A chegada à Casa Branca parece cada vez mais próxima para Joe Biden. Após assumir a liderança na Pensilvânia e ampliar a vantagem sobre Donald Trump nesse estado-chave — até a última atualização desta reportagem, ele tinha 22 mil votos a mais —, o democrata está a um passo da Presidência. Se ganhar a apuração no berço da democracia americana, terá mais 20 delegados no Colégio Eleitoral — número suficiente para entrar na história como o 46º chefe de Estado do país. São necessários 270 votos, e, de acordo com projeção da Associated Press, Biden tem 264. Trump, 214.
Cauteloso, o democrata não proclamou a vitória, mas, na noite desta sexta (6/11), fez um pronunciamento, ao lado da vice, Kamala Harris, em que se mostrou bastante confiante com o resultado positivo. “Não temos uma declaração de vitória ainda, mas temos uma história convincente: Vamos vencer essas eleições”. Biden sinalizou que já deu início ao processo de transição, em reuniões com autoridades em saúde e economia para tratar sobre a pandemia da covid-19 e o desemprego. Em tom conciliador, defendeu a democracia, em resposta ao discurso da véspera de Donald Trump, e a união dos americanos. “Podemos ser oponentes, mas não inimigos (….) A democracia funciona. Todas as pessoas serão ouvidas. Não deixarei que seu voto não seja contado.”
Mais cedo, a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, foi mais direta quanto ao resultado do pleito: chamou Biden de “presidente eleito”. Segundo ela, é “claro” que Joe Biden e Kamala Harris ganharam as eleições. “Está claro que a chapa Biden-Harris vai ganhar a Casa Branca (…) O presidente eleito Biden tem um forte mandato a liderar”, disse Pelosi depois que ele ultrapassou Trump na Pensilvânia.
O candidato republicano, porém, alertou que “a eleição não acabou” e levou a batalha judicial a um novo patamar. Nesta sexta (6/11), pediu — e venceu — à Suprema Corte que ordene Pensilvânia a parar a contagem dos votos pelo correio recebidos depois do fim da votação presencial. O juiz Samuel Alito ordenou que os locais de apuração separem esses votos, que poderão ser contados, mas separadamente, segundo a CNN e o canal MSNBC.
Trump alega que as cédulas recebidas depois de 3 de novembro são ilegais e busca retirá-las da apuração com ações na Justiça. Especialistas, porém, acreditam que, no caso da Pensilvânia, a estratégia pode não fazer diferença, já que o número de votos envolvidos é muito menor do que a vantagem de Biden sobre Trump.
Seguindo a estratégia de combinar questionamento judicial e ataque às instituições democráticas, o candidato republicano lançou dúvidas sobre o trabalho das autoridades eleitorais do estado decisivo. Pelo Twitter, escreveu que a Filadélfia tem um “histórico podre de integridade eleitoral”. O prefeito da cidade, Jim Kenney, classificou as acusações de infundadas. “O que nós temos visto na Filadélfia é a democracia pura e simples (….) Francamente, acho que o presidente precisa se comportar como adulto. Ele precisa reconhecer o fato de que perdeu”, disse.
Segundo o comissário eleitoral do estado, a contagem final dos votos “pode levar vários dias”. A legislação local determina a realização de uma recontagem automática caso a margem de vitória seja menor ou igual a 0,5 ponto percentual do total de votos. Uma nova contagem está confirmada na Geórgia, também estratégica na eleição, com 16 delegados. O anúncio foi feito por autoridades do estado não em decorrência de suspeitas de fraude, mas quando o candidato democrata estava à frente do republicano por uma pequena margem.
“Com uma margem tão pequena, haverá uma recontagem”, informou Brad Raffensperger, secretário de Estado e o conselheiro interno encarregado do processo. A previsão é de que o trabalho só termine em 20 de novembro. Há também a possibilidade de recontagem em Wisconsin — pedida pela equipe de Trump —, onde Biden ganhou por apenas 20 mil votos.
A tática deTrump tem sido, por meses, deslegitimar a votação por correspondência, que é estimada em mais de 63 milhões e uma porcentagem mais alta para Biden. Os apoiadores do presidente têm protestado em frente aos centros de apuração para que a contagem continue em estados como o Arizona, onde o republicano ganhou terreno, mas pare nos locais em que a vitória do democrata se aproxima.
