Correio Braziliense
postado em 22/06/2025 06:00 / atualizado em 22/06/2025 06:00

. - (crédito: Maurenilson Freire)
Por Andrew Skrypnyk, fundador e CEO da Promova, uma plataforma de aprendizado de idiomas, membro da Forbes 30 Under, DJ e surfista
A ascensão da Inteligência Artificial na tradução de idiomas é inegável. Recentemente, o Google anunciou a tradução de fala em tempo real no Google Meet, marcando mais um passo rumo a um futuro em que barreiras linguísticas parecem desaparecer na comunicação on-line. Ferramentas como essa — integradas a vídeo-chamadas, celulares e até fones de ouvido — estão transformando a forma como nos conectamos globalmente. Mas permanecem questões importantes: com esses avanços tão rápidos, aprender um idioma vai se tornar algo obsoleto? E os profissionais bilíngues no mercado de trabalho?
Alguns argumentam que esse tipo de inovação pode, na verdade, causar mais prejuízos do que benefícios. Afinal, estamos resolvendo um único caso de uso — reuniões online. Mas a maioria dos negócios, parcerias e relacionamentos profissionais ainda nasce em contextos presenciais: durante conferências, jantares ou encontros cara a cara. O que acontece quando alguém constrói relacionamentos sólidos on-line, mas não consegue formular uma frase ao vivo porque nunca aprendeu, de fato, o idioma?
Segundo a The Business Research Company, o mercado de tradução por IA deve crescer de US$2,34 bilhões em 2024 para US$7,16 bilhões até 2029 — um salto anual de 25%, impulsionado pela globalização e pela demanda por comunicação rápida. Ainda assim, a proficiência em inglês está em queda pelo quarto ano seguido. O EF English Proficiency Index 2024 mostra que 60% dos países avaliados caíram em desempenho.
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Enquanto a IA traduz com precisão técnica, ela falha ao interpretar contexto, intenção e cultura. Reuniões, conferências, negociações e decisões importantes continuam exigindo presença emocional, adaptabilidade e inteligência cultural — atributos que os bilíngues desenvolvem naturalmente ao viver entre idiomas. Os profissionais, por sua vez, vão além da gramática: estão atentos a tons, silêncios e subtextos, com pensamentos críticos, capazes de adaptar-se ao ambiente, além de construírem confiança genuína — algo que nenhuma máquina pode automatizar.
Há barreiras legais e regulatórias que a IA ainda não supera. Em setores como jurídico, diplomático e corporativo, exige-se certificações, precisão contextual e responsabilidade humana. Mas isso não significa descartar a tecnologia. Aplicativos com IA ajudam estudantes e profissionais a treinar, revisar e aprimorar sua comunicação. Assim como o Excel não forma um bom analista, ferramentas linguísticas não substituem bons comunicadores — apenas os potencializam. A verdadeira vantagem está em saber integrar ambos: a capacidade humana de se conectar com o suporte tecnológico.
No mercado, atualmente, o idioma é essencial. Hoje, mais de 25% dos usuários do aplicativo que desenvolvi dizem que sua principal motivação é profissional. Uma pesquisa mais ampla mostra que 54% dos profissionais usam um segundo idioma no trabalho, e 35% o aprenderam para melhorar suas carreiras.
Em minha percepção, o futuro não será IA ou bilíngues — mas, sim, a colaboração entre ambos. Confiança e fluência passaram a caminhar juntas. Ser bilíngue é atuar entre culturas, adaptando linguagem e comportamento. Em negócios, isso significa negociações mais eficazes, alinhamento ágil de equipes, menos ruídos e relacionamentos mais fortes.
No fim do dia, o diferencial não está em falar outro idioma — mas em entender profundamente as pessoas por trás dele.