  • Chefe de desenvolvimento empresarial

*Estagiária sob a supervisão de Ana Sá

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