GUERRA NA UCRÂNIA

Tropas russas desistem de Kiev e deixam cenas trágicas na Ucrânia

Sem conseguir tomar a região da capital, russos mudam de estratégia e concentram-se ao sul e ao leste. Cenas devastadoras, como cadáveres de civis espalhados pelas ruas, foram vistas nas localidades abandonadas

Depois de quase um mês de ocupação russa, a Ucrânia recuperou o controle de toda a região de Kiev, segundo autoridades do país invadido. As imagens da capital e das cidades próximas mostram uma terra arrasada. Escombros por todas as partes e, de acordo com relatos da agência de notícias France Presse, dezenas de cadáveres espalhados, o que foi testemunhado em Bucha, a 30km, noroeste.

Assim como haviam anunciado há alguns dias, as forças russas decidiram concentrar os esforços no leste e no sul da Ucrânia, reduzindo a presença nas regiões de Kiev e Chernihiv, ao norte, em consequência da tentativa fracassada de tomar a capital e os arredores. Cinco semanas após a ofensiva do presidente Vladimir Putin, a Cruz Vermelha ainda tentava, ontem, organizar a retirada de milhares de pessoas presas em Mariupol, cidade portuária no Mar de Azov, sem água, comida e eletricidade.

A saída das tropas russas da região de Kiev não significa um retrocesso de Moscou, contudo. Segundo o conselheiro presidencial ucraniano, Mikhailo Podoliak, com a mudança de tática, Putin quer "manter o controle de vastos territórios ocupados no leste e no sul e ganhar uma base poderosa lá".

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Execução

Em Bucha, Irpin, Gostomel e no restante da região de Kiev, o rastro de destruição é evidente. Na primeira, corpos de pelo menos 20 pessoas em trajes civis foram espalhados em uma única rua da cidade, disseram repórteres da France Presse. Um dos cadáveres estava com as mãos amarradas atrás das costas, um indicativo de execução. Segundo o prefeito de Bucha, Anatoly Fedoruk, "todas essas pessoas foram mortas com um tiro na nuca". O governante afirmou que 280 pessoas tiveram que ser enterradas em valas comuns, pois era impossível fazê-lo em cemitérios, dentro do alcance do bombardeio russo.

Ontem, o principal negociador ucraniano, David Arakhamia, garantiu que Moscou aceitou "oralmente" as principais propostas ucranianas e que aguarda uma confirmação escrita. Também informou que as negociações para encerrar o conflito haviam progredido.

Em um vídeo, o presidente ucraniano voltou a insistir no apelo para que o Ocidente forneça mais apoio militar ao país. "Deem-nos mísseis, aviões", implorou Zelensky na rede de TV Fox. "Vocês não podem nos dar caças F-18 ou F-19 ou o que vocês têm? Deem-nos aviões soviéticos velhos. Isso é tudo. Deem-me algo para defender meu país."

O Pentágono anunciou que destinará US$300 milhões em "ajuda de segurança" para fortalecer a defesa da Ucrânia, além do US$ 1,6 bilhão que Washington já ofereceu desde o início da invasão russa. O pacote inclui sistemas de foguetes guiados a laser, drones, munições, aparelhos de visão noturna, sistemas de comunicação tática, equipamentos médicos e peças de reposição.

Sanções

A Rússia enfrenta sanções ocidentais sem precedentes, que levaram empresas multinacionais a abandonar o país. As autoridades norte-americanas afirmaram que a economia deve enfrentar uma contração de 10%.

A China, grande aliada comercial da Rússia, negou que evite "deliberadamente" as sanções ocidentais contra Moscou, um dia depois de receber uma advertência da União Europeia de que qualquer apoio de Pequim ao Kremlin prejudicaria as relações econômicas com a Europa.

A economia ucraniana também sofre: o PIB desabou 16% no primeiro trimestre.