Eleições

Trump perde apoio entre republicanos após críticas ao sistema eleitoral

Discurso de Trump ganha ataques dentro do partido. Correligionários defendem a contagem das cédulas

Jorge Vasconcellos
postado em 07/11/2020 07:00
 (crédito:  ALEX WONG/afp)
(crédito: ALEX WONG/afp)

O presidente Donald Trump começou a perder apoio no Partido Republicano após fazer acusações infundadas de fraude eleitoral. Parte dos membros da legenda ainda está a favor, mas muitos condenam a “perigosa” estratégia de desinformação do presidente, cada vez mais perto de perder a Casa Branca para Joe Biden. Ontem, no mesmo dia em que foi ultrapassado pelo democrata, na Geórgia, Trump voltou a contestar a lisura das eleições, denunciando um suposto desaparecimento de milhares de votos de militares desse estado no exterior.

Pat Toomey, senador republicano da Pensilvânia, é um dos principais críticos do comportamento do presidente. Ele condenou, especificamente, o discurso feito pelo magnata, quinta-feira, na Casa Branca. “O discurso do presidente na noite passada me chateou muito porque ele fez alegações muito, muito sérias, sem nenhuma evidência para apoiá-las”, afirmou o político à CBS. “Não tenho conhecimento sobre nenhuma grande fraude”, acrescentou.

No Twitter, o congressista pelo Texas, Will Hurd, denunciou a tática “perigosa e errada” e pediu para que todas as cédulas sejam contadas. “Parem de espalhar desinformação sem evidências... Isso está virando uma loucura”, tuitou o seu colega Adam Kinzinger, um crítico regular do presidente americano.

“Contar cada voto é o coração da democracia. Esse processo costuma ser longo e, para aqueles que concorrem, frustrante”, observou Mitt Romney, em uma declaração igualmente desaprovadora. “Os votos serão contados. Se forem percebidas irregularidades, elas serão investigadas e, em última instância, resolvidas nos tribunais”, finalizou.

Expressaram suas opiniões, também, os apoiadores de Trump. “Estou aqui esta noite para apoiar o presidente Trump como ele me apoiou”, declarou o senador Lindsey Graham, reeleito na terça-feira após uma difícil campanha na Carolina do Sul.

O colega dele, Ted Cruz, se mostrou mais irritado: “Posso dizer que o presidente está com raiva e eu e os eleitores deveríamos estar com raiva”, ressaltou ao apresentador Sean Hannity, à frente de um dos programas favoritos de Trump na Fox News.

Mas a maioria dos políticos republicanos eleitos optou por ficar à parte das opiniões e não demonstrar expressamente o apoio a Trump, apesar de que ele permanecerá como presidente, ao menos, até 20 de janeiro, e poderá manter influência considerável no partido mesmo se perder.

Legitimidade

O poderoso e influente líder do Senado, Mitch McConnell, fez o que parece ser um pedido de calma e razão: “Todos os votos legais devem ser contados. Qualquer cédula submetida ilegalmente não deve ser. Todos os partidos devem monitorar este processo. E os tribunais existem para aplicar a lei e resolver conflitos”. Mas ele não mencionou que houve fraude.

Karl Rove, ex-conselheiro de George W. Bush — que chegou à presidência, em 2000, após guerra judicial pelos votos da Flórida — também apontou que uma fraude envolvendo centenas de milhares de votos em vários estados exigiria um enredo digno de um filme de James Bond.

O senador Marco Rubio — rival de Trump nas primárias de 2016, mas que, por quatro anos, aderiu ao Trumpismo como quase todo o seu partido — não criticou diretamente o presidente, mas preferiu relembrar uma série de princípios democráticos.

No entanto, Rubio também tuitou um passagem bíblica, parte do Antigo Testamento, ainda que sem comentários: “O homem de Belial, o homem vil, é o que anda com a perversidade na boca. Provérbios 6:12”, escreveu.

O suposto sumiço de milhares de votos de militares da Geórgia no exterior é a mais nova cartada de Trump para escapar da derrota. “Onde estão as cédulas de militares perdidas da Geórgia? O que aconteceu com elas?”, tuitou o republicano. No total, 8,9 mil cédulas foram enviadas aos militares.

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  • Candidato à Casa Branca em 2012, o senador Mitt Romney aceitou derrota para Obama
    Candidato à Casa Branca em 2012, o senador Mitt Romney aceitou derrota para Obama Foto: ALEX WONG/AFP
  • Donald trump
    Donald trump Foto: BRENDAN SMIALOWSKIAFP

Arizona pode vingar John McCain

 (crédito: JIM WATSON/AFP)
crédito: JIM WATSON/AFP


A população do Arizona sabe o que Donald Trump fez no verão passado com John McCain, uma dos políticos mais prestigiados do estado, e pode estar cobrando caro nas urnas pelo menosprezo do atual presidente dos Estados Unidos a uma das referências do Partido Republicano. Ex-senador e rival de Barack Obama nas eleições de 2008, McCain morreu em 25 de agosto de 2018. Antes disso, teve a honra de herói de guerra negada por Trump.

Segundo a revista The Atlantic, ele classificou os soldados mortos em combate de “perdedores” e “otários”. Trump nega. O fato é que, até o fechamento desta edição, a tendência era de vitória de Joe Biden no tradicional reduto vermelho. Surpreendente. De 1952 a 2016, o Arizona só foi democrata no triunfo de Bill Clinnton, em 1996.

Apesar das desfeitas de Trump, McCain era visto como herói pelos norte-americanos. Foi piloto de guerra. Capturado no Vietnã, em 1967, passou seis anos na prisão. A tortura sofrida no país asiático deixou marcas no corpo. Os mais próximos contavam que ele não conseguia levantar totalmente os braços.

Há quatro anos, na campanha de 2016, Trump minimizou a bravura de McCain. Negou o status de herói de guerra sob alegação de que o então piloto foi capturado. Para especialistas, um contra-ataque às críticas do então senador aos “trumpistas”. Ele chamou os apoiadores de “loucos” e “extremistas”.

A raiva de Trump aumentou quando McCain virou-se uniu-se aos democratas, em 2016, na acusação de que a Rússia teria interferido na vitória dele sobre Hillary Clinton. “O relatório da CIA deveria deixar qualquer americano alarmado, disse McCain em um comunicado conjunto de democratas e republicanos.

O desejo de vingança foi liderado por Cindy McCain. Além de não convidar Trump para a cerimônia fúnebre do marido, em 2018, a viúva de

John fez campanha a favor de Joe Biden no Arizona. “Meu marido viveu segundo um código: primeiro o país. Somos republicanos, sim, mas, sobretudo, americanos. Só existe um candidato nesta corrida que defende nossos valores como nação, que é Joe Biden”, escreveu Cindy em uma rede social. Analistas apontam que os republicanos moderados de McCain largaram o candidato à reeleição.

Na época, Trump ironizou o apoio de Cindy McCain a Biden. “Joe Biden era o lacaio de John McCain. Nunca fui fã de John. Cindy pode ficar com Joe Sonolento (como Trump refere-se a Biden)”.

Os latinos representam 23% do colégio eleitoral do Arizona. É uma região de fronteira com o México. Trump não desiste de erguer muros para evitar a imigração ilegal. O discurso racista também irritou eleitores do tradicional reduto republicano.

 

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