postado em 28/12/2025 06:00 / atualizado em 28/12/2025 06:00
. - (crédito: Maurenilson)
Dezembro costuma nos deixar impacientes. É o mês em que olhamos para trás com uma lupa desproporcional e para frente com um otimismo quase ingênuo. Fazemos balanços que misturam culpa e pressa, como se o ano que termina fosse um julgamento definitivo das nossas capacidades. E é justamente nesse estado emocional — acelerado, simbólico e irrealista — que muitos planejam o futuro profissional.
A cada virada de calendário, repetimos a mesma ilusão: superestimamos o que podemos realizar em um ano. Transformamos objetivos complexos em promessas de curto prazo, como se a vida profissional obedecesse ao mesmo ritmo das metas trimestrais das empresas. Ao mesmo tempo, subestimamos o que os próximos cinco anos poderiam representar se fôssemos consistentes, pacientes e estratégicos.
Esse descompasso entre urgência e profundidade tem consequências claras. Em janeiro, começamos inflamados. Em março, ajustamos expectativas. Em novembro, sentimos que “não deu tempo”. Mas raramente perguntamos se o erro está na execução — ou na expectativa impossível de que transformações relevantes cabem em apenas doze meses.
Metas de longo prazo têm uma vantagem que raramente reconhecemos: elas acolhem a realidade. Permitem desvios, pausas, retomadas. Reconhecem que a construção de algo significativo envolve etapas intermediárias, e não saltos heroicos. Os projetos profissionais que realmente deslocam uma carreira — uma especialização, uma mudança de área, um negócio próprio, um novo domínio técnico — precisam de temporadas, não de resoluções de Réveillon.
O desafio, portanto, não é sonhar mais alto. É alongar o horizonte. Projetos plurianuais não são menos ambiciosos; são mais inteligentes. E, ao contrário do que muitos imaginam, começam pequenos. Não exigem rupturas imediatas, apenas movimentos contínuos. A pergunta que deveríamos fazer em dezembro não é “o que posso realizar no próximo ano?”, mas “que jornada quero iniciar agora para que, em cinco anos, eu reconheça o caminho percorrido?”
Isso não significa abandonar metas anuais, mas ressignificá-las. O próximo ciclo pode — e deve — ser tratado como o primeiro capítulo de algo maior. Se a ambição é mudar de carreira, talvez 2026 seja o ano de explorar e estudar. Se a meta é empreender, o próximo ano pode ser o período de prototipar, testar, validar. Se o objetivo é assumir uma posição de liderança, o início pode estar em desenvolver competências críticas, não em conquistar imediatamente o cargo.
O senso comum nos convence de que falta disciplina. Mas, na maioria das vezes, falta contexto. Falta compreender que a dimensão de um projeto precisa ser acompanhada pela dimensão de seu prazo. Ao transformar cinco anos em aliados — e não em ameaças distantes — criamos espaço para trajetórias mais sólidas e menos frustradas.
No balanço de 2025, talvez devêssemos trocar a urgência performática pela consistência estratégica. O futuro não se impõe de uma vez; ele se constrói por camadas. Dezembro pode até ser o fim do ano, mas não precisa ser o fim dos nossos planos. É apenas o momento de decidir com quais projetos queremos caminhar tempo suficiente para que, lá na frente, pareçam inevitáveis.