Futuro

Bioinformática: conheça profissão que se popularizou com a pandemia

Área ganhou destaque com a elaboração de testes de detecção do vírus da covid-19, mas segue relevante em estudos multidisciplinares da saúde

Lara Costa*
postado em 24/03/2024 06:00 / atualizado em 24/03/2024 19:55
Anderson Coqueiro é bioinformata há três anos no Sabin -  (crédito: Arquivo pessoal)
Anderson Coqueiro é bioinformata há três anos no Sabin - (crédito: Arquivo pessoal)
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O bioinformata soluciona problemas biológicos por meio do sequenciamento de materiais genéticos, como RNA, DNA e outras proteínas de seres vivos, usando instrumentos tecnológicos. Este profissional pode trabalhar tanto em áreas ligadas à agropecuária, com componentes biológicos de solos, como no ramo da saúde, analisando materiais genéticos de seres humanos para descobrir tratamentos de doenças.

A profissão é recente: foi criada na década de 2000, com o surgimento da possibilidade de sequenciamento do genoma humano por computadores. Na época, o método tinha alto custo, devido à capacidade menor das tecnologias, mas, nos dias de hoje, o procedimento se popularizou.

No Brasil, o ofício estava restrito ao ambiente acadêmico, mas ganhou destaque nos últimos cinco anos, alavancado por seu papel durante a pandemia da covid-19, quando houve a disseminação de testes de detecção do vírus, como o conhecido PCR, ou Reação em Cadeia da Polimerase. A partir de então, o mercado passou a enxergar a necessidade de contratação desses profissionais.

Bruno Russo, gerente de contas na América Latina e Caribe da Corning, empresa fabricante de vidros para aplicações industriais e científicas, afirma que "A maioria das questões ligadas à saúde pública são tratadas separadamente, mas a pandemia da covid-19 foi um momento atípico, que demandou a colaboração de vários profissionais da área. Porém, a profissão continua relevante porque sempre haverá novas doenças a serem tratadas."

O bioinformata vê uma tendência de crescimento das oportunidades no país, principalmente, para aqueles que são contratados no setor privado. "Quem está na pesquisa acadêmica, vê com bons olhos a oportunidade de também trabalhar em empresas, e quanto mais isso acontecer, mais a profissão fica valorizada", diz.

Anderson Coqueiro, 32 anos, é bioinformata há três anos no Sabin, depois de trabalhar por oito anos como pesquisador, e percebe diferenças na profissão entre os dois ambientes. "O que me fez sair da academia foi o fato de poder resolver problemas de saúde reais e entregar de forma rápida, por meio dos exames, uma resposta que pode ajudar alguma família, por exemplo. A área acadêmica tem outro ritmo e não permite que resultados sejam divulgados assim", conta.

Desafios

O salário do bioinformata vai variar de acordo com a formação acadêmica do profissional: com a graduação completa, os rendimentos giram em torno de R$ 2.000. Com o mestrado, esse valor sobe para R$ 4.000 e, com a conclusão de um doutorado na área, pode chegar a R$ 8.000 por mês.

Bruno Russo é formado em biologia, mas no momento, trabalha como gerentes de contas.
Bruno Russo: "Sempre haverá doenças a serem tratadas" (foto: Divulgação)

Porém, Bruno comenta que, pelo fato do orçamento destinado à pesquisa vir sofrendo significativos cortes no país, muitos estudantes formados na área não conseguem se inserir no mercado. "As universidades sempre sofreram com o descaso, e o investimento em pesquisa é ainda menor. As bolsas de pós-graduação são muito baixas e poucos conseguem se sustentar na área acadêmica, por isso, muitas vezes, nem trabalham na área que estudam", lamenta.

Nesse contexto, Anderson acrescenta outros desafios relacionados ao trabalho com bioinformática no Brasil: "Compras de materiais, entre eles, os reagentes, são caras. A parte computacional também é um problema, porque muitos laboratórios não têm tecnologia computacional, ou seja, capacidade de rodar os programas mais avançados, que o trabalho exige."

*Estagiária sob a supervisão de Priscila Crispi

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