ALEMANHA

Angela Merkel apoia democrata-cristão para sucedê-la na liderança da Alemanha

Às vésperas de deixar o poder, Angela Merkel entra na campanha política e pede que o democrata-cristão Armin Laschet seja eleito sucessor. Amanhã, 60,4 milhões de cidadãos terão o direito de ir às urnas. Especialistas avaliam postura da chanceler

Rodrigo Craveiro
postado em 25/09/2021 06:00
Merkel sorri ao alimentar periquitos no Parque dos Pássaros de Marlow, no norte do país: carisma e liderança da mulher mais poderosa do mundo -  (crédito: GEORG WENDT)
Merkel sorri ao alimentar periquitos no Parque dos Pássaros de Marlow, no norte do país: carisma e liderança da mulher mais poderosa do mundo - (crédito: GEORG WENDT)

A apenas 48 horas das eleições legislativas que decidirão o seu sucessor, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, se posicionou pela primeira vez, de forma explícita, em favor do candidato de seu partido, a conservadora União Democrata Cristã (CDU). “Para que a Alemanha permaneça estável, Armin Laschet deve se tornar o chanceler federal”, declarou, durante um comício em Munique. Laschet, 60 anos, presidente da CDU desde janeiro, disputará o comando do país com o atual vice-chanceler e ministro das Finanças, Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD). “A questão de quem governa na Alemanha não é trivial”, acrescentou a chanceler. Mutti (“mamãe”, em alemão), como é chamada carinhosamente pela população, deixará o poder tão logo o ganhador das eleições consiga formar uma coalizão de governo sólida. Merkel se aposentará depois de 16 anos à frente da primeira economia da Europa.

Hoje, a chanceler participará de um comício para marcar o encerramento da campanha ao lado de Laschet, na cidade de Aachen, perto da fronteira com a Bélgica. Em Munique, Merkel também aproveitou para alfinetar o candidato social-democrata. “Dá para imaginar um governo vermelho-vermelho-verde?”, afirmou, ao citar a provável aliança que Scholz precisaria fazer com os Verdes e com os democratas-liberais. Scholz participou de um comício de campanha em Colônia (oeste) e defendeu uma “renovação” no país. “Precisamos de uma renovação para a Alemanha. Precisamos de uma mudança de governo e queremos um governo liderado pelo SPD”, discursou. Hoje, ele encerrará a campanha em Potsdam (leste).

Uma pesquisa de intenção de voto divulgada anteontem pelo instituto Civey mostra um empate técnico entre o SPD, de Scholz (25%), e a CDU, de Laschet (23%). Pelo menos 60,4 milhões de alemães estão aptos a votar amanhã — 31,2 milhões de mulheres e 29,2 milhões de homens.

Em entrevista ao Correio, Rüdiger Schmitt-Beck, professor de sociologia política da Universidade de Mannheim, explicou que a relação de uma eventual vitória de Laschet com a estabilidade da Alemanha. “Essa é uma retórica de campanha amplamente exagerada, que não foi inventada por Merkel, mas por Laschet ou assessores. A coalizão CDU/CSU está em sérios apuros, com desempenho muito ruim nas pesquisas, ficando atrás dos social-democratas, de Scholz. Assim, os governistas poderão perder as eleições para o SPD, que formariam um governo com os Verdes e com o Partido Democrático Liberal (FDP)”, afirmou. “A alegação de que um governo liderado por Scholz levaria a Alemanha a uma instabilidade catastrófica é parte da retórica de campanha de Laschet. No entanto, isso se mostra totalmente irreal e a maioria dos eleitores tem consciência disso. Ainda assim, Merkel tenta ajudar Laschet e a CDU, apesar da relutância em explicitar o apoio.”

Posicionamento

Professor de ciência política da Universidade de Coventry (Reino Unido) e autor da biografia Angela Merkel: Europe´s most influential leader (“Angela Merkel: a líder mais influente da Europa”), Matt Qvortrup lembrou à reportagem que, durante uma campanha eleitoral, a chanceler precisa se posicionar. “A surpresa aqui é que Merkel não tinha feito isso antes de forma tão explícita. Sua participação na campanha tem sido morna”, comentou. Segundo ele, uma vitória de Olaf Scholz, candidato do SPD, não representaria nenhum tipo de mudança para a Alemanha. “Scholz é o atual ministro das Finanças. Será preciso formar uma coalizão, como antes”, disse.

Segundo Qvotrup, Scholz lidera as pesquisas, ainda que sem ampla vantagem. “Seu sucesso se explica pelo desempenho ruim de Laschet. Sem dúvida, Scholz foi um ministro das Finanças de sucesso, mas a eleição fez a CDU vacilar por causa de brigas internas e porque Laschet cometeu erros”, observou.
Apesar de considerar que os social-democratas provavelmente vencerão no domingo, Schmitt-Beck alerta que Laschet dependerá de uma coalizão. “Os Verdes querem trabalhar com ele, mas o FDP preferia a aliança CDU/CSU. Por isso, os democratas-liberais serão os influenciadores em relação ao próximo governo. Mesmo se a CDU ficar em segundo lugar, ainda assim poderá ter chance de se tornar o principal partido de um eventual governo Scholz. Tudo vai depender das negociações entre os líderes partidários, as quais começarão logo depois da eleição”, disse o estudioso de Mannheim.

» Eu acho...

“A chanceler Angela Merkel quase não fez campanha para Armin Laschet, o candidato de seu partido, a União Democrata Cristã (CDU). Ela pode pensar que ele é um perdedor. Talvez não queira a reputação manchada pela associação com o nome de Laschet.” Matt Qvortrup, professor de ciência política da Universidade de Coventry (Reino Unido) e autor da biografia Angela Merkel: Europe´s most influential leader (“Angela Merkel: a líder mais influente da Europa”).


“Merkel está preocupada até certo ponto. Se as pesquisas estiverem corretas, a CDU sofrerá uma derrota. Mas, ela é uma pessoa racional e bem ciente de que Olaf Scholz e o Partido Social-Democrata (SPD) também são decentes e contam com uma agenda não extremista. Merkel sabe que a retórica de campanha da CDU é exagerada. Provavelmente, ela faz isso por lealdade partidária.” Rüdiger Schmitt-Beck, professor de sociologia política da Universidade de Mannheim (Alemanha).

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação