O clima de tensão aumentou na fronteira entre a Rússia e a Ucrânia e o governo dos Estados Unidos determinou que as famílias de diplomatas norte-americanos deixem o país "devido à ameaça persistente de uma operação militar russa". Na última semana, após ameaças de sanções à Rússia, um encontro entre representantes da Casa Branca e do Kremlin deu sinais de um possível avanço nas negociações. Mas a calmaria durou poucas horas. É forte a possibilidade de o país comandado por Vladimir Putin invadir a Ucrânia.
Ontem, o governo ucraniano declarou que pretende desmantelar qualquer grupo pró-Rússia que tente interferir na administração do país. Uma resposta à declaração da ministra das Relações Exteriores britânica, Liz Truss, que afirmou ter provas de que Moscou pretende interferir politicamente e ocupar o território da Ucrânia.
No sábado, Truss acusou a Rússia de tentar "instalar um líder pró-russo em Kiev''. A ministra pediu para o Kremlin "desescalar, encerrar suas campanhas de agressão e desinformação, e perseguir um caminho de diplomacia". Ainda de acordo com a ministra, "qualquer incursão militar da Rússia na Ucrânia seria um erro estratégico enorme com custos severos". O Reino Unido aponta o ex-deputado Yevhen Murayev como o líder potencial aliado ao governo russo.
Aliados de países ocidentais acusam a Rússia de enviar tanques, artilharia e cerca de 100.000 soldados para a fronteira ucraniana em preparação para um ataque.
Em nota encaminhada à Agência France-Presse, o assessor do chefe da administração presidencial ucraniana, Mykhailo Podoliak, afirmou que o país não permitirá interferências. "Nosso Estado continuará sua política de desmantelar qualquer estrutura oligárquica e política que possa trabalhar para desestabilizar a Ucrânia ou ser cúmplice dos ocupantes russos", disse.
A porta-voz do Ministério russo de Relações Exteriores, Maria Zakharova, negou as acusações. "A desinformação disseminada pelo Ministério de Relações Exteriores do Reino Unido é mais uma evidência de que são os países da Otan, liderados pelos anglo-saxões, que estão escalando as tensões em torno da Ucrânia", afirmou. "Pedimos que o Ministério de Relações Exteriores do Reino Unido pare de realizar atividades de provocação e espalhar mentiras", conclui.
Emily Horne, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, considerou as acusações como preocupantes e afirmou que "o povo ucraniano tem o direito soberano de determinar seu próprio futuro, e estamos com nossos parceiros democraticamente eleitos na Ucrânia", declarou.
As denúncias ameaçam a retomada das negociações entre o chefe da diplomacia russa, Sergey Lavrov, e o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, que se reuniram sexta-feira (21), em Genebra, com o objetivo de minimizar a tensão entre os dois países do leste europeu.
Sanções
Na última semana, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, chegou a questionar o porquê de não aplicar sanções ao governo russo a partir de agora. O secretário de Estado dos Estados Unidos afirmou que ainda não é o momento. "O propósito das sanções é evitar a agressão russa. Então, se elas forem impostas agora, perdem esse efeito", afirmou, em entrevista à CNN americana. Blinken explicou que Estados Unidos e Europa têm atuado conjuntamente com o objetivo de evitar ações agressivas por parte do Kremlin.
Sobre a declaração dos aliados britânicos de interferência de Moscou no governo ucraniano, Blinken destacou que não pode comentar assuntos específicos de inteligência, mas que esse tipo de tática "faz parte dos truques da Rússia" e que é importante estar alerta.
O presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou que a Rússia pagará um elevado preço caso invada a Ucrânia, incluindo um alto custo humano e danos profundos à sua economia. "Será um desastre para a Rússia", disse ele, acrescentando que os russos podem, eventualmente, prevalecer, mas suas perdas "serão grandes".
Incidente diplomático
O comandante da Marinha alemã, Kay-Achim Schönbach, renunciou ao cargo na noite de sábado, após se envolver em um incidente diplomático no complexo conflito entre Rússia e Ucrânia. Durante uma palestra na Índia, o militar afirmou que o presidente russo "provavelmente merece respeito" e "a Península da Crimeia se foi, nunca mais voltará. Isso é um fato. E, meu Deus, dar respeito a alguém custa pouco ou nada. É fácil dar a ele o respeito que ele realmente quer e, provavelmente, merece", completou.
Após a declaração polêmica, que vai na contramão do que defendem os Estados Unidos e a União Europeia, Schönbach publicou uma nota no perfil da Marinha alemã no Twitter. "Meus comentários sobre a política de defesa durante uma sessão de discussão em um think tank na Índia refletiram minha opinião pessoal naquele momento. Eles não refletem de forma alguma a posição oficial do Ministério da Defesa", disse.
Na sequência, solicitou seu afastamento do cargo. "Pedi à ministra da Defesa, Christine Lambrecht, para me dispensar de minhas funções imediatamente", disse o vice-almirante em comunicado enviado à Reuters.
Oração pela paz
Ontem, o papa Francisco voltou a manifestar preocupação com as tensões na Ucrânia, "que ameaçam infligir um novo golpe à paz" no país. O sumo pontífice conclamou os fiéis para um dia de oração pela paz na Ucrânia, na quarta-feira, 26. "Faço um forte apelo a todas as pessoas de boa vontade para que elevem orações a Deus onipotente, para que cada ação e iniciativa política esteja a serviço da fraternidade humana", disse Francisco, recordando que quem persegue os próprios fins em detrimento dos demais despreza a própria vocação do homem, "porque todos fomos criados irmãos".
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