PANDEMIA

Covid-19: OMS pede moratória para a terceira dose da vacina

Suspensão da aplicação extra de vacina busca reduzir as desigualdades na imunização contra o coronavírus e impulsionar a proteção em cidadãos de países mais pobres

Rodrigo Craveiro
postado em 05/08/2021 06:00
 (crédito: Zinyange Auntony/AFP )
(crédito: Zinyange Auntony/AFP )

O apelo ocorre no momento em que o mundo enfrenta a ameaça da variante Delta do Sars-Cov-2 — o que levou a China, primeiro “epicentro” da pandemia, e outros países a reverterem a flexibilização de medidas de controle sanitário. “A Organização Mundial da Saúde (OMS) está pedindo uma moratória sobre as doses de reforço das vacinas até pelo menos o fim de setembro, para permitirmos que ao menos 10% da população de cada país seja vacinada”, declarou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da entidade. 

“Nós apelamos a todos com influência — atletas olímpicos, investidores, executivos, líderes religiosos e a cada indivíduo em sua própria família e comunidade — para que apoiem o nosso pedido”, acrescentou.

Horas depois do pronunciamento de Tedros, os Estados Unidos rejeitaram a moratória. “Nós definitivamente sentimos que esta é uma escolha falsa e podemos fazer ambas as coisas (enviar doses para o exterior e assegurar a imunização de todos os americanos)”, afirmou a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, ao lembrar que os EUA doaram mais doses de imunizantes do que qualquer outro país. “Temos estoque suficiente para garantir que todo o norte-americano tenha acesso à vacina.”

Até o fechamento desta edição, pelo menos 4,27 bilhões de doses de imunizantes haviam sido aplicadas em todo mundo — mais de 80% delas em países de renda alta e média alta. Alemanha, Israel e França começaram a administrar uma terceira dose de reforço em seus cidadãos. A covid-19 matou 4,2 milhões de pessoas, e o Sars-CoV-2 infectou 200 milhões.

Tedros advertiu que as nações mais pobres estão ficando para trás na imunização contra a covid-19. “Eu compreendo a preocupação de todos os governos em proteger seus povos da variante Delta. Mas não poderíamos, nem deveríamos, aceitar que países que já utilizaram a maior parte do suprimento global de vacinas usem ainda mais, enquanto os povos mais vulneráveis do mundo permanecem desprotegidos”, disse. Para ele, o apelo da OMS pode ajudar a reduzir a enorme desigualdade no acesso à vacina entre países ricos e pobres.

O diretor-geral advertiu que as nações de baixa renda foram capazes de administrar somente 1,5 dose a cada 100 habitantes. Enquanto na União Europeia (UE) metade da população completou o ciclo de imunização — duas doses ou uma dose para a vacina da Janssen —, na África apenas 5% dos cidadãos receberam a primeira aplicação. Nenhum habitante do Haiti e da República Democrática do Congo foi contemplado com a segunda dose.

Ceticismo

Professor de medicina da Universidade Johns Hopkins e da Universidade Georgetown e especialista em direito de saúde pública, Lawrence Gostin disse ao Correio que concorda com a OMS. “Nós devemos atrasar quaisquer reforços da vacina até que o mundo tenha uma partilha mais justa do imunizante. O problema é que vejo como altamente improvável que nações de alta renda sigam a moratória”, comentou, ao citar os Estados Unidos como exemplo.

Gostin sublinha que a moratória precisa se estender até a distribuição mais equitativa da vacina em nações de baixa renda. “É grosseiramente antiético para os países ricos falar sobre reforços quando a maioria dos cidadãos do planeta não está vacinada”, criticou. O estudioso afirmou que existe grave escassez de imunizantes em todo o mundo. “Os países ricos deveriam doar doses antes de vacinar os jovens saudáveis ou antes de oferecer doses de reforço.”

Também ontem, a OMS pediu aos fabricantes de vacinas contra a covid-19 para que mantenham seus preços baixos e acessíveis. Relatos de que os laboratórios Pfizer/BioNTech e Moderna aumentarão o valor cobrado pelas doses de vacinas feitas com RNA mensageiro motivaram o pedido da organização.

