Verificação

Órgão de saúde dos EUA não incluiu ivermectina entre terapias contra covid-19, diferentemente do que diz post

É enganoso o post no Twitter que sugere que o National Institute of Health dos Estados Unidos passou a recomendar ivermectina para o tratamento de covid-19

Projeto Comprova
postado em 27/09/2022 14:15
 (crédito: Comprova/ reprodução)
(crédito: Comprova/ reprodução)

Investigado por: Nexo, Estadão e SBT

Enganoso: Não é verdade que um dos principais órgãos de pesquisa em saúde dos Estados Unidos, o National Institutes of Health (NIH), recomenda ivermectina para o tratamento de covid-19, como sugere um post no Twitter. Na verdade, o órgão contraindica o uso do remédio para a doença, a não ser em estudos clínicos. A Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora americana equivalente à Anvisa, também não autoriza a ivermectina para tratar ou prevenir a covid.

Conteúdo investigado: Tuíte do candidato a deputado federal pelo Rio de Janeiro Ed Raposo (PTB) diz que o National Institutes of Health adicionou a ivermectina em suas diretrizes de terapia viral para covid-19. O tuíte mostra a imagem de uma captura de tela do site do NIH que põe a ivermectina ao lado de outros medicamentos estudados ou já usados como tratamento para a doença, como o remdesivir.

Onde foi publicado: Twitter.

Conclusão do Comprova: É enganoso o post no Twitter que sugere que o National Institute of Health dos Estados Unidos passou a recomendar ivermectina para o tratamento de covid-19. A postagem, feita pelo candidato a deputado federal Ed Raposo (PTB-RJ), usa uma imagem de captura de tela verdadeira do site do NIH com informações sobre o remédio, mas traz conclusões equivocadas sobre o conteúdo do texto.

Em sua página oficial de terapias antivirais para covid-19, o NIH disponibiliza dados sobre medicamentos em estudo ou já usados para combater a doença, como remdesivir, paxlovid e ivermectina. A imagem do tuíte verificado é um print dessa página, na qual é possível ler “COVID-19 Treatment Guidelines” (“diretrizes para tratamento da covid-19”) e os links sobre cada remédio. Diferentemente do que diz o post, porém, o NIH não recomenda o uso da ivermectina para covid-19, a não ser para estudos clínicos.

“Embora haja muitos estudos sobre a ivermectina, apenas alguns foram bem desenhados e conduzidos”, diz o NIH no site para justificar a contraindicação. “Ensaios clínicos mais recentes não têm mais as limitações dos estudos anteriores, mas não mostram evidências claras de que a ivermectina reduz o tempo de recuperação ou previne a progressão da covid-19”. Para o órgão, é preciso haver mais estudos.

Dados de um ensaio clínico conhecido como Together, que foi conduzido no Brasil e é citado pelo NIH, mostram que não há diferença significativa entre o uso de ivermectina e de placebo para reduzir o risco de hospitalização por covid-19 (em um caso, houve 14,7% de hospitalização e em outro, 16,4%). Também não há diferença relevante entre os dois para reduzir o risco de mortalidade pela doença (3,1% a 3,5%).

Não há terapia com ivermectina para covid-19 nos Estados Unidos. Consultada pelo Comprova, a Food and Drug Administration, agência reguladora que aprova medicamentos e vacinas no país, afirmou que nunca autorizou a aplicação do vermífugo para tratamento ou prevenção da doença. A agência disse também que tem aplicado testes clínicos com o remédio e apurado seus resultados contra a covid-19.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova verifica conteúdos com grande alcance nas redes sociais. Até 26 de setembro, havia cerca de 11,5 mil interações com o tuíte checado, entre curtidas e compartilhamentos.

O que diz o autor da publicação: O Comprova enviou uma mensagem de WhatsApp a um número indicado no Twitter como da campanha de Ed Raposo, mas não obteve resposta até o fechamento desta verificação. O Comprova também tentou ligar para o número, mas ele não aceitou as chamadas.

Como verificamos: Para verificar o tuíte enganoso, o Comprova buscou no Google as expressões “NIH”, “ivermectina” e “terapias antivirais” (as mesmas que aparecem na imagem de captura de tela compartilhada pelo autor da postagem) e chegou ao site da agência americana. Na seção sobre terapias antivirais contra a covid-19, a página do NIH de fato mostra a ivermectina, mas como remédio em estudo.

A verificação leu as informações do site sobre o medicamento. A partir daí, o Comprova entendeu que, na verdade, o NIH não recomenda o uso do vermífugo contra a covid-19, diferentemente do que sugere o tuíte verificado. De volta ao Google, a reportagem descobriu que serviços de checagem como o da agência Reuters já haviam desmentido no início do mês boatos como o espalhado pela publicação.

Para saber se a ivermectina havia sido liberada de alguma outra forma nos Estados Unidos, o Comprova entrou em contato com a Food and Drug Administration. A verificação perguntou à agência americana se o uso do remédio recebeu parecer favorável para o tratamento ou prevenção da covid-19. Por e-mail, a agência negou ter feito qualquer autorização do tipo, apesar de ainda conduzir estudos com o remédio.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia, as eleições presidenciais e políticas públicas do governo federal. Conteúdos falsos ou enganosos sobre tratamentos contra a covid-19 podem influenciar pessoas a se automedicarem com remédios não recomendados — o que, além de não tratar a doença, pode comprometer a saúde.

Outras checagens sobre o tema: A agência Reuters realizou checagem sobre o mesmo assunto e desmentiu a informação.

Em verificações anteriores sobre o uso de ivermectina, o Comprova já mostrou ser falso que o Japão havia declarado que o antiparasitário é mais eficaz do que a vacina e que um estudo realizado em Itajaí comprovou a eficácia do medicamento.

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