ELEIÇÕES

Biden e Trump começam arrecadação para bancar disputa judicial

Depois de investimento recorde de R$ 77,2 bilhões nas campanhas à Casa Branca e ao Congresso, Biden e Trump criam "vaquinhas" para financiar os custos da briga judicial

Nahima Maciel
postado em 06/11/2020 06:00 / atualizado em 06/11/2020 06:26
 (crédito: SAUL LOEB, Angela Weiss / AFP)
(crédito: SAUL LOEB, Angela Weiss / AFP)

Diante de uma eleição cujo resultado ainda vai demorar e dependerá, ao que tudo indica, de sucessivas batalhas judiciais, os candidatos Donald Trump (Partido Republicano) e Joe Biden (Partido Democrata) lançaram fundos de arrecadação de doações e deram início a uma espécie de segunda campanha eleitoral. Desde ontem, os sites dos candidatos passaram a exibir vinhetas de doações com textos solicitando aos eleitores doações para que possam seguir com as batalhas judiciais.

A campanha de Donald Trump lançou o Fundo Oficial de Defesa das Eleições e um chamado no site da campanha promete um “match” de 1000% aos apoiadores. Em entrevista ao The New York Times, o porta-voz da campanha do republicano, Tim Murtaugh, explicou que a judicialização da eleição exigirá um gasto extra. “O processo da eleição neste ano está se dando em circunstâncias extraordinárias e também estamos antecipando que Silicon Valley tentará interferir nos nossos esforços de arrecadação pós-eleição”, disse o porta-voz.

A iniciativa gerou crítica entre os democratas, embora eles também estejam pedindo aos apoiadores que contribuam com doações para o Fundo de luta de Biden. No site da campanha do democrata, a vinheta sugere quantias entre US$ 15 (R$ 82,80) e US$ 2.800 (R$ 15.456) e diz: “Joe Biden será o próximo presidente dos Estados Unidos — mas o presidente ameaça ir aos tribunais para impedir a contagem dos votos. Nós estamos colocando de pé um esforço legal abrangente e nunca antes organizado. Esse trabalho pode se estender por semanas e o financiamento é mais importante do que nunca.”

Os fundos pós-eleições são mais um episódio em uma campanha com superlativos e ineditismo. Se a eleição de 2020 bateu recorde de eleitores, ela também ultrapassou as anteriores em valores gastos para a corrida à Presidência e às casas legislativas. Um total de US$ 14 bilhões (R$ 77,2 bilhões) foi gasto pelos candidatos nas eleições presidenciais e legislativas nos Estados Unidos. Recorde absoluto. Esse valor é quase o dobro do gasto há quatro anos e mais do que o triplo da despesa em 2000, de acordo com o Center for Responsive Politics (centro de estudos independente sobre gastos eleitorais).

Mas, o alto investimento não garante o sucesso de nenhum candidato. Buscando retomar o controle do Senado, os democratas gastaram bilhões para conquistar assentos de pesos pesados republicanos, como o do líder da Câmara Alta, Mitch McConnell (Kentucky), e dos senadores Lindsey Graham (Carolina do Sul) e Susan Collins (Maine). Não deu certo e eles acabaram reeleitos no pleito de terça-feira.

O democrata Jaime Harrison foi derrotado facilmente por Lindsey Graham depois de gastar um recorde de US$ 108 milhões, muito mais do que seu adversário, graças a doações de democratas de todo o país, de acordo com Karl Evers-Hillstrom, do Center for Responsive Politics. “Eu digo a todos os progressistas, na Califórnia e em Nova York: eles perderam muito dinheiro”, brincou Graham, após sua reeleição.

Outra derrota retumbante foi a de Amy McGrath, cuja missão era derrubar Mitch McConnell, no Senado há 45 anos, e um pesadelo dos democratas. Líder do partido republicano na casa, McConnell é o responsável por impedir que muitos dos projetos de Barack Obama avançassem. Isso dificultou o mandato do então presidente democrata. McGrath, ex-piloto de caça, gastou US$ 88 milhões (R$ 485,76 milhões) em vão na segunda batalha mais cara da história das eleições para o Senado.

Os republicanos perderam algumas apostas caras, mas menos espetaculares. Eles arrecadaram US$ 10 milhões (R$ 55,2 milhões) em todo o país para evitar a reeleição, em Nova York, da deputada Alexandria Ocasio-Cortez, estrela da ala mais à esquerda do Partido Democrata e encarnação da suposta ameaça “socialista”, denunciada pelos trumpistas.

Mas, a legisladora de 31 anos venceu o rival, o ex-policial e professor católico John Cummings, de 60 anos, por 38 pontos percentuais, depois de arrecadar US$ 17 milhões (R$ 93,84 milhões) para sua campanha em uma das batalhas eleitorais mais caras para a Câmara dos Representantes.

Insatisfação

Para Michael Malbin, professor de ciência política da State University of New York (SUNY) e especialista em finança eleitoral, os gastos milionários se devem à crescente polarização da era Trump e a motivação é um dos elementos essenciais para cada doador. Raiva e rejeição, seja do “trumpismo” ou de “esquerdistas”, por exemplo, seriam motivadores mais poderosos do que o apoio a uma causa específica. Por isso, não surpreende que as maiores somas são doadas para as campanhas de candidatos apaixonados, como Mitch McConnell, Lindsey Graham ou Ocasio-Cortez.