 
4,27 bilhões
Total de doses administradas té o momento em todo o mundo, segundo a agência France-Presse

 

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China restringe viagens ao exterior

 (crédito: STR/AFP)
crédito: STR/AFP

Em meio a uma nova onda de contágios pela covid-19, a China anunciou, ontem, restrições a seus cidadãos que viajarem ao exterior. As autoridades endureceram o controle da mobilidade e também suspenderam o transporte local. Para controlar o surgimento de casos da doença, os serviços de imigração deixarão de expedir, temporariamente, passaportes e outros documentos necessários para viajar para fora do país, “a menos que exista uma razão imperiosa”, afirmou o diretor do Departamento de Imigração do governo chinês, Liu Haitao. No mês passado, depois do arrefecimento de contágios, novos casos de covid-19 foram detectados em Nankin, capital da província de Jiangsu (leste) — o foco se propagou rapidamente para outras 17 províncias.

As autoridades não informaram até quando as medidas estarão em vigor ou se os cidadãos chineses que já possuam esses documentos poderiam viajar ao exterior. A China registrou 71 novos casos nas últimas 24 horas, o que equivale ao número de contágios diários com origem local no mês de janeiro. Embora os novos casos sejam relativamente reduzidos na comparação com outros países, a extensão geográfica do foco é a mais importante dos últimos meses na China.

Nas regiões afetadas pela pandemia, as autoridades ordenaram a suspensão do transporte público e do funcionamento dos táxis. Em Pequim, onde ontem foram registrados três casos, as autoridades bloquearam o acesso a um bairro residencial onde vive um dos afetados, segundo a agência France-Presse.

Um ano e meio depois do início da pandemia, a covid-19 ressurgiu em Wuhan (centro da China), a primeira cidade do mundo a detectar o coronavírus, no fim de 2019. Na metrópole de 11 milhões de habitantes foram registrados três novos casos, o que levou ao rastreamento de todos os seus habitantes. Nankin, o foco da atual onda de casos, realizou testes três vezes em seus 9 milhões de habitantes.

Estupro de criança dalit causa revolta

 (crédito: Prakash Singh/AFP)
crédito: Prakash Singh/AFP

Gudiya, de apenas nove anos, era uma dalit — chamados de intocáveis, os dalits são marginalizados e estão fora do sistema de castas. No último domingo, ela foi estuprada e morta pelo sacerdote hindu identificado como Radhey Shyam, 55, e por outros quatro homens que trabalhavam em um crematório de Nova Délhi, em frente à casa onde morava de aluguel com os pais, catadores de lixo. A barbárie ocorreu quando a garota bebia água em um refrigerador instalado no local. O corpo da vítima foi incinerado no próprio crematório. Em protesto por justiça, os pais da menina acamparam em uma estrada de Nangal, bairro da capital. A família acendeu velas em tributo à criança. “O pai dela tinha ido ao mercado comprar verduras. Uma hora depois, como ela não havia retornado, fiquei ansiosa. Corri até o crematório e o sacerdote me disse: ‘Sua filha está morta’”, contou a mãe à emissora Al-Jazeera.

Em choque, ela perguntou ao religioso como Gudiya tinha morrido. “Eu disse-lhe que queria levá-la à delegacia de polícia e ao hospital, mas ele respondeu: ‘Não faça isso; eu lhe darei dinheiro, mas vamos resolver o assunto aqui’”, relatou. A mãe contou que o sacerdote mentiu que a menina tinha sido eletrocutada ao manusear o refrigerador. No entanto, pressionado pelo pai de Gudiya e por vizinhos, os cinco confessaram o estupro. Quatro suspeitos foram detidos pela polícia na noite de domingo. Desde então, centenas de dalits têm saído às ruas de Nova Délhi para exigir a punição aos criminosos. “Nós queremos justiça!” e “Justiça para a filha da Índia”, gritavam os manifestantes.

O ministro-chefe da Índia, Arvind Kejriwal, anunciou uma investigação realizada por juízes de Nova Délhi, além do repasse de 1 milhão de rúpias indianas (ou cerca de R$ 70 mil) como indenização aos pais da menina. “Nossa garota não poderá voltar. A injustiça feita à família é infeliz e não pode ser compensada, mas o governo dará 1 milhão de rúpias a eles e ordenará um inquérito magistral sobre o caso”, escreveu Kejriwal no Twitter. “Há uma necessidade de fortalecer a lei e a ordem em Délhi. Eu apelo ao governo central para dar passos firmes nesta direção”, acrescentou, segundo o jornal Times of India.

Em 2012, outro caso de estupro coletivo comoveu a Índia e o planeta. A estudante Jyot Singh, 23 anos, foi violentada com uma barra de ferro e torturada por quatro homens dentro de um ônibus em Nova Délhi. Jyot morreu 13 dias depois em um hospital de Cingapura, depois de ter as vísceras expostas. Em 20 de março passado, os estupradores foram enforcados.

 

 

 

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