Após conversas com negociadores dos Estados Unidos, Moscou garantiu, ontem, que não intenciona atacar a Ucrânia. Americanos e russos asseguraram que querem continuar com o diálogo perante uma desescalada, embora tenham persistido em suas advertências mútuas. "Gostaria de acreditar (na Rússia)", declarou a embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, Linda Thomas-Greenfield. "Gostaria que fosse verdade, de que eles não têm planos, mas tudo o que vimos até agora indica que eles estão indo nessa direção", ressalvou a diplomata.
As negociações, em Genebra, na Suíça, foram lideradas pela vice-secretária de Estado dos EUA, Wendy Sherman, e seu colega russo, o vice-ministro das Relações Exteriores, Serguei Riabkov. O diálogo ocorreu em meio a temores de uma invasão russa a seu vizinho pró-ocidental e com o Kremlin exigindo amplas concessões de Washington e seus aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Encerrada a reunião, o vice-chanceler russo afirmou que seu país não tem "planos ou intenção de atacar" a Ucrânia. Riabkov assinalou que as dezenas de milhares de soldados destacados nas fronteiras estavam lá porque seus rivais ocidentais também aumentaram sua presença.
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Custos
Por sua vez, Wendy Sherman disse que havia insistido com seu homólogo russo que uma eventual invasão da Ucrânia geraria custos significativos — "enormes" — por parte dos países ocidentais. E que Moscou poderia iniciar uma "desescalada" fazendo com que todos os militares concentrados na fronteira "retornem aos seus quartéis".
Em relação à reivindicação chave da Rússia, ou seja, obter garantias de que a Otan não irá expandir e que, ao contrário, reduzirá a sua presença militar nas proximidades da Rússia, Riabkov se mostrou mais positivo do que no dia anterior. "Temos a impressão de que o lado americano levou muito a sério as propostas russas", disse. Segundo ele, "a situação não é desesperadora", ainda que não se possa "subestimar os riscos relacionados ao agravamento da evolução do confronto".
"É preciso avançar, é necessário um verdadeiro gesto em relação à Rússia e isso deve partir da Otan", ressaltou o vice-chanceler. Ele enfatizou que "nunca, mas nunca" a Ucrânia deve aderir à Aliança Atlântica. Para Riabkov, as concessões à Rússia devem ser feitas rapidamente e o processo de negociação não deve levar "meses ou anos".
Já Sherman informou, em tom conciliatório, que os Estados Unidos apresentaram "uma série de ideias que nossos países podem adotar como ações recíprocas que atenderiam nossos interesses de segurança e melhorariam a estabilidade estratégica". No entanto, a diplomata alertou Moscou que a "política de portas abertas" da Otan continuará a ser aplicada apesar dos pedidos da Rússia.
Explosão
Longe de Genebra, no leste da Ucrânia, dois soldados ucranianos foram mortos em uma explosão, os primeiros óbitos este ano na linha de frente dos combates separatistas. No domingo, o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, pressionou o presidente Vladimir Putin para que evitasse uma nova agressão contra a Ucrânia e desse prioridade à diplomacia.
As negociações de ontem abrem uma semana de diplomacia entre a Rússia e o Ocidente, após Moscou reunir dezenas de milhares de tropas na fronteira ucraniana, levando os Estados Unidos e a Europa a um confronto que lembra a Guerra Fria.
Os ocidentais ameaçaram o Kremlin com a adoção de sanções "em massa" se houvesse novos ataques à Ucrânia. A Rússia exerce intensa pressão sobre o país desde 2014, após a derrubada de um governo pró-Kremlin, contrário à reaproximação do país com a Europa.
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