CUBA

"A polícia está lá fora", denuncia jornalista cubano sobre repressão

Ao Correio, diversos cubanos relatam os momentos de autoritarismo e repressão no país

Rodrigo Craveiro
postado em 22/07/2021 06:00
Homem é detido após atos contra o governo, em Havana, no último dia 12 -  (crédito: Yamil Lage/AFP)
Homem é detido após atos contra o governo, em Havana, no último dia 12 - (crédito: Yamil Lage/AFP)

Há 11 dias, o jornalista independente Héctor Luis Valdés Cocho, 29 anos, está impossibilidade de sair de sua casa, em Havana. “A polícia está lá fora. Se eu deixar minha residência, serei detido”, contou ao Correio. “A repressão se intensificou muitíssimo nos últimos dias. Vários colegas repórteres, ativistas e artistas estão sob cerco policial”, acrescentou Cocho, colaborador do Movimento San Isidro (MSI) — um grupo de artistas cubanos independentes criado em 12 de setembro de 2018 por Luis Manuel Otero Alcantara.

O artista contemporâneo de 33 anos foi transferido anteontem à penitenciária de segurança máxima de Guanajay. “Enfrentamos uma onda de prisões horrenda. Mais de 540 pessoas foram detidas ou estão desaparecidas. Acreditamos que sejam muito mais, pois não existe registro oficial. A capital, Havana, continua militarizada”, acrescentou Cocho.

Luis Manuel Otero Alcantara falou à reportagem em 4 de dezembro do ano passado. “O regime considerou um perigo o MSI, pelo fato de conectarmos artistas e cidadanias. Já fui sequestrado no meio da rua e fiquei preso por quatro dias. Também ameaçaram a mim e à minha família”, relatou, naquela ocasião, quando cumpria prisão domiciliar. Segundo Cocho, o aumento da repressão na ilha socialista está ligada à previsão de novos protestos contra o governo do presidente Miguel Díaz-Canel. Em 11 de julho passado, milhares de cubanos saíram às ruas de Havana e de várias cidades em manifestações sem precedentes. Alcantara foi preso por ter participado dos atos.

Integrante do MSI, a escritora Maria Matienzo Prieto, 41, disse ao Correio que a revolta social foi seguida de “tremenda brutalidade policial”. “Neste momento, ocorrem vários julgamentos sumários, inclusive de crianças de 11, 15, 16 e 17 anos, mas também de idosos com mais de 60 anos. Assim como os protestos, foi inédita a maneira como foram sufocados com violência”, explicou. Segundo ela, tropas especiais do regime saíram às ruas para golpear os manifestantes selvagemente e invadir casas, a fim de conduzir os jovens ao alistamento militar forçado. “Supostos participantes das manifestações foram identificados por meio das redes sociais. Além disso, houvbe atos de afirmação revolucionária, nos quais simpatizantes do regime marcham com pedaços de paus nas mãos. A polícia usou armas de grosso calibre e saiu às ruas com a ordem de atirar para matar.”

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“A opressão tem sido ostensiva contra milhares de pessoas que dizem algo contra o sistema. É impressionante a quantidade de pessoas que saíram às ruas para pedir liberdade. Nunca vimos um nível de violência e de repressão tão alta. A única resposta que recebemos do regime é aceitar que entre ajuda humanitária em Cuba, sem impostos, além de um estudo do governo norte-americano para flexibilizar as remessas para a ilha.” Maria Matienzo Puerto, 41 anos, escritora, moradora de Cuba e membro do Movimento San Isidro.

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