ENEM DOS PROFESSORES

Prova Nacional Docente atrai um milhão de candidatos na busca pela estabilidade

Grande atrativo para a maioria dos candidatos é a possibilidade de usar a nota do exame em concursos públicos em 22 estados e 1.508 municípios que aderiram ao certame

Raphaela Peixoto
postado em 26/10/2025 06:00 / atualizado em 26/10/2025 06:00
Ana Leia, pedagoga, fará prova nacional na Bahia / Estudante Thais da Costa valoriza modelo de exame nacional
 -  (crédito: Material cedido ao Correio)
Ana Leia, pedagoga, fará prova nacional na Bahia / Estudante Thais da Costa valoriza modelo de exame nacional - (crédito: Material cedido ao Correio)
Com mais de 1 milhão de inscritos, a primeira edição da Prova Nacional Docente (PND) será aplicada hoje, a partir das 13h30, e é destinado a alunos que concluirarão cursos de licenciatura em 2025 e formados em anos anteriores. O grande atrativo para a maioria dos candidatos é a possibilidade de usar a nota no exame em concursos públicos para seleção de docentes em 22 estados e 1.508 municípios que aderiram à prova como etapa única ou complementar em certames. O Distrito Federal foi uma das unidades da federação que não aderiram à avaliação. Os resultados individuais da PND terão validade de três anos e poderão, também, ser utilizados em processos seletivos simplificados para contratação de professores. 
De acordo com Ministério da Educação, “a PND foi criada para melhorar a qualidade da formação, estimular a realização de concursos públicos e induzir o aumento de professores qualificados nas redes públicas de ensino”. A pedagoga Ana Leia, 33 anos, moradora de Camaçari, interior da Bahia, é um exemplo dos milhares de profissionais que veem na PND a oportunidade de reverter uma trajetória de precarização. Motivada pela falta de oportunidades e por uma jornada de trabalho “muito exaustiva” com baixa remuneração em escolas particulares, ela se prepara desde abril para o exame. A pedagoga, que leciona há cerca de oito anos, decidiu buscar a carreira pública  após o nascimento da filha, quando começou a repensar a vida profissional. 
Ana tem dedicado entre três e quatro horas diárias aos estudos, incluindo a preparação de temas como legislação, formação docente e conhecimento específico. Formada há quatro anos, a docente conta que teve que se atualizar a respeito de conteúdos e mudanças não abordados na época da graduação e nas mudanças na legislação. Apesar do hiato desde a graduação, ela não se sente em desvantagem, pois a revisão a ajudou a relembrar o que estudou. “Não me sinto [em desvantagem], porque, conforme eu estava estudando, eu ia relembrando o que estudei na faculdade. Apesar de ter atualizado muita coisa” 
Para Carlinhos Costa, coordenador das carreiras educacionais do Gran Concursos, o uso da nota da prova em seleções públicas incentiva os estudantes a levar o exame com maior seriedade. “Quem está concluindo a faculdade nunca se preocupou muito com o resultado do exame, pois esse resultado, em regra, não impactaria tanto a sua vida. Mas, agora, impacta, porque se for bem nessa prova, ele pode sair da graduação empregado.” 
A estudante de pedagogia na Universidade Católica de Brasília Thais da Costa, 31 anos, expressa uma visão positiva e de reconhecimento sobre a iniciativa. “Acho importante ter esse padrão nacional que valoriza a nossa formação. A gente estuda muito para estar preparado para a sala de aula. Então, assim, ver essa iniciativa é uma forma de reconhecer também o nosso esforço, eu acho, como forma positiva”, afirma. 
Embora a PND tenha o potencial de valorização, ela ainda precisa se consolidar como uma política efetiva. A vice-presidenta da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), Amábile Pacios, ressalta que “o exame não apresenta, até agora, aderência significativa entre os professores, tanto do setor público quanto do privado. Ainda não há movimento expressivo de docentes buscando se qualificar com foco nessa avaliação. É necessário que a prova conquiste credibilidade e relevância prática — tanto na formação inicial quanto na contratação — para que possa, de fato, gerar impacto positivo na valorização da profissão” 

Prova não decoreba 

Organizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a PND avaliará os inscritos em 17 áreas de licenciatura. Entre os cursos com maior número de candidatos estão: pedagogia, reunindo 560.576 inscritos; letras – português com 73.187 inscritos; matemática, que contabiliza 72.530 participantes e educação física, que reúne 65.911 candidatos. A avaliação será dividida em duas etapas: formação geral (composta por 30 questões objetivas e uma discursiva) e componente específico (que contará 50 questões de múltipla escolha) e a duração total de cinco horas e trinta minutos. 
Especialistas alertam que o modelo de avaliação da PND é muito diferente dos concursos tradicionais. Eles reforçam que a diferença da PND em relação a certames é que o exame não focará na literalidade da lei, mas, sim, na aplicabilidade da sala de aula e na capacidade do professor de solucionar problemas. O modelo é estruturado para garantir que as questões estejam contextualizadas à realidade da sala de aula. 
“O candidato pode esperar em todas as questões uma situação envolvendo temas relevantes como educação inclusiva, educação ligada a relações étnico-raciais, falando sobre o feminismo, falando sobre diversidade e sempre com alternativas para que o candidato escolha a mais adequada para o projeto de educação que a gente vem construindo”,afirma o professor e sócio-diretor do curso preparatório Os Pedagógicos William Dornela. 
Além disso, os professores chamam atenção para o fato de que a PND utilizar o método Teoria de Resposta ao Item (TRI), o mesmo do Enem, algo incomum em concursos públicos tradicionais. De acordo com Carlinhos, o candidato não deve se assustar com o TRI, mas precisa estar atento para responder todas as questões e evitar erros bobos.”Não adianta a gente ficar preocupado com isso. A preocupação tem que ser: eu devo guardar o máximo de atenção para resolver todas as questões,” orienta o professor. 

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