Em sessão conjunta da Wolesi e da Meshrano Jirga — respectivamente, a Câmara dos Deputados e o Senado —, em Cabul, o presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, culpou os Estados Unidos pelo avanço da milícia fundamentalista islâmica Talibã em regiões estratégicas do país. “A razão pela nossa situação atual é que a decisão (de retirada das tropas) foi tomada de modo abrupto”, declarou.
Até o fechamento desta edição, o governo norte-americano não tinha se pronunciado sobre a críticas de Ghani. Os Estados Unidos e o Reino Unido acusaram o Talibã de “massacrar civis” em Spin Boldak, distrito situado na província de Kandahar (sul), perto da fronteira com o Paquistão.
Um relatório da Comissão Independente de Direitos Humanos do Afeganistão (AIHRC) aponta que o Talibã matou pelo menos 40 pessoas. Uma vingança pelo fato de as autoridades terem retomado o controle do país depois que o grupo foi varrido do poder, após os atentados de 11 de setembro de 2001. O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, advertiu que as denúncias são “profundamente perturbadoras e totalmente inaceitáveis”.
Por meio do WhatsApp, o Correio entrevistou Zabihullah Mujahid, porta-voz do Talibã. Ele negou as informações sobre a matança em Spin Boldak. “Nós desmentimos essa alegação na semana passada; não é verdade”, afirmou. Em tom desafiador, Mujahid avisou que os talibãs planejam “uma ação decisiva nas cidades”. “As tropas e as forças do governo de Cabul não serão capazes de nos deter. Elas serão derrotadas, pois não têm moral, nem motivação”, avisou.
O porta-voz explicou que a cúpula do grupo extremista ainda não decidiu sobre a captura das principais cidades do Afeganistão. “Se o inimigo continuar as suas operações contra nós, iremos persegui-los.”
Ao ser perguntado se o Talibã vive uma recuperação após a derrota para a coalizão liderada pelos Estados Unidos, duas décadas atrás, Zabihullah foi evasivo: “Para nós, o melhor momento será quando a paz e a segurança chegarem ao nosso país”.
Cautela e medo
“A situação em Spin Boldak é muito ruim. As pessoas não podem sair de suas casas. Todas estão muito cautelosas. Às 14h de hoje (6h30 em Brasília), quatro talibãs invadiram a residência de um vizinho, o ex-policial Wahidullah, no vilarejo de Marifin. Eles o executaram na frente das duas esposas e dos cinco filhos. Ontem (domingo), assassinaram Hashm, outro ex-policial”, contou à reportagem um morador do distrito, sob condição de anonimato por temer pela própria segurança.
De acordo com ele, o presidente Ashraf Ghani pretende que a população afegã apoie o exército nacional no combate ao Talibã. “Se as forças estrangeiras apoiarem o nosso governo, eu estarei do lado delas. Mas existe o risco de os soldados do meu país não conseguirem derrotar os afegãos.
Se os estrangeiros querem a paz, deveriam apoiar os nossos militares. Somente assim poderão salvar o nosso povo e a nossa nação”, disse o morador. Cabul enviou centenas de soldados para Lashkar Gah (sul) e realiza bombardeios aéreos para impedir a capital da província de Helmand, de ser conquistada pelo Talibã.
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