Guerra no leste europeu

Biden decide enviar ajuda militar à Ucrânia e aumenta tensão com a Rússia

Governo Biden decide enviar à Ucrânia quatro sistemas de foguetes de alta mobilidade, e o chanceler russo, Serguei Lavrov, vê "provocação direta". Moscou acusa os EUA de "jogarem lenha na fogueira" e alerta para o risco de confronto se espalhar

Rodrigo Craveiro
postado em 02/06/2022 06:00
 (crédito: Dimitar Dilkoff/AFP)
(crédito: Dimitar Dilkoff/AFP)

O anúncio do 11º pacote de ajuda militar norte-americana à Ucrânia, que inclui o fornecimento de quatro sistemas de foguetes de artilharia de alta mobilidade (HIMARS, pela sigla em inglês), agravou a tensão com a Rússia. "Nós acreditamos que os Estados Unidos estão, proposital e diligentemente, lançando lenha à fogueira", afirmou Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin. Por sua vez, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, advertiu que risco de envolvimento de um terceiro país no conflito ucraniano "certamente existe", ao comentar os pedidos de armamentos feitos pelo presidente Volodymyr Zelensky.

"O que o regime de Kiev está exigindo tão categoricamente, como se todo mundo lhe devesse algo, ultrapassa todos os limites da decência e da comunicação diplomática, e é uma provocação direta destinada a envolver o Ocidente na ação militar", disse Lavrov.

O sistema HIMARS permite lançamentos múltipos de foguetes e conseguem atingir alvos a 80km de distância. Zelensky tinha solicitado mísseis de longo alcance. A ajuda militar dos EUA a Kiev, no valor de US$ 700 milhões (ou R$ 3,3 bilhões), inclui ainda mil mísseis portáteis Javelin, 50 unidades de comando de lançamento, 6 mil armamentos antiblindagem, quatro helicópteros Mi-17, dois radares de vigilância aérea, cinco radares anti-artilharia e 15 mil peças de artilharia de 155mm.

A Ucrânia tinha solicitado foguetes de médio e longo alcances e, após o anúncio de Washington, prometeu que os armamentos não serão usados contra alvos em território russo. Peskov avisou que "tais suprimentos não contribuem com a vontade da liderança ucraniana em retomar as negociações de paz".

O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, avalia que a "assistência militar dos EUA fortalecerá a posição da Ucrânia para defender a própria soberania e a integridade territorial, garantir vitórias no campo de batalha, e fortalecer a posição da Ucrânia na mesa de diálogo". "O Kremlin conseguiu apenas devastar comunidades, brutalizar civis, interromper a produção agrícola ucraniana e ameaçar a segurança alimentar global, ao bloquear portos da Ucrânia", acrescentou Blinken.

"Insignificante"

Conselheiro sênior do Programa de Segurança Internacional do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, em Washington), Mark F. Cancian explicou ao Correio que não vê motivos para que o fornecimento dos HIMARS aumente a tensão ou contribua com o espalhamento do conflito. "Apesar do alcance estendido de 80km ser importante do ponto de vista tático, ele se mostra insignificante, quando se considera o tamanho da Ucrânia ou a distãncia em relação a outros países. Moscou tem utilizado um sistema de foguetes equivalente, o Smersh. Por isso, não é razoável afirmar que uma capacidade militar ucraniana similar à russa levaria a uma escalada."

Para o major John Spencer, diretor de Estudos sobre Guerra Urbana do Madison Policy Forum (em Nova York) e um dos maiores especialistas em guerrilha urbana, a retórica de Moscou não tem fundamento na ordem internacional. "A Rússia invadiu, ilegalmente, a Ucrânia e tem usado crimes de guerra como metódo. As novas armas não representam uma escalada, mas fornecem aos ucranianos ferramentas de defesa. O presidente Vladimir Putin pode interromper o ataque a qualquer momento e retirar todos os soldados da Ucrânia", disse à reportagem.

Baixas

Em entrevista ao grupo de notícias norte-americano Newsmax, Zelensky anunciou que entre 60 e 100 soldados ucranianos morrem todos os dias no campo de batalha, enquanto 500 são feridos em combate. "A situação no leste é muito difícil", admitiu. O alto nível de perdas ocorre quando as tropas ucranianas tentam bloquear uma poderosa concentração de forças russas que buscam tomar o território de Luhansk, na região do Donbass, no extremo leste do país. As tropas de Moscou controlam 80% da cidade-chave de Severodonetsk, também em Luhansk.

Eu acho...

Crédito: Arquivo Pessoal. Mark F. Cancian, analista do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS) e coronel da reserva do corpo de fuzileiros navais dos EUA
Crédito: Arquivo Pessoal. Mark F. Cancian, analista do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS) e coronel da reserva do corpo de fuzileiros navais dos EUA (foto: Arquivo Pessoal)

"Os Estados Unidos foram cuidadosos ao não cruzarem as 'linhas vermelhas' russas. Uma delas é a presença de tropas da Otan em território ucraniano. Outra é a ocorrência de um ataque ao território russo, especialmente quando facilitado pelos EUA e pela Otan. Ao longo do tempo, Washington temmostrado disposição emcorrer mais riscos ao prestar ajuda à Ucrânia.Isso porque está cada vez mais clara a limitada capacidade russa de contra-atacar."

Mark F. Cancian, conselheiro sênior do Programa de Segurança Internacional do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, em Washington)

"Se os países vizinhos, a Europa e o Ocidente não ajudarem a Ucrânia neste momento, fornecendo-lhe as armas que precisa, a Rússia perturbará a ordem global e desencadeará uma era de muito mais instabilidade no mundo. Acho que todas as ações dos EUA e de 40 países que apoiam a Ucrânia têm sido calculadas. Peso até que elas têm sido calculadas demais, mas, claramente, essas nações tomam decisões depois e muitas deliberações e considerações."

Major John Spencer, diretor de Estudos de Guerra Urbana do Madison Policy Forum e um dos maiores especialistas em guerrilha urbana

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