ESTADOS UNIDOS

Vitória republicana aumenta chance de democratas perderem controle do Congresso

Vitória do republicano Glenn Youngkin, aliado de Trump, nas eleições para o governo da Virgínia coloca em risco os projetos do presidente e aumenta a chance de os democratas perderem controle da Câmara e do Senado, em 2022

Rodrigo Craveiro
postado em 04/11/2021 06:00
Glenn Youngkin segura as mãos da vice, Winsome Sears (E), e da sua esposa, Suzanne (D), durante oração pela vitória, em Chantilly, Virgínia   -  (crédito:  Anna Moneymaker/Getty Images/AFP)
Glenn Youngkin segura as mãos da vice, Winsome Sears (E), e da sua esposa, Suzanne (D), durante oração pela vitória, em Chantilly, Virgínia - (crédito: Anna Moneymaker/Getty Images/AFP)

A pouco mais de dois meses de completar o primeiro ano de governo, o presidente norte-americano, Joe Biden, sofreu um forte golpe na eleição para o governo da Virgínia. Pela primeira vez desde 2010, os democratas perderam o estado para a oposição. Até o fechamento desta edição, com 95% das urnas apuradas, o republicano Glenn Youngkin estava matematicamente eleito: 50,9% dos votos contra 48,4% para Terry McAuliffe, para quem o próprio Biden fez campanha pessoalmente. O próprio presidente venceu neste estado com margem confortável de 10 pontos percentuais nas eleições de novembro de 2020. "Obrigado, Virgínia! Estou profundamente emocionado com a confiança depositada em mim. Vamos começar a trabalhar no primeiro dia para garantir que os virginianos voem e jamais se acomodem", afirmou Youngkin.

O desastre para o titular da Casa Branca poderia ter sido ainda pior. Em Nova Jersey, o democrata Phil Murphy foi confirmado como governador eleito do estado ao derrotar o republicano Jack Ciatarelli — com 90% das urnas apuradas, ele tinha conquistado 50,02% dos votos contra 49,23%. 

Na Virgínia, o triunfo de Youngkin representou uma injeção de ânimo no Partido Republicano — além de controlar as duas casas do Congresso, os democratas impediram a reeleição do magnata Donald Trump. Kevin McCarthy, líder da minoria republicana na Câmara dos Representantes (equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil), prevê que o partido de oposição conquiste mais de 60 assentos nas eleições de meio de mandato, em 2022. "Mais de 70 cadeiras serão competitivas. Muitos perderão suas disputas ao andarem em um penhasco, com Nancy Pelosi (presidente da Câmara) os empurrando", ironizou, ao ser  citado pelo site The Hill. 

Além da surpresa com a derrota na Virgínia e da vitória apertada em Nova Jersey, Biden volta as atenções para o Congresso. Em mais uma indicação da fragilidade política, legisladores das alas progressista e moderada do próprio Partido Democrata não conseguem chegar a um consenso sobre dois planos de investimento considerados cruciais para a Casa Branca. Biden aposta na rápida aprovação do projeto de reforma social e climática Build Back Better ("Reconstruir Melhor"), o qual prevê verbas de US$ 1,75 trilhão.

Resistência

A oposição democrata levou o presidente a reduzir pela metade o montante previsto no plano, o que ampliou as críticas ao seu governo. A derrota na Virgínia somou-se, em decepção, ao fato de que, durante sua participação da COP26 (a conferência do clima da ONU), Biden não conseguiu subir ao pódio, em Glasgow, com a aprovação da  parte ambiental do projeto: US$ 555 bilhões para diminuir as emissões de gases de efeito estufa, um esforço visto por Washingtom como "o maior investimento já feito para enfrentar a crise climática".

Kyle Kondik, especialista do Centro para Política da Universidade da Virgínia, explicou ao Correio que o partido na Presidência dos Estados Unidos tradicionalmente enfrenta dificuldades na corrida ao governo da Virgínia, especialmente quando o presidente em exercício é impopular. "Esse padrão familia se repetiu na última terça-feira, com a vitória de Glenn Youngkin", disse. Ele acredita que, com a vitória republicana no estado, os democratas ficarão muito preocupados em perder a maioria na Câmara e no Senado durante a eleição do próximo ano. "Isso pode torná-los menos propensos a apoiarem grandes propostas políticas, embora o Partido Democrata também possa sentir compelido a cumprir suas promessas, a fim de ter algo a mostrar durante a campanha do próximo ano."

