
Crédito: Público Brasil
Brasileiros protestam em São Paulo, em Salvador, no Rio e em BH contra consulados
Brasileiros que se sentem injustiçados pela demora dos consulados portugueses no Brasil em conceder vistos de procura de trabalho em Portugal saem às ruas, nesta quarta-feira (22/01) em quatro capitais — São Paulo, Salvador, Belo Horizonte e Rio de Janeiro — para cobrar solução para seus casos. O tempo de espera, em muitos casos, passa de 200 dias. Há casos de famílias sendo separadas, pois um dos cônjuges recebeu a documentação e o outro, não, e de prejuízos com a remarcação de passagens aéreas e de locação de imóveis.
A pauta de reivindicações é grande, afirma o pernambucano Alexandre Alves, que lidera os protestos em frente ao consulado português em Salvador. Os manifestantes cobram respostas para a demora excessiva dos vistos, querem saber por que pedidos mais recentes estão sendo liberados e os antigos continuam parados, exigem uma comunicação mais transparente e questionam o porquê de vários vistos não estarem acompanhados de agendamento junto à Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA).
A paulista Evelyn Santos, 27 anos, está esperando pelo visto de procura de trabalho em Portugal desde julho do ano passado. “São 175 dias”, enfatiza ela, que está em frente ao consulado de São Paulo, considerado um dos mais problemáticos. Ela conta que, durante esse período de espera, recebeu algumas propostas de trabalho, mas teve de recusar porque não está com os documentos em mãos. “Estou morando atualmente com os meus pais, com a vida parada e abalada emocionalmente”, ressalta.
Evelyn se formou em cinema em Cuba e diz que gostaria de explorar esse mercado em outros países para acumular experiência. “Além disso, tem o fato de a minha noiva já estar morando em Portugal há três anos. Então, temos casa, móveis. Compramos tudo juntas”, relata. “Estou tentando ir legalmente para Portugal, porque quero uma vida tranquila. Tenho uma boa informação, sou uma profissional qualificada”, destaca.
Promessa não cumprida
Alexandre está afastado da mulher, Camila, há meses. Os dois contrataram uma empresa de consultoria e um advogado para auxiliá-los nos pedidos de vistos. Seguindo a recomendações do consulado de Salvador, compraram passagem de volta para o Brasil (R$ 3,5 mil cada), contrataram alojamento para o casal por quatro meses (R$ 5 mil) e gastaram mais de R$ 2 mil para requerer o visto e apostilar os documentos. Isso, em junho de 2024.
Brasileiros protestam em São Paulo, em Salvador, no Rio e em BH contra consulados
“Acreditamos e nos planejamos dentro do que nos foi orientado. Mas o tempo passou e só acumulamos prejuízos. Tivemos de comprar outras passagens e remarcar quatro vezes o alojamento em Portugal. Perdemos muito dinheiro. Não é justo”, afirma o pernambucano de Caruaru, operador de logística. O visto de Camila saiu em outubro último e, para evitar mais perdas financeiras, ela embarcou sozinha para Portugal, onde já tinha emprego garantido como designer de unhas em gel.
Brasileiros protestam em São Paulo, em Salvador, no Rio e em BH contra consulados
O Governo de Portugal tem a exata noção de que a capacidade de atendimento nos consulados portugueses está saturada, e nem mesmo o suporte dado pela empresa VFS Global, contratada para fazer a triagem dos pedidos de vistos, está sendo suficiente. Em junho do ano passado, quando anunciou o plano para migrações, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, prometeu contratar 50 pessoas para reforçar as representações consulares, especialmente nos países da Comunidade de Língua Portuguesa (CPLP). Mas o reforço de pessoal ainda não se concretizou.