Manifestação

Mais de mil pessoas são presas na Rússia em atos pró-Navalny

No centro de Moscou, em torno de 10.000 manifestantes se reuniram para protestar

Correio Braziliense
postado em 23/01/2021 12:45 / atualizado em 23/01/2021 12:53
 (crédito: Joris Van GENNIP/AFP)
(crédito: Joris Van GENNIP/AFP)

Mais de mil pessoas foram detidas pela polícia na Rússia, neste sábado (23/1), durante as manifestações a favor do opositor russo detido Alexei Navalny - relata a ONG OVD-Info, especializada no monitoramento dos protestos no país. Segundo a organização, por enquanto, tem-se a informação de que 1.090 pessoas foram detidas em dezenas de cidades russas.

No centro de Moscou, em torno de 10.000 manifestantes se reuniram para protestar. Jornalistas da AFP assistiram a detenções violentas e a choques entre policiais e participantes na concentração.

Yulia Navalnaya, esposa de Navalny, foi presa hoje em Moscou, conforme anúncio da própria em sua conta no Instagram. "Desculpem pela má qualidade [da foto], a luz é ruim no furgão policial", escreveu, ironicamente, em sua página, ao publicar uma "selfie".

Mais cedo, nesta mesma rede social ela havia manifestado sua intenção de protestar em Moscou em apoio a seu marido, que "não se rende nunca".

No centro da capital russa, os policiais do Batalhão de Choque prenderem em torno de 300 pessoas, segundo a mesma ONG. Os protestos seguiam em Moscou depois do meio-dia, e a polícia continuava a agredir os manifestantes com cassetetes, reagindo a bolas de neve lançadas pela multidão.

Outros cidadãos protestaram em silêncio, com faixas que diziam "Não tenho medo", ou "Não à ditadura".

Em São Peterburgo, pelo menos 10.000 pessoas também foram às ruas, segundo uma jornalista da AFP.

Ao longo do dia, a equipe do ativista anticorrupção publicou vídeos dessas manifestações, onde dezenas, centenas e até milhares de pessoas chamavam o presidente Vladimir Putin de "ladrão" e clamavam "Navalny, estamos com você", ou "Liberdade para os presos políticos".

Esta jornada de protestos, organizada por Navalny e por seus seguidores, é o mais importante desde outros similares, também liderados pelo ativista, no verão de 2019 em Moscou.

Também acontecem alguns meses antes das eleições legislativas marcadas para o outono boreal (primavera no Brasil), em um contexto de queda da popularidade do partido da situação, o Rússia Unida.

As primeiras manifestações no Extremo-Oriente e na Sibéria, onde milhares de pessoas tomaram as ruas em Vladivostok, Khabarovsk, Novosibirsk e Chita, tiveram de enfrentar um significativo dispositivo policial. E, em alguns lugares, a repressão foi brutal.

Mesmo antes do início do protesto na capital, policiais do Batalhão de Choque, em grande número, já haviam detido várias dezenas de pessoas e convocado os manifestantes a "abandonarem a concentração ilegal".

Ontem, a polícia de Moscou havia advertido que "reprimirá" qualquer protesto não autorizado que considere uma "ameaça à ordem pública".

A prefeitura da capital denunciou manifestações "inaceitáveis" em meio a uma pandemia.

Em Yakuts, ao sul do Círculo Polar Ártico, 100 manifestantes enfrentaram uma temperatura de -50°C.

As detenções foram particularmente brutais em Vladivostok, um porto russo do Oceano Pacífico, onde policiais agrediram manifestantes com cassetetes, segundo um vídeo da AFP.

A embaixada americana em Moscou terá de dar explicações sobre a publicação, em sua página na Internet, do itinerário das manifestações deste sábado, afirmou o Ministério russo das Relações Exteriores.

"Ontem (sexta), a embaixada dos Estados Unidos em Moscou publicou as 'rotas dos protestos' em diversas cidades russas e lançou informações sobre uma 'manifestação para o Kremlin'", disse a porta-voz do Ministério russo, Maria Zakharova, na rede social Facebook. N

Nossos "colegas americanos terão de vir dar explicações", acrescentou.

67 milhões


Antes das mobilizações deste sábado, a polícia russa prendeu esta semana os principais aliados de Alexei Navalny. Ontem, dois deles foram condenados a penas de prisão de curta duração.

Preso até pelo menos 15 de fevereiro e com vários processos judiciais abertos contra ele, Navalny, de 44 anos, foi preso em 17 de janeiro ao retornar da Alemanha. Ele passou meses em Berlim se recuperando de um envenenamento, pelo qual responsabiliza o Kremlin.

Três laboratórios europeus também concluíram que se tratou de um envenenamento. Moscou nega categoricamente qualquer envolvimento e denuncia um complô.

Mesmo sabendo que corria o risco de ser preso, Navalny decidiu voltar para a Rússia com sua mulher, no domingo passado, e pediu a seus apoiadores que protestassem.

Pouco depois de seu retorno, publicou uma investigação sobre um luxuoso palácio nas margens do Mar Negro, do qual o presidente russo, Vladimir Putin, estaria se beneficiaria. O vídeo que acompanha a denúncia teve 67 milhões de visualizações no YouTube desde a última terça-feira.

Pressões no TikTok e no YouTube


Desde a prisão de Navalny, condenada por potências ocidentais, as redes sociais estão repletas de apelos por sua libertação.

O opositor tem muita visibilidade nessas plataformas, mas é ignorado pelos principais veículos da mídia pública russa.

Para limitar esse alcance, o órgão regulador russo do setor de telecomunicações Roskomnadzor ameaçou aplicar multas às plataformas TikTok e VKontakte (VK) - esta última é o equivalente russo do Facebook.

De acordo com a agência Roskomnadzor, essas duas redes sociais, assim como o YouTube, de propriedade do Google, suprimiram desde então parte dessas mensagens.

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