Robert Y. Shapiro, professor de assuntos públicos e internacionais da Universidade Columbia, em Nova York, admitiu que a eleição de Youngkin foi um revés para Biden e para os democratas em âmbito nacional. "Isso confirma que os democratas terão dificuldades para evitar a perda da Câmara e do Senado em 2022. Também atesta que perduraram os ganhos dos republicanos em 2020, ao expandirem sua base e conquistarem 13 cadeiras da Câmara", afirmou, por e-mail. O estudioso lembra que Youngkin recebeu apoio dos eleitores que Biden conquistara nos subúrbios, em 2020, assim como esses votantes avalizaram os republicanos na corrida ao Congresso.

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Crianças de 5 a 11 anos recebem vacina anticovid-19

 (crédito: Joseph Prezioso/AFP)
crédito: Joseph Prezioso/AFP

Crianças imunizadas

Um dia depois de os Centros para a Prevenção e o Controle de Doenças (CDC) derem o seu aval, crianças de 5 a 11 anos começaram a receber a primeira dose da vacina da Pfizer-BioNTech, nos EUA. A nova fase da campanha de imunização contra a covid-19 foi classificada por Biden como um "marco". Ao todo, 28 milhões de menores desta faixa de idade estão aptos a serem vacinados. Na foto, um menino de 10 anos cumprimenta a farmacêutica com um "high five", em Hartford (Connecticut). 

Nova York elege segundo prefeito negro da história

 (crédito: Angela Weiss/AFP)
crédito: Angela Weiss/AFP

Ex-capitão do Departamento de Polícia de Nova York, ex-senador estadual e, desde a madrugada de ontem, o 110º prefeito da megalópole e o segundo negro a assumir o comando da Big Apple, depois de David Dinkins (1990-93). "É com o coração cheio e uma visão lúcida e esperançosa pelo futuro que humildemente aceito o título de prefeito eleito de Nova York. A cada apoiador, endossante, voluntário e eleitor que tornou isso possível: 'Obrigado, do fundo do meu coração, por depositar sua confiança em mim'", escreveu Eric Adams, 61 anos, em seu perfil no Twitter, às 19h de ontem (hora de Brasília).

O primeiro pronunciamento sobre a vitória ocorreu ainda na noite de terça-feira, também por meio da rede social. "Este é o meu sonho, e eu não poderia estar mais orgulhoso por representar a cidade que todos nós amamos", afirmou o policial que fez da luta contra o racismo uma máxima. Até o fechamento desta edição, com 78% dos votos apurados, Adams tinha 66,5% contra 28,8% para o republicano Curtis Sliwa. 

De acordo com o jornal The New York Times, Adams terá um orçamento de quase US$ 100  bilhões (ou R$ 559 bilhões) e um deficit potencial de US$ 5 bilhões (ou R$ 27,9 bilhões). "Eu serei o prefeito 'Faça as coisas'", prometeu, em entrevista à rede de TV MSNBC. "Como moveremos nossa cidade adiante? Vou construir pontes, não implodi-las." Ele assumirá a prefeitura em 1º de janeiro, ao suceder o impopular Bill de Blasio.

Robert Y. Shapiro, professor de assuntos públicos e internacionais da Universidade Columbia, em Nova York, disse ao Correio que o segundo prefeito afro-americano da história da metrópole se elegeu mais como um democrata moderado do que alguns de seus adversários mais esquerdistas. "Seus maiores desafios são a pandemia da covid-19 e seus efeitos sobre a economia, mas também o aumento da criminalidade", observou. "Adams pretende criar e expandir negócios, lidar com a desigualdade de renda, assegurar tratamento justo a membros de grupos minoritários e resolver o tema dos sem-teto."

As eleições de terça-feira também resultaram em importantes avanços no reforço à representatividade racial na política norte-americana. Boston, por exemplo, escolheu a primeira mulher — e a primeira pessoa de cor negra — para a prefeitura. Michelle Wu, uma democrata progressista, derrotou a vereadora Annissa Essaibi George.

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