Júlia Christine*
postado em 29/06/2025 06:00 / atualizado em 29/06/2025 06:00

Professor Elias Araújo: missão de vida para levar letramento a adultos e jovens - (crédito: Divulgação)
Elias Silva Araújo, 59 anos, dedica a vida ao ensino de jovens, adultos e idosos. Graduado pelo Instituto Superior Nossa Senhora de Fátima, o pedagogo fundou a Casa de Paulo Freire, instituição sem fins lucrativos que, por meio dos ensinamentos do educador e filósofo brasileiro, visa alfabetizar jovens e adultos em São Sebastião.
Filho de um marceneiro e de uma lavradora, Elias nasceu em Januária (MG), em 1966. Apesar da atual fase na área da educação, o sexto de oito irmãos teve que lutar pela sobrevivência na infância, dependendo da agricultura de subsistência. Aos 5 anos, começou a trabalhar na zona rural.
Privado pela vida do direito de ir à escola, sua jornada de trabalho começava às 5h. Com um percurso de 12 km percorrido a pé até o local de trabalho, Araújo carregava no coração o sonho de estudar. Durante alguns anos, o chão foi seu caderno e a enxada, seu lápis.
Em 1971, o mineiro vivenciou a seca dos riachos, a morte da vegetação e dos animais em Januária e em diversos municípios. Todavia, o mais grave foi a morte das pessoas pela fome, que chegava sem pedir licença. Nesse cenário, o trabalho na roça não era mais possível. Então, Elias e sua família partiram para Brasília em busca de uma nova vida.
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A trajetória na capital não foi fácil, mas encontrou no sonho de crescer a motivação para seguir em frente. Continuou trabalhando durante a infância e, aos 8 anos, vendia terra preta e vigiava carros. Além disso, realizou trabalho rural em chácaras e fazia capinagem em casas. Seguiu nesse ritmo até os 16 anos, enfrentando uma rotina pesada desde cedo
Sua história na educação começou na adolescência, aos 12 anos, quando foi matriculado em uma escola pública no Guará II. Mas foi só em 1996 que, após participar de experiências com movimentos estudantis e sindicais, decidiu criar a Casa de Paulo Freire, uma instituição destinada à alfabetização de jovens e adultos que não tiveram oportunidade de concluir os estudos.
Com ajuda da esposa, Herlis Araújo, 57, a instituição educacional adota uma carga horária flexível, para que os educandos conciliem os estudos com a vida pessoal, familiar e profissional. Além disso, a Casa de Paulo Freire adota uma metodologia integrativa e acolhedora. “Usamos a metodologia para fazer com que eles despertem a necessidade de estudar”, afirma.

Pedrina Borges, 57, conheceu a Casa de Paulo Freire em 2011. Cuidadora de idosos e moradora de São Sebastião, foi adotada ainda criança e não teve acesso à escola. Após estabilizar a vida financeira, decidiu dar uma chance aos estudos e, hoje, tem esperança de tirar a carteira de habilitação.
“Não importa a idade, nunca seremos velhos demais para aprender. Depois de conhecer a instituição, fiquei motivada a buscar novas oportunidades e sonhar com coisas melhores. Mesmo com a minha idade, me sinto preparada para correr atrás dos meus sonhos”, assegura.
A entidade tem como base a pedagogia de Paulo Freire, que propõe muito mais do que um método de alfabetização tradicional, o qual limita alunos a decorarem letras e sílabas para formar pequenas palavras. O sociólogo defendia que todos os seres humanos, independentemente de cor, religião, raça, etnia ou sexo, pudessem ser sujeitos de sua própria história.
Quanto às dificuldades na educação, Elias relata que os principais entraves são a permanência na escola e a estigmatização por parte da sociedade civil, que hoje se torna uma adversária da educação de jovens e adultos. Amigos, familiares e líderes espirituais não incentivam esses alunos, contribuindo para a alta taxa de evasão escolar.
Aos que se acham sem tempo para vencer, o pedagogo finaliza deixando uma mensagem importante: “A hora é agora. Nunca é tarde. Não importa a idade ou a posição em que esteja dentro da sociedade, você tem que buscar. O ensino liberta”, conclui.
Estagiária sob supervisão de Ana Sá