Dezenas de fazendas de criadores de visons estão sendo forçadas a entrar em quarentena nos Estados Unidos. É que os animais, parentes dos furões, começaram a ser contaminados pelo novo coronavírus. O surto foi registrado primeiro no estado de Utah e, agora, atinge o Wisconsin. Segundo informações da imprensa local, foram registrados 10 mil óbitos desses mamíferos na primeira região e cerca de 2 mil na segunda.
As autoridades locais estão chamando o surto de “zoonose reversa”, quando humanos espalham uma doença para outras espécies animais. O movimento é contrário ao que se supõe ter acontecido com o novo coronavírus no início da pandemia. À CBS News, um porta-voz do Laboratório de Serviços Veterinários Nacionais (NVSL), ligado ao Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), disse que a covid-19 foi levada até os animais pelos trabalhadores que se infectaram em meados de junho.
"A pesquisa feita em Utah apoia que a doença se espalhou dos humanos para os visons e que o risco da transmissão oposta é muito baixo. Nós recomendamos EPIs para todos os tratadores de visons como uma proteção para eles próprios e para os animais”, explicou.
Os órgãos sanitários do país declararam que não é viável testar todos os mamíferos da espécie porque as populações são muito grandes. Em Utah, o veterinário estadual Dean Taylor disse à agência de notícias Associated Press que nenhum animal foi sacrificado devido ao novo coronavírus. Já em Wisconsin, o surto entre os visons ocorreu na mesma semana em que o estado registrou recorde de novos casos em humanos em um único dia — mais de 3 mil infectados na última quinta-feira (8/10).
Peles comercializadas
As fazendas de visons existem nos Estados Unidos, Europa e China para abastecer o mercado de roupas de pele de luxo. Um casaco feito a partir de visons pode custar de R$ 3 mil a R$ 200 mil, dependendo do modelo e da marca.
É provavelmente por isso que as peles dos animais mortos pela covid-19 continuam a ser vendidas para fabricação de roupas nos EUA. De acordo com a entidade que representa os criadores de visons no país, a Fur Commission USA, o material deve passar por um processamento que objetiva eliminar possíveis traços restantes da covid-19 antes de ser enviado para as grifes de roupas.
Disseminação em fazendas da Europa
Quarto maior produtor mundial de pele de visons, a Holanda viveu, em maio, um surto parecido com o que ocorre agora nos Estados Unidos. Foram ao menos 17 fazendas afetadas e quase 600 mil animais sacrificados por conta da covid-19. Há uma semana, o governo da Dinamarca também anunciou que sacrificaria mamíferos da espécie por causa de um surto do novo coronavírus em 41 fazendas. A estimativa é que mais de 1 milhão de animais sejam mortos no país escandinavo.
Assim como nos humanos, os visons mais jovens são menos afetados pelo novo coronavírus e podem não chegar a desenvolver sintomas, mas seguem transmitindo a doença. Por esse motivo, cientistas acreditam que um dos tratadores de uma fazenda na Holanda pode ter sido infectado pelos animais. O caso chegou a ser anunciado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a primeira transmissão registrada de animal para humano e é considerado pelos cientistas peça chave para entender como os primeiros casos da covid-19 passaram de outros mamíferos para as pessoas na China.
Crueldade animal
Além de fomentar as pesquisas científicas, os casos de covid-19 em visons jogaram luz sobre uma briga antiga: defensores dos direitos dos animais contra marcas que comercializam roupas de peles. Na Holanda, já havia um plano vigente para o encerramento da venda de pele de visons em 2024. Entretanto, o surto de covid-19 nas fazendas pode ter acelerado o processo. Autoridades do país ainda negociam com os donos dos criadouros e com as sociedades protetoras dos animais o encerramento precoce da criação desses mamíferos para o abate.
Nos Estados Unidos, a organização sem fins lucrativos Humane Society pressiona o governo contra o que chamou de falta de ação “indefensável”. “O desprezo pelo sofrimento animal envolvido é imperdoável. Fazendas de peles são lugares miseráveis para animais selvagens como o vison. Os animais são normalmente mantidos em cativeiro em pequenas gaiolas sem nenhum enriquecimento, e suas necessidades mais básicas são frequentemente negadas. Nossas investigações mostraram animais em fazendas de peles sendo espancados até a morte e até mesmo sendo esfolados vivos. Agora, com o surto de coronavírus matando os animais aos milhares, o sofrimento apenas se intensificou”, destacou nota divulgada pela instituição.
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