A Junta militar no poder em Mianmar desde 1º de fevereiro, declarou nesta terça-feira (23/3) que está determinada a "reprimir a anarquia" sem mudar de posicionamento, apesar das novas sanções aprovadas ontem pelos Estados Unidos e pela União Europeia.
Mais de 260 civis foram mortos pelas forças de segurança desde o golpe que derrubou o governo civil de Aung San Suu Kyi, de acordo com a organização não governamental Associação para Assistência a Presos Políticos (AAPP).
O número de vítimas pode ser ainda maior, já que centenas de pessoas presas nas últimas semanas continuam desaparecidas.
"Estou triste porque os terroristas e pessoas violentas que morreram eram nossos cidadãos", declarou o porta-voz do regime, Zaw Min Tun, durante uma das raras coletivas de imprensa organizadas pelos militares desde que tomaram o poder.
Mas "devemos reprimir a anarquia. Que país do mundo aceita a anarquia?", acrescentou. O porta-voz disse que o acesso à internet continuará sendo restrito "por um determinado período".
Com o uso de armas letais e prisões em massa, o Exército não parou de intensificar sua repressão para tentar silenciar o protesto democrático em Mianmar. Um especialista da ONU denunciou possíveis "crimes contra a Humanidade".
Todos os dias há novas vítimas fatais. Pelo menos três pessoas foram mortas na segunda-feira em Mandalay (centro), incluindo um adolescente de 15 anos que "saiu para buscar água na frente de sua casa", segundo a AAPP.
"Liberdade antes do medo"
Apesar do derramamento de sangue, a mobilização não está enfraquecendo.
Em Yangon, a capital econômica sob lei marcial, os manifestantes marcharam antes do amanhecer desta terça-feira para tentar evitar a resposta das forças de segurança.
"Liberdade antes do medo" e "De pé pelos direitos humanos", diziam suas faixas.
Na segunda-feira, os birmaneses acenderam velas e lançaram balões para pedir ajuda à comunidade internacional.
Muitos funcionários públicos e do setor privado, como médicos, ferroviários e professores, continuam em greve, paralisando setores inteiros da frágil economia deste país asiático.
A Junta não se referiu nesta terça-feira às novas sanções impostas na véspera pela União Europeia (UE) e Washington.
No caso da UE, o bloco congelou ativos e proibiu onze funcionários da Junta, incluindo seu chefe, o general Min Aung Hlaing, de entrar em seu território.
São as primeiras medidas coercitivas decididas pelo bloco desde 1º de fevereiro.
Por sua vez, os Estados Unidos ampliaram sua lista de altos funcionários sancionados, incluindo o chefe da Polícia, Than Hlaing, e o tenente-general Aung Soedos, acusados de terem ordenado "o assassinato de manifestantes".
Indiferença
"Isso não importa para eles. As sanções seletivas sob as ditaduras militares anteriores nunca surtiram muito efeito", comentou à AFP Françoise Nicolas, diretora para a Ásia do Instituto Francês de Relações Internacionais (Ifri).
"A greve geral tem muito mais peso. Os generais estavam mal preparados para uma resistência desse tipo", disse.
O país continua fechado a todas as informações independentes. Além do corte de conexões de internet móvel e redes wi-fi, jornais privados foram fechados e apenas a mídia estatal cobre a crise.
Cerca de quarenta jornalistas foram presos, incluindo o correspondente birmanês da BBC, finalmente libertado na segunda-feira (22/3).
Os próximos dias se anunciam muito tensos. Na próxima quarta-feira (24/3), Aung San Suu Kyi, de 75 anos, deve ser levada à Justiça.
A prêmio Nobel da Paz de 1991 enfrenta acusações de corrupção e está sendo julgada por vários outros crimes. Se for considerada culpada, pode ser condenada a muitos anos de prisão e marginalizada de todas as atividades políticas.
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