Até o presidente norte-americano, Joe Biden, demonstrou incômodo e angústia com o veredicto que foi proferido a 1.224km de Washington, na Corte Municipal de Kenosha, em Wisconsin. Assim que escutou as palavras do juiz Bruce Schroeder, ao ler a decisão tomada pelo júri depois de 25 horas de deliberação, Kyle Rittenhouse levou as mãos ao rosto, soluçou e saiu rapidamente do tribunal. O jovem branco que usou um fuzil AR-15 para matar dois antirracistas na cidade, em 25 de agosto de 2020, foi absolvido de todas as cinco acusações, entre as quais homicídio imprudente de primeiro grau, assassinato intencional de primeiro grau e uso de arma perigosa.
Biden divulgou comunicado no qual exortou a calma racial e admitiu que o veredicto "deixará muitos americanos nervosos e preocupados, inclusive eu". No entanto, disse ser preciso reconhecer que o júri — composto por cinco homens e sete mulheres — "falou".
"Fiz a promessa de unir os americanos, pois acredito que o que nos une é muito maior do que o que nos divide", afirmou, ao lembrar que as feridas do país não serão curadas do dia para a noite. "Peço a todos que expressem suas opiniões pacificamente, em acordância com o Estado de direito. A violência e a destruição de propriedades não têm lugar em nossa democracia", advertiu o chefe de Estado, depois de conversar com o governador de Wisconsin, o também democrata Tony Evers, e oferecer ajuda federal para garantir a segurança. Evers pediu a Biden que colocasse de prontidão 500 soldados da Guarda Nacional, ante o risco de protestos.
Ao ser questionado por repórteres, depois de retornar à Casa Branca do Hospital Walter Reed, onde se submeteu a uma bateria de exames de rotina, Biden reforçou: "Eu mantenho o que o júri concluiu". "O sistema do júri funciona e temos que defendê-lo".
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Legítima defesa
Rittenhouse enfrentava uma sentença de prisão perpétua e alegou ter agido em legítima defesa, ao matar Joseph Rosembaum, 36 anos, e Anthony Huber, 26, e ferir Gaige Grosskreutz, hoje com 27. O duplo homicídio ocorreu dois dias depois de Jacob Blake, um homem negro de 29 anos, ter sido gravemente ferido pela polícia durante abordagem.
"Não fiz nada de errado, apenas me defendi", disse o jovem, entre soluços, ao ser inquirido durante o julgamento. Ele assegurou que atirou depois de ser perseguido e atacado pelos três homens, todos brancos. Gravações de vídeo exibidas durante o julgamento mostravam Rittenhouse disparando ao ser confrontado pelos manifestantes.
Ao expor os argumentos da acusação, o promotor Thomas Binger classificou Rittenhouse como "um turista do caos" que "buscava excitação" e, de forma voluntária e consciente, colocou-se em uma situação perigosa. Mark Richards, advogado do réu, rebateu e declarou que o julgamento foi "justo". "Ele quer continuar com a sua vida. Apesar da enorme sensação de alívio, ele gostaria que nada disso tivesse acontecido."
Do lado de fora do tribunal, manifestantes expressaram indignação com o veredicto. "Culpado, culpado, o sistema é duplamente culpado", gritaram. "É um dia triste para os Estados Unidos", disse Will Diaz, um trabalhador de 44 anos, à agência de notícias France-Presse.
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"Coração partido"
Os pais de Huber divulgaram comunicado no qual disseram estar com o coração partido e zangados. "Não houve justiça, hoje, para Anthony, nem para as outras vítimas do senhor Rittenhouse, Joseph Rosenbaum e Gaige Grosskreutz. (...) O veredicto de hoje (ontem) significa que não houve punição à pessoa que assassinou o nosso filho. Ele envia a inaceitável mensagem de que civis armados podem aparecer em qualquer cidade, incitar a violência e usar o perigo que criaram para justificar atirar em pessoas na rua", desabafaram John Huber e Karem Bloom.
Kariann Stewart, noiva de Rosenbaum, desabafou: "Sinto que, neste caso, as vidas das vítimas não importam". "Se a vida de uma ou duas pessoas não importa, então nenhuma de nossas vidas importa", acrescentou, ao afirmar a repórteres que avalia o desfecho do caso como "inaceitável".
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