Perfil de sucesso

Conheça a história de um dos cientistas mais influentes do mundo

Octávio Franco começou como faxineiro do laboratório da UFC. Hoje, é professor da Universidade da Católica e tem seu nome no ranking da Editora Elsevier, especializada em conteúdos científico, técnico e médico

Sofia Sellani*
postado em 12/10/2025 00:01
Octávio e mais sete pesquisadores descobriram  princípio ativo que deu origem a um creme antienvelhecimento de sucesso internacional -  (crédito: Ed Alves)
Octávio e mais sete pesquisadores descobriram princípio ativo que deu origem a um creme antienvelhecimento de sucesso internacional - (crédito: Ed Alves)

Com 18 anos, Octávio Luiz Franco não imaginava que o simples trabalho de cortar raízes de feijão-de-corda mudaria o rumo de sua vida. Em meio à crise financeira que a família enfrentava, o então estudante de biologia da Universidade Federal do Ceará (UFC) trabalhava como faxineiro no Laboratório de Fisiologia Vegetal da instituição, quando o orientador do laboratório perguntou se poderia usar seus serviços para outra atividade.  

Curioso, o universitário ficou intrigado e indagou-lhe o motivo do questionamento. “Estamos tentando entender qual é o mecanismo que faz o feijão-de-corda responder ao estresse de temperatura. Ao compreendermos o sistema de produção do feijão, podemos reduzir a fome no Nordeste”, respondeu o professor.
Eram 2h da manhã quando Octávio terminou o serviço de cortar todas as raízes pedidas pelo orientador — trabalho que duraria supostamente 10 dias. “Eu não sei o que aconteceu. Na minha cabeça, se eu fosse rápido o bastante, as pessoas não passariam mais fome” , relembrou. Mesmo depois de descobrir que a ciência não era um processo tão rápido como gostaria, a dedicação do estudante levou-o a receber a proposta de participar do projeto de iniciação científica. Desde então, ele nunca mais parou. 
Hoje, aos 49, já trabalhou em 72 países em busca de tecnologias que possam ajudar as pessoas, e é um dos mais renomados cientistas do mundo. Em parceria com sete pesquisadores, em 2021, participou da criação de um princípio ativo que deu origem ao OS-01, um creme antienvelhecimento de sucesso internacional, que » SOFIA SELLANI* Como nasce um PERFIL DE SUCESSO Octávio Franco começou como faxineiro do laboratório da UFC. Hoje, é professor da Universidade Católica e tem seu nome no ranking da Editora Elsevier, especializada em conteúdos científico, técnico e médico aumenta a flexibilidade da pele, reduz rugas e proporciona aparência mais jovem, comercializado pela empresa americana One Skin. 
O nome do professor brasileiro consta no ranking dos 100 mil pesquisadores mais influentes do planeta, elaborado pela Elsevier — editora holandesa especializada em conteúdos científico, técnico e médico. É uma das seis empresas que dominam a publicação científica no mundo. 
Além disso, em 2020, Octávio figurou no ranking mundial de cientistas divulgado pelo Journal Plos Biology feito pela Universidade de Stanford, e no Best Microbiology Scientists in Brazil em 2023, posição baseada no D-index do pesquisador (Discipline H-index), que inclui artigos e valores de citação para uma disciplina examinada. 

Infância 

Octávio com a família no Egito
Octávio com a família no Egito (foto: Arquivo Pessoal)

Paulista e filho mais velho de três irmãos, Octávio nunca pensou que seria cientista. Para acompanhar o trabalho do pai, que era empreendedor e um dos primeiros gerentes de distribuição da Lego no Brasil, a família  frequentemente tinha que mudar de endereço. Dessa forma, a mãe dona de casa, Rogéria Augusta Franco, foi a responsável por criar os filhos. 
Embora não tivesse o ensino fundamental completo, Rogéria sempre se esforçou para que os meninos tivessem acesso à melhor educação. “Ela me ensinou a voar”, explicou o cientista. Além dos estudos, a mãe o incentivava a ler, e presenteou Octávio quando tinha sete anos, com o livro Admirável mundo novo, para que pudessem debater juntos. “Ela foi, e é espetacular, dizia que não importava o que eu quisesse ser, desde que eu fosse feliz.Eu acreditei” explicou Octávio.  
Na adolescência, precisaram se mudar mais uma vez, para um destino longe de São Paulo: Fortaleza. Na capital cearense, motivado pelo interesse em animais, Octávio começou a cursar biologia na Universidade Federal do Ceará (UFC). Por conta do serviço do pai, a condição financeira  da família era instável , e quando Octávio tinha 16 anos, começaram a passar por uma intensa crise financeira, algo que mudou o padrão de vida da família.
Entre os trabalhos de “bico” que fazia, Octávio relembra da época em que trabalhava como monitor de uma professora de biologia celular — ela lhe dizia que ele era “burro” demais para fazer o serviço. Motivado em melhorar as habilidades, começou a se inscrever, repetidamente, para uma bolsa de iniciação científica na universidade.
Octávio conta que o orientador não aceitava de forma alguma. Achava que lhe faltava jeito para o trabalho. “Eu, realmente, queria muito, imaginava que, se eu aprendesse, poderia melhorar. Na terceira tentativa, ele me disse que tinha uma vaga”, contou. Todavia, o cargo seria longe do que ele esperava. Foi assim que, com 18 anos, começou a trabalhar em serviços de limpeza do laboratório. Com baixa remuneração, era responsável por limpar os equipamentos e passar pano de chão e nas bancadas. 

