Envelhecer

Etarismo em pauta: movimento bstory quer recolocar profissionais 50+ no centro do debate

Movimento bstory quer recolocar profissionais 50 no centro do debate. Iniciativa reúne especialistas de diversas áreas para promover inclusão geracional e reconhecimento da experiência

Alice Meira
postado em 09/11/2025 06:00 / atualizado em 09/11/2025 06:00
1º encontro do conselho maestro do movimento bstory -  (crédito: Divulgação/ Ale Moose)
1º encontro do conselho maestro do movimento bstory - (crédito: Divulgação/ Ale Moose)
Alice 
O Brasil está envelhecendo em ritmo acelerado. Um estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que a parcela de pessoas com 60 anos ou mais saltou de 22,3 milhões para 31,2 milhões entre 2012 e 2021, um crescimento de quase 40%. Com o avanço da medicina e a expectativa de vida cada vez mais elevada, a tendência é que esse número continue a crescer.  
Mesmo ganhando espaço em quantidade, a população idosa é vítima de uma série de preconceitos. O etarismo — discriminação baseado na idade — torna-se uma questão central para combate na sociedade. Nesse contexto, surge o bstory: movimento de profissionais para valorizar a população 50+ e combater o idadismo.  

Como surgiu 

Paulo José Marinho: O etarismo ficou à deriva
Paulo José Marinho: O etarismo ficou à deriva (foto: Divulgação/Ale Moose)

Ao identificarem um grande volume de profissionais com mais de 50 anos que foram deixados de lado, com dificuldade de recolocação no mercado de trabalho devido ao etarismo, os irmãos Paulo e Daniel Marinho, profissionais do Grupo Empresarial de Comunicação (Gecom), em sociedade com Edu Ribeiro, do Jornalistas&Cia, fundaram o Movimento bstory.”Nasceu olhando para esse mercado. Enxergamos o que a gente vê no resto do Brasil: preconceitos relacionados a quem está nessa faixa etária, que as pessoas entendem que não tem mais capacidade. O que é uma balela”, afirma Paulo.  
Daniel Marinho enfrentou dificuldade de recolocação após os 50 anos
Daniel Marinho enfrentou dificuldade de recolocação após os 50 anos (foto: Divulgação/ Fernando Donasci)
Além disso, também nasceu da vontade dos fundadores de reverter esse cenário. “Veio da nossa vontade de contribuir, já que temos capacidade de fazer isso.” Paulo comenta que, após décadas no mercado de comunicação, foi criada uma rede de apoio: “Daniel e eu fizemos isso a vida inteira: construção de confiança, relacionamento, reputação e diálogo.”  
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Todos acreditam no poder das mídias — sejam redes sociais, televisivas a até o rádio — para sensibilizar e conscientizar as pessoas sobre o combate ao ageísmo. “Queremos utilizar o poder que a comunicação tem. Apenas por meio dela você consegue mobilizar a sociedade por uma causa”, explica Paulo. “Então, acreditamos que somando esforços, podemos plantar boas sementes para ter um um Brasil mais justo, mais humano, e mais gostoso de viver” 

Por que falar agora? 

Para Paulo, tratar dessa temática, neste momento, é imprescindível, já que o tema foi deixado de lado nos últimos anos: “Quando você olha para o movimento de diversidade que cresceu no Brasil nos últimos 10, 15 anos, ele ficou muito focado em raça e gênero. O etarismo ficou à deriva”, afirmou. O movimento pretende “colocar o dedo nessa ferida”, para colocar o tema em foco, já que “não só o Brasil, mas o mundo inteiro, precisa encontrar novas soluções para acomodar essa população que é gigantesca” 
Daniel, um dos fundadores do projeto, também teve uma dificuldade pessoal de recolocação no mercado de trabalho após os 50 anos, o que reforçou a percepção do problema: “Eu tenho experiência própria. Por exemplo, hoje, não moro no Brasil, mas meu último trabalho foi em uma empresa em 2019. Mudei para cá em junho de 2021, e nesse meio-tempo, o mercado se fechou. Vivi na pele tudo isso” 
“As empresas não acordaram que esse público não é mais só um segmento, é um mercado altamente rentável”, afirmam os fundadores do movimento. Os idosos costumam ter mais tempo para consumir entretenimento, viajar e empreender.  

