GUERRA NO LESTE EUROPEU

Uma criança vira refugiada a cada segundo na Ucrânia, afirma Unicef

Segundo estimativas, dos 3 milhões de pessoas que deixaram a Ucrânia nas últimas três semanas, 1,4 milhão são menores, por vezes até desacompanhados

Correio Braziliense
postado em 16/03/2022 06:00
 (crédito: Louisa Gouliamaki/AFP)
(crédito: Louisa Gouliamaki/AFP)

Na mais grave crise migratória europeia em quase oito décadas, deflagrada pela invasão russa à Ucrânia, as crianças são fortemente atingidas. Segundo informações do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), praticamente a cada segundo, uma criança ucraniana se torna refugiada. Em 20 dias de guerra, em torno de 1,4 milhão de meninos e meninas, alguns sem acompanhante, foram forçados a deixar suas casas — 55 por minuto.

Desde o início dos ataques, em 24 de fevereiro, mais de 3 milhões de pessoas fugiram da Ucrânia, de acordo com o último balanço da Organização Internacional para as Migrações (OIM). "Essa crise, por sua velocidade e sua magnitude, não tem precedentes desde a Segunda Guerra Mundial", disse James Elder, porta-voz do Unicef, em entrevista coletiva em Genebra.

Elder alertou para a gravidade da situação. Com o risco de serem separados de seus pais, os pequenos ucranianos estão sujeitos a "sofrerem violência, serem exploradas sexualmente, ou servirem ao tráfico" de pessoas.

A Polônia é o país que mais vem recebendo refugiados da Ucrânia. De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), 1,79 milhão de pessoas encontraram refúgio no país. Romênia, Hungria e Moldávia também receberam um número importante de ucranianos que fugiram da ofensiva russa.

Óbitos

Em discurso por videoconferência, ontem, no Parlamento do Canadá, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, externou a preocupação com a situação dos menores. Ele destacou que 97 crianças morreram desde o início dos ataques determinados pelo presidente russo, Vladimir Putin.

Segundo estimativas das Nações Unidas, 80 mil ucranianas devem dar à luz nos próximos três meses, enquanto oxigênio e suprimentos médicos, inclusive para o tratamento de complicações na gravidez, estão em níveis "perigosamente baixos".

No discurso aos canadenses, Zelensky enfatizou que os militares russos estão destruindo tudo. "Complexos memoriais, escolas, hospitais, conjuntos habitacionais", elencou. "Estão nos dando ajuda militar e humanitária, implementaram sanções severas, mas infelizmente estamos vendo como isso não encerra a guerra", acrescentou, indicando que a Rússia pretende "aniquilar a Ucrânia".

Corredor humanitário

Com a intensificação dos ataques, o número de pessoas que tentam deixar o território ucraniano não para de aumentar. Ontem, 20 mil conseguiram sair da cidade portuária sitiada de Mariupol, sul do país, por um corredor humanitário acordado com as forças russas, informou o subchefe da administração presidencial da Ucrânia, Kirilo Timoshenko. "Quatro mil carros saíram da cidade", disse.

No total, 29 mil pessoas foram retiradas de várias cidades sitiadas na Ucrânia apenas ontem. O corredor humanitário utilizado por essas colunas de veículos liga Mariupol a Zaporizhia, no noroeste, passando por Berdyansk, numa distância de cerca de 270km de estrada.

Após uma série de fracassos devido à falta de um cessar-fogo, as evacuações se aceleraram na cidade, que se encontra em condições catastróficas após dias consecutivos de bombardeios e de cerco das forças russas e de separatistas. Os habitantes, vivendo em porões, carecem de comida e água. Mais de 2,1 mil pessoas foram mortas em Mariupol em três semanas.

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    Garoto brinca em abrigo na fronteira com a Polônia Foto: AFP

Atenção ao Afeganistão

Dedicado à grave situação na Ucrânia, o titular do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur), Filippo Grandi, assinalou, ontem, que a crise decorrente da invasão russa não deve fazer com que o mundo se esqueça do Afeganistão. Em visita ao país do centro da Ásia, Grandi advertiu que há "muito risco" de as necessidades humanitárias dessa população, agravadas após a tomada de poder pelo Talibã, não serem mais observadas. "Minha mensagem, ao vir aqui, é que não se esqueçam de outras situações que requerem atenção e recursos, e o Afeganistão é uma delas", assinalou.

 

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