EuEstudante
postado em 10/08/2025 06:00 / atualizado em 10/08/2025 06:00
. - (crédito: Maurenilson Freire)
Vivemos sob o império do novo. A cada dia, surgem atualizações, plataformas, tendências, termos, metodologias, ferramentas — todas prometendo revolucionar nossas práticas e nos tornar profissionais mais preparados. Em uma navegação on-line distraída, somos confrontados com listas de livros indispensáveis, cursos gratuitos que “você não pode perder” e recortes de podcasts que parecem nos lembrar, o tempo todo, do quanto ainda não sabemos.
Essa avalanche de informações e conteúdos é frequentemente apresentada como uma vantagem: nunca foi tão fácil acessar conhecimento. E, de fato, há um ganho coletivo nisso. Mas é preciso encarar o outro lado da moeda: a sobrecarga cognitiva, a ansiedade por atualização constante e a ilusão de que, para sermos relevantes, precisamos dominar diferentes assuntos em intervalos de tempo cada vez mais curtos.
Não se trata de defender o comodismo ou recusar o aprendizado contínuo — algo essencial, sobretudo em um mundo em transformação acelerada. O problema está na lógica de acúmulo: consumir sem elaborar, aprender sem aplicar, colecionar certificados sem compreender de fato como aquilo contribui com os nossos objetivos. Há uma diferença entre aprender para transformar e aprender para não se sentir ultrapassado.
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O discurso da obsolescência nos atravessa silenciosamente. É como se estivéssemos todos em uma corrida onde os marcos de chegada mudam de lugar a cada semana. A consequência disso é o esgotamento e, muitas vezes, a superficialidade: lemos artigos pela metade, assistimos a aulas no dobro da velocidade, fazemos cursos em paralelo ao trabalho — e, no fim, nos sentimos ainda mais atrasados.
É hora de uma postura mais crítica diante da cultura da hiperatualização. Precisamos reaprender a escolher. Isso exige um olhar mais estratégico para nossas áreas de atuação, nossos contextos e desafios reais. Quais habilidades, de fato, são relevantes para o que queremos construir? Quais conteúdos se conectam com nossa prática cotidiana? Quais tendências merecem nossa atenção — e quais são apenas fumaça?
Essa curadoria não é simples, mas é necessária. Supõe dizer “não” com mais frequência, abrir mão do medo de estar por fora, e recuperar o valor da profundidade. Melhor compreender bem um conceito e conseguir aplicá-lo de forma criativa, do que conhecer dezenas de modismos sem conseguir ancorá-los em nenhum problema real.
Mais do que aprender mais, talvez o desafio seja aprender melhor. E isso implica tempo, foco e intenção. Significa trocar o impulso de acumular por uma atitude investigativa e reflexiva. Em vez de correr atrás de todas as novidades, que tal voltar àquelas que deixamos pela metade e que ainda podem nos dizer algo novo? Nesta era de excesso, o profissional relevante não é o que sabe tudo — mas o que sabe o que faz sentido. E, para isso, é preciso coragem para filtrar, critério para escolher e maturidade para construir uma trilha de aprendizado que seja mais autoral do que automática.