Pandemia

Boris Johnson enfrenta rebelião conservadora após anunciar medidas contra ômicron

Primeiro-ministro do Reino Unido se vê às voltas com insatisfação dentro do próprio partido contra medidas de restrição social impostas para conter a cepa ômicron. Chanceler da Alemanha promete combater "minoria extremista" que se opõe à vacina

Rodrigo Craveiro
postado em 16/12/2021 06:00
 (crédito: Tolga Akmen/AFP)
(crédito: Tolga Akmen/AFP)

No Reino Unido, envolto em escândalos e enfraquecido politicamente depois de anunciar novas medidas restritivas para tentar barrar o avanço da ômicron, o premiê Boris Johnson, enfrenta uma rebelião dos tories — como são chamados os integrantes do próprio Partido Conservador. Na Alemanha, a polícia confisca armas durante uma operação na Saxônia (leste), em investigações sobre ameaças de morte feitas por grupos antivacina contra o ministro-presidente regional, Michael Kretschemer, que apoia ações contra a pandemia. Os dois países somam 17.628.977 casos da covid-19 e 253.770 mortes. O chanceler alemão, Olaf Scholz, prometeu mobilizar os recursos do Estado contra o que chamou de "minoria de extremistas" antivacinas.

Diretor do Departamento de Economia Política do King's College London, o professor Andrew Blick admitiu ao Correio que a rebelião dos tories (conservadores) é um tema grave por si mesmo e está relacionado ao descontentamento geral em relação à liderança de Boris Johson. "Esse tipo de episódio ilustra a importância do Parlamento e do grupo de governo dentro dele. Tem o potencial de exercer considerável influência, às vezes", afirmou. Nas últimas duas semanas, denúncias de que o premiê e assessores participaram de festas e reuniões sociais, durante o inverno de 2020, aumentaram a insatisfação.

De acordo com Blick, uma ala do Partido Conservador está muito preocupada com a adoção de medidas restritivas por parte do premiê. "O fato de estarem dispostos a se rebelar dessa maneira sugere que a credibilidade de Johnson, enquanto líder, está sob ameaça, parcialmente por temas não diretamente ligados à covid. Eles incluem revelações sobre a ocorrência de festas em pleno lockdown, acusações de corrupção e críticas ao seu estilo político em geral", acrescentou. Para o estudioso, Johnson tem pela frente uma escolha de Sofia. "Ele terá de decidir se vai priorizar os conselhos científicos para adotar medidas mais rigosas ou a unidade de seu partido."

Por sua vez, Nick Turnbull — professor de política da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Manchester — concorda que o levante dos tories é significativo. "A inquietação tem crescido dentro dos círculos conservadores em relação à liderança de Johnson. Analistas conservadores vêm criticando o governo por pender muito para a esquerda. As restrições que exigem um passaporte da covid-19 são vistas por muitos membros do governo como contrárias aos princípios da liberdade que definem o partido. Foi uma rebelião expressiva, que atingiu mais do que a maioria parlamentar do governo. Tanto que os votos trabalhistas foram necessários para a aprovação das restrições", disse à reportagem.

Turnbull adverte que Johnson cavalga na própria sorte, mas pode levar um tombo. "Se ele perder popularidade por um período sustentado, e se o Partido Trabalhista puder fazer incursões reais vencendo as eleições parciais, o Partido Conservador será implacável e substituirá o primeiro-ministro", avalia. Ele acredita que, se a crise de saúde não melhorar, a situação de Johnson tende a piorar.

Segundo Anthony Glees, professor emérito da Universidade de Buckingham, o premiê está "preso entre uma rocha e um lugar difícil. "Se ele introduzir mais medidas graças à ômicron, os tories não o apoiarão e ele estará fora. Se não apresentar as medidas, os trabalhistas ganharão e ele estará fora. Se eu fosse ele, ofereceria ao líder da oposição, Sir Keir Staimer, uma posição no governo e firmaria uma coalizão entre trabalhistas e conservadores enquanto durar a pandemia."

Negacionismo

Em discurso no Bundestag, o chanceler alemão, Olaf Scholz, declarou que "o que existe atualmente na Alemanha é a negação da realidade, as histórias de conspiração absurdas, a desinformação deliberada e o extremismo violento". Ele avisou que a resposta do governo utilizará "todos os recursos de nosso Estado de direito democrático". Professor do Departamento de Governo da Universidade de Georgetown e especialista em política alemã, Eric Langenbacher elogiou a postura de Scholz. "Ante o aumento chocante no número de infecções nas últimas semanas e com a ômicron, esta é a posição certa a ser adotada. Se Scholz mantivê-la, isso poderá fortalecê-lo. Ele demonstraria consistência, determinação e liderança forte", afirmou ao Correio.

 

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