CRISE INTERNACIONAL

Afeganistão: presidente culpa EUA por piora na segurança; veja mapa do avanço de talibãs

Um relatório da Comissão Independente de Direitos Humanos do Afeganistão (AIHRC) aponta que o Talibã matou pelo menos 40 pessoas

Rodrigo Craveiro
postado em 03/08/2021 06:00
 (crédito: SAJJAD HUSSAIN / AFP)
(crédito: SAJJAD HUSSAIN / AFP)

Em sessão conjunta da Wolesi e da Meshrano Jirga — respectivamente, a Câmara dos Deputados e o Senado —, em Cabul, o presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, culpou os Estados Unidos pelo avanço da milícia fundamentalista islâmica Talibã em regiões estratégicas do país. “A razão pela nossa situação atual é que a decisão (de retirada das tropas) foi tomada de modo abrupto”, declarou.

Até o fechamento desta edição, o governo norte-americano não tinha se pronunciado sobre a críticas de Ghani. Os Estados Unidos e o Reino Unido acusaram o Talibã de “massacrar civis” em Spin Boldak, distrito situado na província de Kandahar (sul), perto da fronteira com o Paquistão.

Um relatório da Comissão Independente de Direitos Humanos do Afeganistão (AIHRC) aponta que o Talibã matou pelo menos 40 pessoas. Uma vingança pelo fato de as autoridades terem retomado o controle do país depois que o grupo foi varrido do poder, após os atentados de 11 de setembro de 2001. O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, advertiu que as denúncias são “profundamente perturbadoras e totalmente inaceitáveis”.

Por meio do WhatsApp, o Correio entrevistou Zabihullah Mujahid, porta-voz do Talibã. Ele negou as informações sobre a matança em Spin Boldak. “Nós desmentimos essa alegação na semana passada; não é verdade”, afirmou. Em tom desafiador, Mujahid avisou que os talibãs planejam “uma ação decisiva nas cidades”. “As tropas e as forças do governo de Cabul não serão capazes de nos deter. Elas serão derrotadas, pois não têm moral, nem motivação”, avisou.

Mapa de avanço do Talibã
Mapa de avanço do Talibã (foto: AFP/Reprodução)

O porta-voz explicou que a cúpula do grupo extremista ainda não decidiu sobre a captura das principais cidades do Afeganistão. “Se o inimigo continuar as suas operações contra nós, iremos persegui-los.”
Ao ser perguntado se o Talibã vive uma recuperação após a derrota para a coalizão liderada pelos Estados Unidos, duas décadas atrás, Zabihullah foi evasivo: “Para nós, o melhor momento será quando a paz e a segurança chegarem ao nosso país”.

Cautela e medo

“A situação em Spin Boldak é muito ruim. As pessoas não podem sair de suas casas. Todas estão muito cautelosas. Às 14h de hoje (6h30 em Brasília), quatro talibãs invadiram a residência de um vizinho, o ex-policial Wahidullah, no vilarejo de Marifin. Eles o executaram na frente das duas esposas e dos cinco filhos. Ontem (domingo), assassinaram Hashm, outro ex-policial”, contou à reportagem um morador do distrito, sob condição de anonimato por temer pela própria segurança.

De acordo com ele, o presidente Ashraf Ghani pretende que a população afegã apoie o exército nacional no combate ao Talibã. “Se as forças estrangeiras apoiarem o nosso governo, eu estarei do lado delas. Mas existe o risco de os soldados do meu país não conseguirem derrotar os afegãos.

Se os estrangeiros querem a paz, deveriam apoiar os nossos militares. Somente assim poderão salvar o nosso povo e a nossa nação”, disse o morador. Cabul enviou centenas de soldados para Lashkar Gah (sul) e realiza bombardeios aéreos para impedir a capital da província de Helmand, de ser conquistada pelo Talibã.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação