postado em 28/12/2025 00:01 / atualizado em 28/12/2025 06:00
Pedro Lucas Toé, 19 anos:"O planejamento é importante para tomar o controle da vida" - (crédito: Bruna Gaston CB/DA Press)
Refletir sobre a trajetória profissional antes de projetar o futuro é um passo essencial. Avaliar conquistas, reconhecer erros e identificar lacunas ajuda a construir metas mais consistentes. Para a professora do curso de psicologia da Universidade Positivo, Janete Knapik, metas eficazes precisam ser específicas e compatíveis com a realidade de cada pessoa. “É fundamental que os objetivos sejam palpáveis e realistas, considerando o contexto profissional, os recursos disponíveis e as possíveis barreiras. Nem tudo é previsível, e a experiência recente do mercado de trabalho mostrou o quanto cenários podem mudar rapidamente”, afirma.
Para Pedro Lucas Toé, 19 anos, o planejamento por metas é importante para “tomar o controle da vida”. Muitas vezes, os projetos desejados não saem do papel por falta de organização. “Da primeira vez que fiz, tive um sentimento grande de realização pessoal no final do ano, quando elas foram cumpridas”, afirma. A conexão da realidade com o planejado também é importante, em aspectos acadêmicos e pessoais: “Minhas metas estão relacionadas a algum aspecto da minha vida que ou eu gostaria de manter ou melhorar para o ano seguinte.”
Segundo a psicóloga, separar desejos genéricos de metas executáveis faz diferença no resultado. “Pensar sobre o que se quer é um ganho, mas só há avanço quando isso se transforma em ação. Estabelecer formas de acompanhar e mensurar as metas permite visualizar o progresso, o que tem um efeito psicológico reforçador e ajuda a manter o engajamento ao longo do ano”, explica.
O acompanhamento contínuo é apontado como um dos principais fatores de permanência. Ferramentas como cronogramas, registros escritos, aplicativos ou indicadores simples ajudam a tornar o progresso visível. “Quando a pessoa percebe que o planejamento está funcionando, isso se transforma em estímulo para continuar”, diz Janete.
Ambição sem critério
A pressão por resultados rápidos e metas grandiosas é um dos principais motivos de abandono precoce. Para a psicóloga Cristiane Pertusi, metas profissionais não devem se transformar em um fardo emocional. “Elas precisam impulsionar a carreira, e não sobrecarregar. Objetivos que respeitam o momento de vida, a rotina e as condições reais têm mais chances de serem alcançados e de gerar bem-estar”, afirma.
A terapeuta Daniella Vilar reforça que dividir metas em etapas menores é uma estratégia essencial. “Quando o objetivo é fragmentado, ele deixa de parecer inalcançável. Celebrar pequenas conquistas ao longo do caminho fortalece a autoconfiança e mantém a motivação”, explica. Para ela, ajustar o plano não significa fracasso, mas maturidade profissional. “Flexibilidade é uma competência cada vez mais valorizada no mercado.”
Saúde emocional
O aspecto emocional do planejamento também influencia diretamente o desempenho profissional. Segundo a psicanalista Camila Camaratta, metas podem ser fonte de motivação ou de pressão excessiva, dependendo de como são construídas. “A criação de metas é uma ferramenta poderosa de autoconhecimento. Mas, quando não são genuínas ou estão desalinhadas com a realidade, podem gerar frustração, culpa e até comportamentos de autossabotagem”, explica.
Pesquisas ajudam a dimensionar o problema. Um levantamento da Universidade de Scranton aponta que apenas 8% das pessoas conseguem cumprir as resoluções de ano-novo. No Brasil, dados do Datafolha mostram que 76% da população estabelece metas no início do ano, mas menos da metade consegue colocá-las em prática até o fim. Para Camila, a diferença entre intenção e execução está ligada a fatores emocionais, expectativas irreais e influência externa.
“A cobrança social e o discurso das redes sociais levam muitas pessoas a estabelecer metas que não são, de fato, delas. São objetivos baseados em comparação, pertencimento ou validação externa, e isso gera sensação de vazio quando não são atingidos”, afirma. Segundo a psicanalista, metas profissionais precisam fazer sentido para quem as estabelece, e não apenas atender a padrões externos de sucesso.
Planejamento
No cenário profissional, o planejamento ganha ainda mais relevância diante das mudanças no mercado de trabalho. De acordo com o relatório Jobs & Hiring Trends, do Indeed, adaptabilidade, aprendizado contínuo e flexibilidade seguem entre as competências mais valorizadas, enquanto empresas passam a considerar fatores que vão além da formação acadêmica tradicional.
Para Lucas Rizzardo, diretor de vendas do Indeed Brasil, o início do ano é um momento estratégico para reorganizar a carreira. “É uma oportunidade para planejar uma transição, buscar qualificação ou redefinir prioridades. Independentemente do resultado do ano anterior, o recomeço profissional pede organização e clareza”, afirma.
Segundo ele, um plano eficiente começa com objetivos bem definidos e hierarquizados. “É importante estabelecer metas de curto, médio e longo prazo, conectadas entre si. As metas são ações práticas que conduzem ao objetivo maior. Nem tudo será alcançado em um único ano, e dividir o caminho em etapas torna o processo mais viável”, explica.
Criar um cronograma realista e registrar o plano por escrito também contribui para a disciplina e o equilíbrio. “O planejamento ajuda a visualizar a trajetória profissional como um todo, mas deve prever ajustes ao longo do caminho. Foco e determinação são importantes, assim como preservar a saúde mental e reservar espaço para o lazer”, conclui Rizzardo.
Ajustar não é desistir
Para Camila Camaratta, compreender que metas não são contratos rígidos é fundamental para evitar culpa e frustração. “A vida é imprevisível, e eventos externos podem exigir mudanças de rota. Flexibilidade é essencial para que os objetivos não se tornem aprisionantes”, afirma. Segundo ela, reconhecer limites e acolher erros faz parte de um planejamento profissional saudável.
Ao alinhar metas à realidade do mercado, às condições individuais e ao próprio momento de vida, o planejamento deixa de ser uma lista de promessas e passa a funcionar como uma ferramenta concreta de organização, crescimento e desenvolvimento profissional ao longo do ano.
Colaborou Alice Meira