Rotina 

Octávio (centro) com a turma na Universidade Federal do Ceará (UFC); ao lado da filha, Helenna e um registro da viagem ao Egito com a família
Octávio (centro) com a turma na Universidade Federal do Ceará (UFC); ao lado da filha, Helenna e um registro da viagem ao Egito com a família (foto: Arquivo Pessoal)

Após três meses sendo faxineiro no laboratório, Octávio passou a ser aprendiz, e a se desenvolver na área. Formado em 1998, seguiu rumo a Brasília para se aprofundar no conteúdo de biotecnologia e realizar o mestrado na Universidade de Brasília (UnB). Mesmo com a dificuldade financeira, não desistiu de construir uma carreira científica e ajudar outras pessoas com seu conhecimento. “Eu lutei muito no mestrado, mesmo quando a situação começou a ficar muito ruim. Todo mundo falava que eu não ia conseguir passar na prova”, contou o cientista.  
Apesar dos contratempos, Octávio passou em primeiro lugar. Para se sustentar e manter os estudos, trabalhou como garçom, aplicador de provas e açougueiro. “Eu chegava a trabalhar 16 horas por dia, e não queria ficar pra trás nos estudos, então, estudava muito. Às vezes, as pessoas só dão desculpas. Não tenho disso, quando quero um negócio, faço tudo que é possível para dar certo”, disse. Com dois anos e meio, terminou o mestrado e doutorado na universidade e se tornou um dos doutores mais jovens do Brasil. 
Ao concluir os estudos, recebeu uma oportunidade da Universidade Católica de Brasília (UCB) para ser contratado e realizou a primeira pesquisa pós-doutorado em 2001 na Embrapa, onde trabalhou como pesquisador por alguns meses. A partir dessa experiência, começou a saga internacional.  
Octávio fez pós-doutorado e missões de trabalho em uma série de países, que incluem Escócia, Austrália, Canadá, Israel, Itália, Holanda e Portugual, em busca de tecnologias para ajudar e melhorar a qualidade de vida das pessoas. 

Resiliência 

 Octávio com sua filha Helenna de Castro Franco
Octávio com sua filha Helenna de Castro Franco (foto: Arquivo Pessoal)

Em toda a sua jornada, ele diz que nunca teve que sacrificar nada, e não gosta de se referir à sua vida dessa forma. “Quando minha filha ia nascer, eu falei que estava pronto para qualquer sacrifício, e minha mãe falou algo que nunca esqueci: ‘a palavra sacrifício é horrível, porque você está dando uma coisa negativa em troca de algo positivo’.  Então, a verdade é que eu nunca precisei fazer sacrifício nenhum. Cuidar da minha filha é como respirar. Não é sacrifício cuidar dela, assim como não é me dedicar à ciência”, ressaltou. Com a palavra “resiliência” tatuada no braço, diz que essa é sua ideologia. 
O dia mais feliz da vida de Octávio foi quando a filha, Helenna de Castro Franco, nasceu. Atualmente, com 17 anos, ela conhece 32 países por acompanhar o pai, e sonha em cursar  arquitetura e urbanismo na UnB. “Eu nunca quis ficar longe dela”, disse Octávio. 

Atualmente 

Katy Perry no programa de TV, mostrando o creme da One Skin
Katy Perry no programa de TV, mostrando o creme da One Skin (foto: Reprodução / Redes Sociais)

Desde 2014, ele faz uma ponte aérea semanal entre Brasília e Campo Grande (MS) e atua como professor na Universidade Católica de Brasília (UCB) e na Universidade Católica Dom Bosco. Além disso, coordena o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Bioinspir para produtos bioinspirados; ocupa o cargo de pesquisador 1A e trabalha como consultor do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Também é membro da Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular (SBBq), da Sociedade Americana de Bioquímica e Biologia Molecular (ASBMB), da Sociedade Americana de Microbiologia (ASM) e da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS).  
Publicou mais de  500 artigos e detém dezenas de patentes de produtos que ingressaram nos mercados de cosméticos e saúde animal. “O mascote do meu grupo é um polvo, porque os alunos falam que eu estou com os meus tentáculos em qualquer parte do mundo”, brincou.  
Octávio diz que tem a meta de lançar um produto no mercado farmacêutico e sonha em auxiliar na cura de uma doença incurável. Possui diversos colaboradores internacionais e uma equipe pela qual é muito grato. Ele ressalta que, apesar de todas as dificuldades, não pretende parar. 
“As coisas vão ficar difíceis.Teve dias que eu olhei e pensei ‘cara, eu não vou conseguir’. Mas, se você colocar uma missão e falar que pode fazer, sim, vai acontecer uma hora ou outra, só tem que ter resiliência com o tempo. Todo mundo falava que eu não ia conseguir, que não dava para fazer ciência de ponta no Brasil, e que eu estava perdendo meu tempo. As pessoas negativas sempre vão estar lá”, ressaltou Octávio. 
A missão do cientista é usar o próprio conhecimento como ferramenta para ajudar o máximo de pessoas. A mensagem que deixa: a partir da resiliência, tudo é possível. “Quero que meu alunos olhem e pensem ‘eu sei que tá difícil, mas se até esse doido aqui conseguiu, eu também posso conseguir’ 
Estagiária sob a supervisão de Ana Sá 

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