Sofia Sellani*
postado em 28/09/2025 06:00 / atualizado em 28/09/2025 06:00
. - (crédito: Valdo Virgo)
A queda na procura por cursos de engenharias pelos jovens acende o sinal de alerta para o país. É o que mostra nova pesquisa encomendada pelo Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee). Segundo o levantamento com estudantes do ensino médio, apenas 12% têm interesse em cursar engenharia, comprometendo a capacidade de inovação e competitividade do Brasil em setores estratégicos como infraestrutura, energia, tecnologia e indústria. As causas pela baixa procura são o alto custo de graduação, insegurança com matemática e falta de identificação com a carreira.
Realizada pelo Instituto Locomotiva, a pesquisa teve o objetivo de identificar a atratividade, dificuldades e fatores que levaram os jovens a escolher ou desistir da formação em engenharia. A apuração aconteceu entre o período de junho a julho deste ano, e revela que 909 (79%) dos entrevistados acreditam que falhas na educação básica também impactam na decisão de iniciar ou continuar o curso de graduação.
Desafios
A análise aponta que 253 ( 22%) dos avaliados declararam que a dificuldade com a matemática é o principal motivo para a falta de interesse pelo curso. Entre os estudantes, 16% afirmaram se sentir “muito seguros” com matérias que envolvem cálculos. Os dados confirmam que a insegurança com a área também afeta na atratividade do curso, já que 53% dos entrevistados discordam que o curso é atrativo.
A pesquisa revela que oito em cada 10 estudantes acreditam que cursos de engenharia são caros — fator que pode levar à desistência. Além disso, dificuldades financeiras foram citadas por 265 (23%) como maior razão para possível abandono do curso.
Para Humberto Casagrande, CEO do Ciee, o país corre o risco de ter um apagão de engenheiros no futuro. “Como os cursos de engenharia costumam ser mais caros, muitos têm medo de abandonar e perder o dinheiro que tinham aplicado”, afirmou.
Segundo Casagrande, para mudar os resultados da análise, as mudanças devem começar dentro das salas de aula. O CEO destaca também a importância da educação e de fazer um bom proveito das matérias de exatas — como a matemática — no ensino fundamental/médio, para evitar dificuldades no ensino superior.
Troca de curso
Os desafios para cursar engenharia também influenciam para que muitas pessoas troquem de curso. É o caso de Samay Gomes, 27, que começou a cursar engenharia mecatrônica em 2016 na Universidade de Brasília (UnB) e que posteriormente trocou de área para relações internacionais — com término em 2021 — e ciências sociais, com conclusão em 2023. A falta de identificação com as pessoas do curso e a dificuldade com a programação de computadores foram os fatores que mais a influenciaram a fazer a troca. “Eu não tinha tido acesso antes” , afirmou. “Foi o que mais dificultou o meu sucesso no início.
Para Gomes, a disciplina de algoritmo e programação de computadores, foi uma das mais “desafiadoras” durante o período que estava no curso. Segundo Gomes, a falta de didática e paciência dos professores com os estudantes do primeiro semestre, que estavam “se adaptando à realidade da universidade”, e o número reduzido de estudantes mulheres, também a desmotivaram. “Eu senti que não tinha uma rede de apoio” disse. Ela ressaltou que se sentia deslocada, já que em uma turma de 40 alunos, apenas oito eram mulheres.
Quem se interessa?
A pesquisa evidenciou que entre os 1.150 estudantes avaliados, 138 (12%) têm interesse nas especialidades dentro das áreas de engenharia. Valor que equivale a 2,3 milhões de jovens no Brasil, usado a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2024, com a estimativa de 19,9 milhões de pessoas de 14 a 25 anos — com ensino médio completo ou incompleto — que não acessaram o ensino superior. Entre os estudantes que afirmaram se interessar pela área, as respostas predominantes foram de homens e de alunos do 1º ano do ensino médio.
O estudo mostra que além de engenharia, áreas relacionadas à tecnologia da informação e cursos de gestão de negócios — como administração, economia, empreendedorismo — despertam maior interesse em estudantes com preferência em matérias relacionadas a ciências exatas. Entre os que pretendem cursar engenharia, as especialidades mais concorridas foram: engenharia civil (27%), engenharia de computação (23%) e engenharia elétrica (19%).
Segundo Izabela Freitas, 18, que cursa engenharia civil no Instituto Federal de Brasília (IFB) no câmpus de Samambaia, por mais que existam muitas matérias que envolvam cálculo, ter um professor com boa didática facilita o aprendizado dos alunos. “O fato de ele ser uma pessoa apaixonada pela matéria ajuda para que o conteúdo fique mais fácil” afirmou. Para Freitas, o curso possui aulas diversas. “É um curso que tem a parte teórica, mas a gente também aprende bastante na prática” concluiu a estudante.
*Estagiária sob a supervisão de Ana Sá