Enquanto milhares de doadores financiam as batalhas com ampla exposição na mídia, “90% das campanhas eleitorais do país são subfinanciadas”, enfatiza Malbin. Os valores maiores também são explicados pela simplificação na doação de dinheiro a um candidato graças à tecnologia digital, que teve os democratas como pioneiros na plataforma ActBlue, lançada em 2004. “Tornou-se incrivelmente simples. Basta clicar”, disse Malbin.

“Joe Biden será o próximo presidente dos Estados Unidos — mas o presidente ameaça ir aos tribunais para impedir a contagem dos votos. Nós estamos colocando de pé um esforço legal abrangente e nunca antes organizado. Esse trabalho pode se estender por semanas e o financiamento é mais importante do que nunca”
Vinheta no site da campanha do democrata Joe Biden

 

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Eleitorado diverso surpreende apuração

 (crédito: Octavio Jones/AFP)
crédito: Octavio Jones/AFP

A eleição americana de 2020 bateu recorde de eleitores e, com isso, também trouxe algumas surpresas, como um aumento na quantidade de votos de jovens negros para o republicano Donald Trump e o apoio dos latinos, essencial para o presidente levar a Flórida. Historicamente, o Partido Democrata costuma angariar a maior parte dos votos negros e latinos, mas essa realidade tem mudado e muitos analistas tentaram advertir para a importância da diversidade dentro desses grupos étnicos. Eles não se votam em bloco e há particularidades.

Em 2016, Trump foi o candidato dos jovens brancos sem diploma. Em 2020, pesquisas indicam que o republicano estaria perdendo esses eleitores, mas incrementando a base de jovens negros. É uma mudança curiosa quando se tem em mente que a taxa de mortos pela covid-19 nos Estados Unidos foi três vezes maior entre negros, e que Trump pouco ou nada fez para impedir a disseminação da pandemia.

De acordo com o Pew Research Center, 34% dos eleitores negros americanos moram em um dos nove estados nos quais se dão as mais importantes disputas eleitorais. Desses, 32% estão na Geórgia. Do total de 30 milhões de eleitores negros, quatro em cada 10 são jovens millennials ou da geração Z. Na corrida eleitoral, o Partido Democrata tentou se aproximar dessa faixa, mas nem sempre o movimento foi um sucesso. Segundo pesquisa de boca de urna da APVoteCast, 8% dos afro-americanos votaram em Trump.

A quantidade de votos hispânicos também surpreende. A política republicana de imigração é draconiana. Na Flórida, eles foram fundamentais para a vitória de Trump. São cubano-americanos e venezuelanos-americanos que apoiam a política externa do presidente para Cuba e Venezuela. Americanos de origem cubana e venezuelana não votam na esquerda. Muitos deles desembarcaram nos Estados Unidos fugindo de regimes como o de Fidel Castro e Hugo Chávez. Mas, os latinos não formam um bloco único e, no Arizona, eles foram responsáveis pela vitória de Biden. Se consideradas as eleições em todo o país, segundo a APVoteCast, 63% dos latinos votaram em Biden.


Facebook exclui grupo por incitar a violência

O Facebook removeu, ontem, o grupo Stop the Steal (Detenham o roubo), formado por apoiadores do presidente Donald Trump. Com quase 350 mil integrantes, alcançados pouco antes da intervenção da gigante das redes sociais, o perfil foi punido por fazer chamados preocupantes à violência, incitando a interrupção da contagem de votos das eleições, como faz o republicano. A medida foi adotada enquanto a apuração dos votos da eleição de 3 de novembro continuava em seis estados que determinarão quem será o próximo presidente dos Estados Unidos. “Em linha com as medidas excepcionais que estamos adotando durante este período de maior tensão, eliminamos o grupo, que estava criando eventos no mundo real”, informou a plataforma. Alguns comentários diziam que o país estava “à beira de uma guerra civil”.


Negócios com o México em meio à apuração

México e Estados Unidos concluíram, ontem, as consultas sobre a questão do aço. Os negociadores mexicanos prometeram exercer uma vigilância apertada para impedir as exportações aos Estados Unidos de aço de terceiros através de seu território, em troca da qual Washington manterá o livre comércio no setor, anunciou, ontem, o escritório do representante comercial dos Estados Unidos (USTR). O regime de fiscalização de exportação visa evitar o transbordo de produtos como tubos e produtos de aço semiacabados da China e de outras nações para os EUA via México. O comércio entre os países vizinhos não está sujeito a nenhuma tarifa alfandegária nos termos do acordo trilateral com o Canadá.


Novo recorde de casos da covid-19

Em meio a incertezas sobre o resultado das eleições presidenciais, os Estados Unidos registraram um novo recorde de casos de covid-19 em 24 horas, superando o pico da véspera. Segundo números divulgados pela Universidade Johns Hopkins, foram 123.085 novas infecções entre quarta-feira e ontem, bem como 1.226 mortes. No total, mais de 52 mil pessoas foram hospitalizadas. Os Estados Unidos são o país mais afetado pela pandemia. O cenário, na verdade, vem se agravando, nos últimos sete dias, em toda a região das Américas, alertou o vice-diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Jarbas Barbosa. “Os Estados Unidos bateram recordes de novas infecções e estamos vendo tendências de aumento em algumas províncias e estados de países da América do Norte, como México e Canadá, que estão impulsionando os números na região”, explicou o médico, acrescentando: “Temos mais de um em cada quatro casos e um terço das mortes no mundo.”

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