Cuba

Luta cívica "aterroriza" regime cubano, diz opositor

Em entrevista ao Correio, Yunior García Aguilera conta detalhes do embate contra o governo de Cuba

Rodrigo Craveiro
postado em 24/11/2021 06:00
 Yunior García Aguilera:
Yunior García Aguilera: "Sempre apelam ao messianismo" - (crédito: Adalberto Roque/AFP)

Fundador da plataforma oposicionista cubana Archipiélago e responsável por organizar a "marcha cívica" de 15 de novembro, em Havana, o ator Yunior García Aguilera deixou a ilha socialista em 17 de novembro e desembarcou em Madri, capital da Espanha. Em entrevista ao Correio, por telefone, ele garantiu que, apesar de a plataforma ter anunciado a mudança rumo a uma "diretriz horizontal", a Archipiélago "sempre foi plural e democrática".

"Eu não tinha nenhum tipo de hierarquia no grupo de colaboradores. As decisões sempre foram tomadas por consenso. O regime de Miguel Díaz-Canel tentou superdimensionar minha figura. Isso é o que eles sempre fazem: apelam ao messianismo, ao caudilhismo e à necessidade de Cuba de encontrar um Messias. Depois, tentam destruir a imagem do opositor por todos os meios possíveis", acrescentou.

Yunior sublinha que sua luta é "cívica". "Isso aterroriza o regime, pois é algo que ele não está habituado a enfrentar. A Archipiélago continuará a ser plural. Como neste momento me encontro fora, todos consideramos que os líderes e vice-líderes precisam estar dentro de Cuba. Aqueles que arriscam suas vidas têm que ocupar a posição de comando", comentou. O dissidente contou que, apesar de sofrer ameaças e de se tornar alvo de uma campanha midiática de descrédito "pouco antes vista na história recente de Cuba", decidiu manter os protestos de 15 de novembro passado.

"Pelas redes sociais, começaram a publicar como as brigadas de resposta rápida — simpatizantes do regime de Miguel Díaz-Canel — se preparavam com paus e pregos na ponta para golpear os manifestantes. Isso fez com que setores da sociedade civil se preocupassem com a vida dos ativistas. Por esses motivos, pedimos aos manifestantes que buscassem maneiras alternativas de protestar", disse Yunior. "Em meu caso, anunciei que no dia 14 faria uma caminhada solitária pelas ruas de Havana segurando uma rosa branca. A casa onde vivia com minha mulher e meu sogro amanheceu sitiada por 200 agentes à paisana, disfarçados de civis, das 5h da manhã até horas da noite. Gritaram todos os tipos de ofensas."

Fuga

Segundo Yunior, na madrugada de 15 de novembro, amigos o levaram para outra casa. "Não tinha ideia se era uma armadilha. Eu havia solicitado um visto à Espanha pensando que, se fosse preso, poderia negociar uma saída", relatou. "Percebi que o plano do regime não era me deter, mas me manter incomunicável dentro de casa. No dia 15, aceitei a proposta de vários amigos e, com um visto de turista, válido por 90 dias, viajei à Espanha."

Ele afirma que a "ditadura" conseguiu se manter no poder após ganhar parte da comunidade internacional. "Venderam uma imagem da revolução que nada tem a ver com a realidade. Venderam uma utopia romântica, um conto de fadas. Cuba se parece mais com um capitalismo monopolista de Estado do que uma sociedade progressista", criticou o opositor.

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