Segundo Bob Bauer, advogado da equipe de Biden, a ofensiva não terá o resultado esperado. “Tudo isso visa a criar a uma grande nuvem, mas não é uma nuvem muito densa. Nós vemos através dela. Assim como os tribunais e as autoridades eleitorais”, afirmou. Em resposta, o diretor da campanha de Trump, Matt Morgan, afirmou que “as falsas projeções proclamando Joe Biden como vencedor são baseadas em resultados em quatro estados que estão longe de ser definitivos”.
Além de Pensilvânia e Geórgia, seguiam abertas, até o fechamento desta edição, a apuração em Nevada (seis delegados), Arizona (11), Carolina do Norte (15) e Alasca (três). Autoridades eleitorais de Nevada e Arizona preveem o fim do processo até amanhã. As cédulas de Carolina do Norte devem ser contadas até o próximo dia 12. Previsões sobre o Alasca não foram divulgadas, mas nenhum democrata ganhou neste estado em décadas, e não restam muitas dúvidas sobre o resultado a favor de Trump.
Pelo Twitter, o republicano declarou que o adversário não deveria reivindicar a vitória. “Joe Biden não deveria declarar a vitória erroneamente. Eu também poderia reivindicá-la. Os processos judiciais acabaram de começar!”, escreveu o presidente. Trump, porém, declarou-se vencedor na manhã de quarta-feira e, desde então, vem reiterando suas denúncias de fraude eleitoral, sem apresentar provas. Um porta-voz de Joe Biden ameaçou, nesta sexta (6/11), “expulsar” Trump da Casa Branca caso ele se recuse a admitir a derrota.
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Segurança reforçada
Um indício de que a vitória pode estar ao alcance das mãos de Joe Biden é o reforço do dispositivo de segurança implementado em torno dele. Segundo o jornal Washington Post, o serviço de proteção do presidente dos Estados Unidos e de funcionários do alto escalão do governo aumentará o número de agentes em torno do democrata em Wilmington, Delaware. A equipe de campanha informou à agência federal que permanecerá no Centro de Convenções da cidade em que o candidato vive. O espaço aéreo sobre a casa do candidato à Presidência foi bloqueado, assim como o acesso a ruas próximas.
Missões internacionais não flagraram fraudes
Grupos internacionais que acompanharam as eleições presidenciais descartam a ocorrência de fraudes, como tem insistido o candidato à reeleição, Donald Trump. Em um relatório preliminar, divulgado ontem, a missão da Organização dos Estados Americanos (OEA) informou que não “observou diretamente nenhuma irregularidade grave” no pleito e pediu aos candidatos que evitem “especulações nocivas”.
O documento enfatiza ainda que é “crítico” que “os candidatos ajam com responsabilidade, apresentando e defendendo demandas legítimas nos tribunais, e não especulações infundadas.” A missão, chefiada pelo secretário-geral da OEA, o uruguaio Luis Almagro, foi composta por 28 especialistas, de 13 países. Os observadores estiveram em estados considerados decisivos na disputa, como Michican e Geórgia. Ambos são citados no relatório, com a informação de que os representantes do grupo nesses locais “não testemunharam nenhuma das irregularidades que têm sido mencionadas”.
“Abuso de poder”
Na quinta-feira, a missão da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) criticou o presidente Donald Trump sobre as “acusações infundadas” de fraude eleitoral. Segundo o grupo, as afirmações “prejudicam a confiança” nas instituições democráticas. O deputado alemão Michael Georg Link, coordenador da missão, chegou a acusar o republicano de “flagrante abuso de poder” por ter pedido a interrupção da apuração de votos antes do fim do processo.
Segundo Link, as acusações de Trump “não têm” fundamento. “Nossos colegas estão no local e podem confirmar que os observadores eleitorais dos diferentes campos políticos foram admitidos e que o voto por correio continua sendo contabilizado corretamente”, disse em entrevista ao jornal alemão Stuttgarter Zeitung. A OSCE é formada por 57 países, incluindo os EUA e todos os europeus, e tem como objetivo a promoção da democracia, dos direitos humanos e da liberdade de imprensa.