Inteligência animal

Fonoaudióloga cria aparelho que permite ‘conversa’ com cachorro

Christina Hunger decidiu testar os conhecimentos sobre o desenvolvimento da comunicação humana em sua interação com sua cadela

Cachorro Stella aprende a falar com dispositivo criado por fonoaudióloga Christina Hunger. -  (crédito: Reprodução/ Instagram)
Cachorro Stella aprende a falar com dispositivo criado por fonoaudióloga Christina Hunger. - (crédito: Reprodução/ Instagram)
Sarah Paes*
postado em 20/10/2020 17:46 / atualizado em 20/10/2020 17:58

A fonoaudióloga Christina Hunger, inspirada pelo amor a seus cachorros e à profissão, idealizou um aparelho que pudesse desenvolver a habilidade de comunicação entre eles. O resultado é uma incrível interação entre a cadela Stella e Christina. Para o dispositivo funcionar, basta que o cachorro pressione com a pata um dos botões dispostos em uma espécie de tapete. Cada um deles emite um comando, palavra ou até frase diferente. É o dono que grava os comandos dependendo do treinamento com o cachorro.

Christina começou a compartilhar as experiências nas redes sociais em julho do ano passado. Desde então, Stella, uma cadela da raça Catahoula/ Boiadeiro Australiano, que começou a ser treinada desde os 2 meses de idade, combina palavras no dispositivo para expressar o que deseja. "Eu não sabia porque a Stella estava reclamando, até ela 'dizer parque, brincar, parque'. Todos merecem ser entendidos", conta a fonoaudióloga em um de seu posts no Instagram.

 
 
 
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O aparelho pode ser comprado pela internet no site norte-americano fluent.pet. O kit do dispositivo custa entre US$ 29,40, aproximadamente R$ 170, com dois botões, e US$ 195,88, aproximadamente R$ 1.100, com 40 botões.

Quando a cadela Stella foi apresentada nas redes sociais sua compreensão era de 22 palavras. Atualmente, aos 2 anos de idade, ela tem a habilidade de combinar 40 palavras para conseguir se expressar. "Usei estratégias de facilitação de linguagem para ensinar palavras a Stella de maneira semelhante a como ensino crianças pequenas a falar no meu trabalho como fonoaudióloga", explica Christina. "As primeiras palavras que apresentei a Stella foram 'fora', 'brincar', 'água' e 'andar'. Palavras iniciais devem ser altamente motivadoras e frequentes para o seu cão aprender melhor”.

Este ano, Christina escreveu o livro How Stella Learned to Talk: A Speech Therapist's Memoir of Her Groundbreaking Work in Communicating with Dogs (Como Stella aprendeu a falar: a memória de um fonoaudiólogo sobre seu trabalho inovador na comunicação com cães) ainda sem tradução para o português. O livro está em fase de pré-venda e será lançado em 4 de maio de 2021.

"As únicas coisas que tenho certeza agora são que os cães são capazes de dizer muito mais do que nós até começamos a descobrir, e que eles merecem a oportunidade de usar palavras que estão a ouvir e compreender", afirma a inventora do dispositivo de comunicação entre humanos e cachorros.

Famoso na Internet

Atualmente o projeto @hunger4words que apresenta o desenvolvimento da cadela Stella tem mais de 785 mil seguidores no Instagram. Inspirada por Christina, Lex Devine ensinou mais de 50 palavras a seu cachorro Bunny, da raça Sheepadoodle. No perfil @what_about_bunny, com mais de 388 mil seguidores, Lex compartilha a rotina do cachorro diariamente e até vende mensagens de vídeo personalizadas feitas pelo cachorro.

 
 
 
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Inteligência canina

O adestrador de cachorros Rafael Mota desenvolve seu trabalho com cães há mais de 10 anos e explica que o melhor momento para iniciar o treinamento dos animais é a partir dos 2 meses. "Inclusive, entre a 8° e a 9° semana, eles começam a despertar a curiosidade deles, se fossem cães selvagens eles estariam se afastando da mãe e começando a pesquisar o território em que eles vivem. Já os cães domesticados também vão ter essa curiosidade e essa fase é muito boa pra ensinar questões, por exemplo, sanitárias, xixi e coco no lugar certo. Quanto mais novo melhor."

Apesar de existir um ranking dos cachorros mais inteligentes do mundo, divulgado pelo escritor e psicólogo Stanley Coren no livro A inteligência dos cães, em 1995, Rafael explica que cada cachorro deve ser considerado único. “Essa lista significa que o cão está dentro de uma probabilidade dos cachorros muito inteligentes e não significa que todos irão agir da mesma forma e terão a mesma quantidade de destreza. Você tem que testar e descobrir se o seu cão tem o QI alto.”

"A gente mede a inteligência de um cão pela quantidade de repetições de um determinado exercício e em quantas vezes consegue aprender determinada tarefa. Então, as raças consideradas mais inteligentes do mundo precisaram de poucas repetições para alcançar um determinado objetivo", explica o adestrador de cachorros.

"A aprendizagem é uma questão muito individual e assim como com os seres humanos ela deve ser respeitada. Podemos comparar o desenvolvimento de um cachorro ao desenvolvimento de uma criança, se estimulado ele tem a capacidade de ser altamente inteligente. Se não for estimulado não vai alcançar um bom nível. Eu preciso aprender a forma com que o cachorro aprende, a velocidade que ele aprende, utilizar ferramentas que estimulem essa aprendizagem para poder montar o plano de treinamento. Normalmente isso acontece entre sete a 10 sessões de ensino", conclui Rafael.

Rafael, adestrador da BomDog, foi o responsável pelo treinamento do cachorro vira-lata caramelo da propaganda do Banco Central sobre a nova cédula de R$ 200

* Estagiária supervisionada por Roberto Fonseca

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