O governo da Austrália rejeitou, neste domingo, as acusações da França de que mentiu sobre seus planos de cancelar um contrato de compra de submarinos franceses em favor de embarcações nucleares americanas, uma disputa que será o tema da conversa entre o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e seu homólogo francês, Emmanuel Macron, nos próximos dias.
Estados Unidos, Austrália e Reino Unido anunciaram, na última quarta-feira (15), uma associação estratégica para contra-atacar a influência da China no Pacífico, chamada Aukus, que inclui o fornecimento de submarinos nucleares americanos a Canberra, o que deixou os franceses fora do jogo comercial.
Macron pedirá a Biden “um esclarecimento” e “explicações” sobre o que “parece ser uma grande quebra de confiança”, informou o porta-voz do governo francês, Gabriel Attal, à rede BFMTV. “Haverá uma conversa telefônica nos próximos dias” entre os dois presidentes, por iniciativa de Biden, assegurou o porta-voz. A França está furiosa com a decisão da Austrália de romper um acordo firmado em 2016, de US$ 65 bilhões, para compra de submarinos franceses, em favor de embarcações nucleares norte-americanas.
Paris convocou, na sexta-feira, seus embaixadores nos Estados Unidos e na Austrália para consultas, acusando este último país de “mentir” sobre a ruptura do contrato, uma decisão sem precedentes entre aliados. Poucas horas antes, o primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, havia rejeitado as acusações francesas de ter mentido sobre esse contrato de compra de submarinos. Morrison disse, em entrevista coletiva em Sidney, que os franceses sabiam que o governo da Austrália tinha “profundas e graves reservas sobre o fato de as capacidades do submarino de classe Attack (da França) não responderem aos nossos interesses estratégicos”. Morrison disse que entende a “decepção” do governo francês, mas que encontrou problemas com o acordo “há alguns meses”.
Para o chefe de governo, seria uma “negligência” seguir adiante com o contrato, apesar de os serviços de inteligência e de defesa da Austrália terem sugerido a ele que estaria indo contra os interesses estratégicos do país. “Não me arrependo da decisão de colocar o interesse nacional da Austrália em primeiro lugar. Nunca me arrependerei”, afirmou.
O ministro australiano da Defesa, Peter Dutton, disse ontem que seu governo foi “franco, aberto e honesto” com a França sobre suas preocupações com o acordo, que estava acima do orçamento e com anos de atraso. “Nunca estivemos cientes das intenções australianas. Suas afirmações são equivocadas”, respondeu sua homóloga francesa, Florence Parly, em viagem oficial ao Níger. Por sua vez, a nova ministra britânica das Relações Exteriores, Liz Truss, defendeu neste domingo a posição de Londres no acordo de defesa com os Estados Unidos e a Austrália. Em artigo publicado por um jornal londrino, ela diz que o Aukus mostra o compromisso do Reino Unido “com a segurança e a estabilidade da região indo-pacífica”.
Em seu artigo, a ministra britânica não faz referência às tensões com a França, mas destaca o slogan "Global Britain" sobre o lugar do Reino Unido pós-Brexit no mundo, um tema que não sai da agenda do primeiro-ministro, Boris Johnson.
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