Premiação 

O ponto de partida do movimento é a criação do Prêmio bstory — a experiência que transforma. A solenidade de premiação está marcada para 2 de fevereiro de 2026, no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo.  A ideia é dar visibilidade e reconhecer trajetórias bem-sucedidas de pessoas que apoiam a causa. As atividades premiadas são múltiplas, em 15 categorias. Doze delas focadas nos profissionais, relacionados à educação, pesquisa acadêmica, projetos de pesquisa e outras esferas. As três categorias restantes são focadas nas iniciativas organizacionais, abrangendo os macro setores de indústria, comércio e serviço.   
Os membros do conselho maestro ficam responsáveis por indicar até três iniciativas den- tro das categorias. “Não é um prêmio aberto para inscrições da sociedade. Como os membros do conselho são de áreas transversais, entendemos que eles se portariam como porta vozes da sociedade”, explica Paulo. Eles terão até 17 de novembro para terminar as indicações, e no início de dezembro serão anunciados os finalistas. “Por meio desses debates qualificados, que é o poder de fogo que a comunicação tem, nós vamos ser fontes de inspiração de novas boas práticas. É aí que o Brasil se transforma”. 
Por meio desses dados, uma das principais ideias do projeto é criar um banco de dados sobre etarismo no Brasil. Mesmo sendo um grupo novo — fundado em 17 de julho deste ano — as expectativas são altas. “O que nós temos é um projeto de longo prazo. Se nós pensarmos na edição anual do Prêmio bstory, tranquilamente nós seremos o principal banco de dados de etarismo no Brasil”, afirma Daniel.  
Em parceria com o Data8 — hub de pesquisa, tendência e inovação sobre a economia da longevidade — e o bstory, o Grupo.Map — empresa especializada no relacionamento entre negócios, marcas e personalidades da cultura e entretenimento — está realizando pesquisas sobre o público 50+: “Vai trazer insights muito interessantes em relação a diversos temas que englobam esse assunto, como o trabalho”, afirma Paulo.   

Como funciona o bstory 

O grupo é direcionado por um conselho maestro, composto por 127 membros. Os  profissionais são de áreas diversas, como educação, literatura, jornalismo, sustentabilidade e marketing, e estão todos listados e dispostos no site do bstory (www.bstory. com.br).  Esse conselho comanda o movimento em conjunto, a partir de ideias e sugestões tomadas em grupo.   
Segundo os fundadores, além do conselho, o movimento funciona por meio de dois blocos principais. O primeiro, de visibilidade, diz respeito à premiação anual de reconhecimento de iniciativas que combatem o etarismo no Brasil, e a categorias que ainda estão em desenvolvimento, como os bstory Talks: a ideia é promover debates em seminários mensais, para informar a sociedade e promover a troca de informações sobre temas geracionais. Além da plataforma de dados. No site, serão concentrados iniciativas, artigos de opinião, pesquisas e estudos sobre o tema.  
O segundo bloco de ação diz respeito à atuação com empresas: o movimento bstory pretende oferecer consultoria para empresas, com objetivo de ajudar as organizações a lidar com os desafios da convivência de múltiplas gerações no ambiente de trabalho e a inserir melhor o tema geracional em suas políticas. 

Todos são bem-vindos 

Eduardo Ribeiro, do Jornalistas
Eduardo Ribeiro, do Jornalistas (foto: Divulgação/ Arquivo Pessoal)

Apesar de ganhar força entre pessoas com mais de 50 anos, o movimento abarca pessoas de todas as idades. A proposta é reunir vozes de todas as idades e áreas de atuação, promovendo a colaboração em torno de uma causa comum: a valorização da diversidade etária e o fim dos preconceitos de idade. “O movimento é antietarista por natureza. Nossa causa é o combate à discriminação, mas as pessoas que estão ao nosso lado são multigeracionais. É um grupo absolutamente voluntário”, afirma Eduardo. “É importante dizer, para que falas como ‘Ah, eu tenho só 30, não posso participar não’. Ao contrário”.  
* Estagiária sob supervisão de Ana Sá      

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