segundo continente menos afetado

África está passando por terceira onda 'brutal' do coronavírus

Na África do Sul, o país do continente mais atingido com 35% das infecções, os médicos enfrentam um fluxo contínuo sem precedentes de pessoas doentes

Agência France-Presse
postado em 25/06/2021 11:43 / atualizado em 25/06/2021 11:44
 (crédito: Phill Magakoe / AFP)
(crédito: Phill Magakoe / AFP)

Muito distante do restante do mundo na campanha de vacinação, a África vive uma terceira onda "brutal" do coronavírus que aumenta a pressão sobre hospitais com poucos meios e já submetidos a duras provas.

Até agora, o continente evitou os cenários catastróficos vistos no Brasil, ou na Índia. Com quase 5,3 milhões de casos e 139 mil mortes, a África é o segundo continente menos afetado depois da Oceania, de acordo com contagem da AFP.

Mas o relaxamento das medidas de restrição, a disseminação de variantes mais contagiosas como a Delta - já presente em 14 países -, e a chegada do inverno na África Austral, onde se concentram 40% dos casos, fizeram o vírus ganhar força.

"A terceira onda está ganhando velocidade, se espalhando mais rápido e atingindo com mais força", declarou na quinta-feira a diretora da Organização Mundial da Saúde (OMS) na África, Matshidiso Moeti, alertando que a onda "ameaça ser a pior de todas".

É uma onda "extremamente brutal" e "muito devastadora", disse o diretor do Centro Africano para Controle e Prevenção de Doenças, John Nkengasong.

O sistema "não está aguentando" 


Na África do Sul, o país do continente mais atingido com 35% das infecções, os médicos enfrentam um fluxo contínuo sem precedentes de pessoas doentes.

"O que vemos hoje é diferente da primeira, ou da segunda onda", assegura a diretora da Associação de Médicos da África do Sul, Angelique Coetzee.

Desta vez, "o sistema hospitalar não está aguentando", alerta.

Em países vizinhos, como Zâmbia e Namíbia, a curva de infecções também está crescendo exponencialmente. O ministro da Saúde da Zâmbia falou, recentemente, de uma saturação dos necrotérios.

Sua colega de Uganda, Jane Ruth Acheng, disse à AFP que há muitos jovens nos hospitais, "o que é diferente da segunda onda".

Como na África do Sul, este país do centro do continente tenta aumentar o atendimento domiciliar em casos menos graves, mas é prejudicado pela falta de reservas de oxigênio.

A terceira onda está alcançando países até agora relativamente poupados da pandemia, como Libéria e Serra Leoa.

"A situação é mais alarmante do que há um ano", declarou o presidente da Libéria, o ex-jogador de futebol George Weah, que alertou sobre hospitais lotados de pacientes com dificuldades respiratórias.

E, nesta situação, as restrições voltam. Uganda voltou a ser confinada, e países como Quênia e Namíbia apostam no toque de recolher noturno.

Corrida contra o tempo 


Ao mesmo tempo, a entrega de vacinas no continente está praticamente paralisada. Segundo a OMS, menos de 1% de sua população está totalmente vacinada.

A recente promessa dos países desenvolvidos de enviar 1 bilhão de doses para os países mais pobres tem sido criticada pela imprecisão de como será realizada.

De acordo com a OMS, a África precisa urgentemente de milhões de vacinas.

"É uma corrida contra o tempo. A pandemia está à nossa frente. Na África, não estamos no caminho certo para vencer a batalha contra o vírus", frisou John Nkengasong.

O aumento de casos na Índia, principal fornecedor de vacinas da AstraZeneca, atrasou as entregas por meio do dispositivo de solidariedade Covax da OMS. Além disso, a campanha é prejudicada por dúvidas e por falhas no sistema.

Assim, países com vacinas não conseguiram administrá-las antes de seu vencimento. O Malauí destruiu quase 20 mil doses em maio, e a República Democrática do Congo e o Sudão do Sul devolveram mais de dois milhões.

A África do Sul, que vacinou 2,2 milhões de seus 59 milhões de habitantes, teve de destruir dois milhões de doses, devido a um problema de fabricação.

Nesta altura, 18 países africanos esgotaram quase todas as unidades enviadas pela OMS.

No mês passado, na capital do Zimbábue, Harare, centenas de pessoas protestaram quando os estoques acabaram no principal centro de vacinação.

Diante dessa carência, "muitos têm a sensação de esperar a morte", denuncia Deprose Muchena, da ONG Anistia Internacional.

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